Parlamentares da CPMI do INSS interrogaram o advogado Nelson Wilians sobre movimentações financeiras milionárias que podem ter ligação com descontos ilegais nas folhas de pagamento de aposentados. Eles também levantaram a hipótese do advogado ter obtido ajuda do ex-ministro e dirigente histórico do PT, José Dirceu, para obter um contrato com o Banco do Brasil. Wilians negou envolvimento com o escândalo do INSS e usou da prerrogativa de permanecer calado diante da maioria das perguntas dos parlamentares.
Nelson Wilians é sócio de um dos maiores escritórios de advocacia do Brasil e é conhecido por ostentar carros, jato e relógios caros nas redes sociais. A Polícia Federal pediu sua prisão preventiva na semana passada, mas a solicitação foi negada pelo Supremo Tribunal Federal.
Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontaram operações atípicas de cerca de R$ 4,3 bilhões entre 2019 e 2024 em contas do escritório de Wilians. Parte dos valores está ligada a empresas e indivíduos já presos no esquema, como Maurício Camisotti e Antônio Carlos Camilo Antunes, lobista conhecido como “Careca do INSS”.
Os parlamentares questionaram transações da ordem de R$ 28 milhões entre Wilians e Camisotti que estariam relacionados ao escândalo do INSS segundo apurações da PF. Além disso, o advogado foi questionado sobre a compra de um terreno de Camisotti por R$ 22 milhões. Ele preferiu não responder as perguntas e afirmar repetidas vezes: “não tenho nada a ver com o objeto desta CPMI”.
“Não possuo relação com os fatos investigados por essa Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI). Jamais em hipótese alguma, me envolveria em algo tão sórdido. Não tenho participação na fraude do INSS”, disse Nelson em sua fala de abertura. O advogado também negou que conhece o “Careca do INSS”, mas confirmou que conhece Camisotti, alegando que sua relação com o empresário seria “profissional” e de “amizade”.
O benefício de permanecer em silêncio foi concedido pelo ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira (16), após o advogado impetrar um habeas corpus pedindo o direito ao silêncio durante seu interrogatório. A decisão também o exime de prestar o compromisso de dizer a verdade, mas não o exime de comparecer à comissão.
Relator questionou relação do advogado com José Dirceu
O relator da CPMI, Alberto Gaspar (União-AL), interrogou Wilians sobre suas relações com José Dirceu e levantou a hipótese de que o político petista o tenha ajudado a conseguir um contrato para prestar serviços de advocacia para o Banco do Brasil há aproximadamente dez anos. Porém, não apresentou provas de suas afirmações.
Wilians não respondeu à pergunta e reafirmou não ter ligação com o escândalo do INSS. A reportagem tentou entrar em contato com a assessoria de Dirceu para indagar sobre a citação de seu nome, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
O deputado Marcel Van Hattem disse que há uma vontade do advogado de se calar sobre suas relações políticas e que o questionamento sobre Dirceu foi o que fez Wilians parar de responder e fazer uso de seu direito ao silêncio.
“Quando veio esta pergunta por parte do relator, foi que o Nelson Wilians, advogado, empresário, decidiu não responder mais assertivamente, como ele vinha fazendo antes. Então, tudo isso levanta suspeitas”.
Dois titulares da CPMI que pediram para não ter os nomes revelados afirmaram que por enquanto os contratos de empresas de Willians com o Banco do Brasil não são objetos da investigação e é prematuro pensar em convocação de Dirceu para depor na comissão.
O deputado Van Hattem afirmou que outra suspeita contra o advogado Nelson Wilians é a suposta ligação de uma de suas empresas com ocultação de recursos por meio da posse de 23 veículos de luxo.
Segundo o parlamentar, uma empresa que é dona de 20% das participações na NW Group, de Wilians, teria comprado os veículos e o escondido no estacionamento de um shopping como parte de um esquema de lavar dinheiro desviado de contas de aposentados.
Willians também foi questionado pelo relator alberto Gaspar de ser o sócio oculto de uma das associações investigadas por recebimento de recursos descontados ilegalmente da folha de pagamentos de aposentados. Ele não respondeu ao questionamento.
Fonte: gazetadopovo