Imagine a Terra primordial: um mundo de marrons, cinzas e verdes suaves. Hoje, a Terra está repleta de um caleidoscópio de cores. Desde as deslumbrantes penas dos pavões machos até o desabrochar vívido das flores, a história de como a Terra se tornou colorida é uma história de evolução. Mas como e por que essa explosão de cores aconteceu? Pesquisas recentes estão nos dando pistas sobre essa parte da história da Terra.
A jornada rumo a um mundo colorido começou com a evolução da visão, que inicialmente se desenvolveu para distinguir o claro do escuro há mais de 600 milhões de anos. Essa capacidade provavelmente surgiu em organismos primitivos, como bactérias unicelulares, permitindo-lhes detectar mudanças em seu ambiente, como a direção da luz solar. Com o tempo, sistemas visuais mais sofisticados evoluíram e permitiram que os organismos percebessem um espectro mais amplo de luz.
Por exemplo, a visão tricromática – a capacidade de detectar três comprimentos de onda distintos, como vermelho, verde e azul – teve origem há aproximadamente 500 a 550 milhões de anos. Isso coincidiu com a “explosão cambriana” (cerca de 541 milhões de anos atrás), que marcou uma rápida diversificação da vida, incluindo o desenvolvimento de sistemas sensoriais avançados como a visão.
Os primeiros animais com visão tricromática foram os artrópodes (um grupo de invertebrados que inclui insetos, aranhas e crustáceos). A visão tricromática surgiu há 420-500 milhões de anos nos vertebrados. Essa adaptação ajudou os animais antigos a navegar em seus ambientes e detectar predadores ou presas de uma forma que a visão monocromática não conseguia.
Evidências fósseis de trilobitas, artrópodes marinhos extintos que vagavam pelos mares há mais de 500 milhões de anos, sugerem que eles tinham olhos compostos. Isso significa olhos com várias lentes pequenas, cada uma capturando uma fração do campo visual, que se combinam para formar uma imagem em mosaico. Esses olhos podiam detectar vários comprimentos de onda, proporcionando uma vantagem evolutiva em ambientes marinhos escuros, melhorando a visão do animal e sua capacidade de detecção de movimento.
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O palco estava armado: os organismos podiam ver um mundo colorido antes de se tornarem eles próprios coloridos.
A primeira explosão de cores evidentes veio das plantas. As primeiras plantas começaram a produzir frutos e flores coloridos, como vermelho, amarelo, laranja, azul e roxo, para atrair animais que ajudavam na dispersão de sementes e na polinização.
Modelos analíticos baseados na variedade das plantas atuais sugerem que os frutos coloridos, que surgiram há aproximadamente 300-377 milhões de anos, coevoluíram com animais dispersores de sementes, como os primeiros parentes dos mamíferos. As flores e seus polinizadores surgiram mais tarde, por volta de 140 a 250 milhões de anos atrás. Essas inovações marcaram um ponto de virada na paleta de cores da Terra.
O surgimento das plantas com flores (angiospermas) no período Cretáceo, há mais de 100 milhões de anos, trouxe uma explosão de cores, pois as flores desenvolveram tons mais brilhantes e vibrantes do que as sementes para atrair polinizadores como abelhas, borboletas e pássaros.
A coloração visível dos animais surgiu há menos de 140 milhões de anos. Antes, os animais eram, em sua maioria, marrons e cinzas suaves. Essa linha do tempo sugere que a evolução das cores não foi inevitável, mas sim moldada por fatores ecológicos e evolutivos, que poderiam ter levado a resultados diferentes em circunstâncias diferentes.
As cores vibrantes geralmente evoluíram como uma espécie de sinalização para atrair parceiros, deter predadores ou estabelecer domínio. A seleção sexual provavelmente desempenhou um papel importante na condução dessas mudanças.
Os dinossauros fornecem algumas das evidências mais marcantes da coloração animal primitiva. Os melanossomos fossilizados (estruturas celulares que contêm pigmentos, chamadas organelas) em dinossauros com penas, como o Anchiornis, revelam uma plumagem vermelha vívida.
Essas penas provavelmente serviam para fins de exibição, sinalizando aptidão para os parceiros ou intimidando os rivais. Da mesma forma, as escamas fossilizadas de uma cobra verde e preta de dez milhões de anos atrás sugerem o uso precoce da cor para sinalização ou camuflagem.
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A evolução das cores nem sempre é simples. Veja os sapos venenosos, por exemplo. Esses pequenos anfíbios exibem tons marcantes de azul, amarelo ou vermelho, não para atrair parceiros, mas para alertar os predadores sobre sua toxicidade, um fenômeno conhecido como aposematismo.
Mas alguns de seus parentes próximos, igualmente tóxicos, se misturam em seus ambientes. Então, por que desenvolver sinais de alerta brilhantes quando a camuflagem também poderia deter os predadores? A resposta está na comunidade local de predadores e no custo de produzir cores. Em regiões onde os predadores aprendem a associar cores vibrantes à toxicidade, a coloração conspícua é uma estratégia de sobrevivência eficaz. Em outros contextos, misturar-se ao cenário pode funcionar.
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Ao contrário de muitos mamíferos, que têm visão dicromática e enxergam menos cores, a maioria dos primatas, inclusive os humanos, tem visão tricromática, o que nos permite perceber uma gama mais ampla de tons, inclusive vermelhos. Isso provavelmente ajudou nossos ancestrais a localizar frutas nas florestas, e provavelmente desempenhou um papel na sinalização social. Vemos as flores de forma diferente dos polinizadores, como as abelhas, que podem detectar padrões ultravioleta invisíveis para nós, destacando como a cor é adaptada às necessidades ecológicas de uma espécie.
Um mundo ainda em transformação
A paleta de cores da Terra não é estática. As mudanças climáticas, a perda de habitat e a influência humana estão
alterando as pressões seletivas sobre a coloração, possivelmente remodelando a paisagem visual do futuro. Por exemplo, algumas espécies de peixes expostas a águas poluídas estão perdendo suas cores vibrantes, pois as toxinas interrompem a produção de pigmentos ou a comunicação visual.
Quando olhamos para o passado, a história das cores da Terra é uma história de transformação gradual pontuada por explosões de inovação. Desde os antigos mares onde os trilobitas viram o mundo colorido pela primeira vez até as deslumbrantes exibições de pássaros e flores modernos, a vida na Terra vem pintando sua tela há mais de meio bilhão de anos.
Qual será o próximo capítulo dessa história vibrante?
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Fonte: abril