Viver com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), causador da Aids, já não é mais um bicho de sete cabeças. Isso porque a medicina evoluiu e hoje é capaz de controlar a infecção. No entanto, além de lidar com o impacto do diagnóstico e com o tratamento, o preconceito ainda afeta diretamente a vida de cerca de 1,4 milhão de pessoas que vivem com HIV no país, segundo o Ministério da Saúde.
Nesta segunda-feira, dia 1º de dezembro, é celebrado o dia mundial de combate à Aids, data que visa promover o combate ao preconceito e a discriminação, e reforçar a solidariedade com as pessoas vivendo com o vírus. No Brasil, essa mobilização é conhecida como Dezembro Vermelho.
Um levantamento do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV/Aids, realizado em capitais brasileiras, mostra que mais de 64% dos entrevistados já sofreram algum tipo de discriminação. Os relatos vão desde isolamento social e comentários ofensivos até perda de emprego e agressões físicas, situações que, segundo especialistas, têm impacto direto na saúde mental e no bem-estar emocional.
Saúde mental sob pressão
A psicóloga clínica Camiéle Benedita explica que, além do diagnóstico, o preconceito diário é um dos fatores que mais abala pessoas que vivem com HIV.
“Os transtornos mais comuns são ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e baixa autoestima. O estigma faz com que muitos internalizem a ideia de que são culpados ou ‘sujos’, o que afeta profundamente a autoimagem e pode levar ao isolamento”, afirma.
Ela destaca que a rotina de consultas médicas, o receio do julgamento social e o medo de revelar o diagnóstico colocam muitos pacientes em estado constante de alerta. Esse cenário aumenta inclusive o risco de “ideação suicida”, especialmente quando a pessoa deixa de ter redes de apoio.
“O isolamento social é uma das consequências mais cruéis do preconceito. Ele não apenas distancia do convívio, mas mina a autoestima e a vontade de viver”, reforça a psicóloga.
Acolhimento é proteção
Camiéle defende que o caminho mais seguro para enfrentar essas crises envolve psicoterapia, grupos de apoio, acompanhamento multiprofissional e integração entre os serviços de saúde mental e infectologia.
“A terapia não cura o HIV, mas trata a ferida invisível que o preconceito deixa. Isso muda a forma como a pessoa se vê, se cuida e se relaciona com o mundo”, diz.
Tratamento garante qualidade de vida
Os avanços científicos comprovam que viver com HIV hoje é compatível com uma rotina saudável e plena. A Terapia Antirretroviral (TARV) impede a multiplicação do vírus no organismo e permite que a pessoa atinja a condição de indetectável, não transmitindo o HIV em relações sexuais. No Brasil, todo o tratamento é 100% gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Prevenção também exige informação
Além do tratamento, o país disponibiliza estratégias de prevenção, como PrEP (antes da exposição) e PEP (após exposição), que reduzem significativamente o risco de transmissão. Especialistas reforçam que combater o preconceito é tão importante quanto garantir acesso aos medicamentos.
Direitos
As pessoas que vivem com HIV têm garantidos, pela Constituição, direitos fundamentais como dignidade humana, acesso integral à saúde e proteção contra discriminação. A Declaração dos Direitos da Pessoa com HIV, criada em 1989, reforça princípios como o direito à informação clara sobre o diagnóstico, ao tratamento gratuito pelo SUS e ao sigilo absoluto sobre a condição sorológica. Também assegura que ninguém pode ser afastado de atividades sociais, escolares ou profissionais apenas por viver com HIV.
No campo trabalhista e previdenciário, a legislação brasileira garante benefícios essenciais. Pessoas vivendo com HIV têm direito ao auxílio-doença e à aposentadoria por invalidez sem necessidade de cumprir carência, desde que mantida a qualidade de segurado.
A testagem compulsória em processos de emprego é proibida, e o sigilo laboral deve ser preservado. Há ainda o direito à isenção de Imposto de Renda e, em casos de vulnerabilidade social, ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). Esses dispositivos visam proteger a cidadania e reduzir o impacto do estigma.
Fonte: primeirapagina






