Na trilha do café: aroma, resistência e futuro em cada xícara
De roças familiares a experiências turísticas, o café mato-grossense ganha protagonismo e revela um Brasil que se redescobre no campo
23/05/2025 às 08:20 Atualização
23/05/2025 às 08:21
No silêncio acolhedor de uma livraria em Alta Floresta, o aroma do café se mistura ao cheiro de papel novo. Os clientes, entre uma página e outra, degustam a bebida mais consumida do Brasil, sem imaginar que cada xícara carrega muito mais que sabor, carrega também histórias de resistência, inovação e futuro.
Neste 24 de maio, em que se celebra o Dia Nacional do Café, Mato Grosso se destaca entre os 10 maiores produtores de café do Brasil, com uma estimativa de 270,9 mil sacas para a safra 2024/25. Um feito notável para um estado que, até então, era mais associado às monoculturas de soja e milho.
Para se ter ideia, somente em Alta Floresta a colheita celebrou em 2024 mais de 90 mil quilos de café, fruto direto de investimentos em tecnologia, assistência técnica e da coragem de quem insiste em plantar sonhos mesmo em terrenos antes improváveis. Essa conquista faz parte de um avanço mais amplo, onde posiciona Mato Grosso como um grande produtor cafeeiro.
O setor que vai para além da produção, desenvolve outros segmentos, como a comercialização do produto e desenvolve o setor gastronômico, seja por meio de locais como cafeterias, ou por experiências turísticas com o turismo rural. E assim, aos poucos, o café mato-grossense ganha protagonismo não só em volume, mas em qualidade, autenticidade e práticas sustentáveis. O café tem se mostrado uma poderosa ferramenta de desenvolvimento social e econômico. Ao integrar produção agrícola com cultura, turismo e consumo consciente, ele ajuda a construir pontes entre regiões, entre pessoas, entre saberes.
A diretora-superintendente do Sebrae/MT (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de Mato Grosso), Lélia Brun, destaca que a instituição atua no fortalecimento do setor com ações estratégicas que promovem o desenvolvimento tanto da cadeia produtiva, voltado aos pequenos produtores rurais, quanto no fomento às vendas, pelo setor varejista ou gastronômico. Somente no segmento de cafeterias, a instituição ressalta um aumento de 9100 empresas para quase 9500, sendo que quase 100% são pequenos negócios.
“O Sebrae Mato Grosso entende a importância do setor cafeeiro para o desenvolvimento local e para a economia do estado. Para se ter ideia, somente o segmento de cafeterias aumentou mais de quatro por cento nestes últimos meses, neste ano foram mais de 300 novos negócios [de cafeterias e lanchonetes que trabalham com comercialização de café], abertos no estado e a maioria destas cafeterias são pequenos negócios. A principal atuação do Sebrae é voltada a fortalecer este segmento e ajudar a tornar os pequenos negócios mais competitivos e sustentáveis”, disse Lélia Brun.
Da roça ao palco da FIT
Segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), nos últimos anos, tem crescido o interesse do brasileiro pelo café produzido no país, com o sabor e a história de seu próprio território. O avanço se dá principalmente entre os pequenos produtores, que apostam em nichos, no cultivo agroecológico e na valorização das origens.

Entre as vozes que conduzem essa mudança está a do casal Osvaldo e Ana Rossi, da Associação Comunitária Rural Sol Nascente (ACRSN). Em 2024, eles participaram da FIT Pantanal, em Cuiabá, no stand de Alta Floresta em um espaço harmonioso, com a combinação entre o aroma e o sabor, carregado de verdade. Levaram à feira o café colhido pelos produtores associados do Café Congens, e ali, diante de desconhecidos, contaram sua história — xícara por xícara.
“Foi emocionante ver as pessoas elogiando nosso café. Durante o dia, recebíamos visitas no espaço da FIT para degustação, e à noite, na Feira Estadual da Agricultura Familiar e Turismo Rural de Mato Grosso, vendíamos o produto. Foi como abrir as portas da nossa história”, conta Osvaldo, com orgulho.
O sucesso foi tanto que, em 2025, o casal já prepara uma nova participação, com mais grãos selecionados e ideias renovadas. Esta ano a Associação investiu em equipamento completo onde todo o processo de descascar, torrar, moer e embalar o café é realizado de forma automática, resultando numa maior capacidade e agilidade.
Turismo que nasce do café
Outra experiência que traduz esse novo momento é a da Chácara Pedra do Índio, também em Alta Floresta. Sob os cuidados de Seu Adeildo Toninho, a propriedade oferece visitas guiadas entre abril e julho, em plena colheita, com direito a caminhada pelo cafezal, apresentação de técnicas agroecológicas, visita à estufa e ao biodigestor, onde o gás metano e fertilizante orgânico são produzidos.
Toninho também participou da FIT Pantanal em 2024, uma experiência que surpreendeu, “o nosso café foi bem classificado e elogiado na feira e isso é resultado de uma produção orgânica”, celebra. O passeio pela chácara termina sob as sombras de um buritizal, com café moído na hora e servido ao lado de quitutes produzidos ali mesmo.
FIT Pantanal: quando o turismo encontra a origem
A Feira Internacional do Turismo do Pantanal (FIT), que ocorrerá de 5 a 8 de junho de 2025 em Cuiabá, se consolida como um palco de visibilidade para a agricultura familiar e o turismo de vivência. Paralelamente, a Expofit, realizada no Pavilhão das Nações, reúne produtores, artesãos e comunidades em um ambiente vibrante de trocas, negócios e cultura.
Para o diretor Técnico do Sebrae/MT, André Luiz Schelini, o trabalho realizado pelo Sebrae em parceria com outras instituições tem sido essencial para capacitar produtores, abrir mercados e transformar pequenos negócios em grandes histórias. Ele ressalta que a FIT é uma vitrine estratégica para os empreendedores. “A FIT Pantanal não é apenas uma feira, é um palco de valorização do que temos de mais autêntico. Quando um produtor rural leva seu café para um evento como esse, ele está levando sua história, seu território e sua identidade. É assim que transformamos produtos locais em experiências culturais, gastronômicas e econômicas de alto impacto, a exemplo da parceria com a Seaf para promovermos o polo do café em Colniza”, diz.
Fonte: Sebrae