Se tem algo que o Brasil sabe fazer bem, com certeza são as novelas. Há décadas o país investe nessas produções que entram diariamente na casa dos brasileiros com , vingança e . Mas você sabe qual foi a primeira novela diária transmitida no país? O AdoroCinema tem a resposta!
Exibida em julho de 1963 na extinta TV Excelsior (1960-1970), obra contava com um elenco renomado e um romance curioso, adaptado por a partir de uma radionovela argentina. A princípio, a trama ia ao ar em dias alternados, mas migrou para o formato diário para fidelizar o público. A estratégia funcionou tão bem que segue sendo usada até hoje.
No entanto, isso não significa que a produção tenha sido perfeita. Pelo contrário: ela desagradou até algumas de suas estrelas e ainda gerou uma situação inusitada envolvendo um telespectador, tudo por causa do título um tanto quanto curioso.
Casal icônico e críticas sem fim
A novela em questão é 2-5499 Ocupado, que contava a história de Larry (), um advogado, e Emily (), uma detenta que trabalhava como telefonista no presídio. Certo dia, após ligar para o escritório dele por engano, os dois conversam e se apaixonam apenas por suas vozes. O detalhe é que Larry não sabia que Emily estava presa.
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No início, o folhetim era transmitido apenas às segundas, quartas e sextas. Depois, tornou-se uma atração diária, algo que poucos acreditavam que daria certo, já que exigia grandes esforços e uma logística mais complexa diante da precariedade das instalações. Quando terminou, dominava 30% do Ibope, o que era considerado um grande sucesso para a época.
A trama pode parecer ousada e cativante, mas rendeu uma enxurrada de críticas, inclusive do próprios protagonistas. “O texto da novela era um horror, uma apelação só! Muito antigo, muito água com açúcar. A história de um advogado que se apaixonava pela voz de uma detenta, que trabalha como telefonista num presídio. Uma coisa maluca, que caiu no gosto do público”, disse Tarcísio Meira em entrevista ao jornal Extra, em 2012.
“É, o texto não era bom, mas demos o nosso melhor. Com a força da novela, os atores brasileiros ficaram mais valorizados. Até então, o que fazia sucesso aqui eram os filmes e seriados americanos”, complementou Glória Menezes.
José Bonifácio de Oliveira, o , que passou pela Excelsior antes de trabalhar na Globo, também não poupou comentários negativos em sua autobiografia O Livro do Boni.
“Em uma viagem à Argentina, o Edson [Leite (1923-1983), executivo da emissora] viu uma novela que fazia sucesso e resolveu comprá-la. Era a 2-5499 Ocupado, um texto péssimo e brega. […] O produto era ruim demais e fez sucesso nas costas do Tarcísio Meira e da Glória Menezes. Ainda bem que só estreou quando eu não estava mais lá. […] A primeira novela diária da televisão brasileira e uma das piores já exibidas por aqui”, afirmou.
As críticas não foram apenas pelo enredo, como também pelas condições de trabalho. “Fazíamos a novela no Teatro Cultura Artística (alugado pela Excelsior para as gravações). A gente esperava a TV fazer os programas e gravávamos à noite inteira, até de manhã. Tínhamos de esperar a montagem e desmontagem dos cenários. Era muito desgastante“, revelou ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2013.
O legado de 2-5499 Ocupado
Apesar de ter apenas 42 capítulos, com cerca de 20 minutos cada, o formato diário entrou para a história. Por ser uma aposta arriscada, contava com cenas gravadas em apenas dois cenários e com um elenco enxuto interpretando 12 personagens. Segundo Tarcísio, “era uma novela curta para que se tentasse fazer alguma coisa e se visse a reação do público”.
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2-5499 Ocupado não ficou marcada apenas como a primeira novela diária da TV brasileira, mas também como a primeira a reunir um dos casais mais queridos do entretenimento: Tarcísio Meira e Glória Menezes, que haviam se casado no ano anterior à produção.
Uma curiosidade é que o folhetim foi motivo de dor de cabeça para um morador do Sul, que precisou mudar seu número de telefone por ser o mesmo do título da novela. 2-5499, aliás, era o número que conectava o casal central da trama.
No fim, apesar das críticas e qualidade duvidosa, o folhetim tornou-se um capítulo importante da história da nossa teledramaturgia. “Além do par romântico, estabeleceu a estrutura narrativa dos ganchos no final de cada capítulo, como já se fazia em Cuba e na Argentina”, afirmou o doutor em teledramaturgia pela pela USP Mauro Alencar ao Estadão.
Em 1999, 2-5499 Ocupado ganhou um remake chamado Louca Paixão, exibido pela Record TV e protagonizado por e .
Fonte: adorocinema






