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Comissário da OEA critica decisão do Brasil em sair de aliança sobre Holocausto

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O comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo, Fernando Lottenberg, criticou a decisão do governo brasileiro de retirar o país da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA). O Brasil atuava como membro observador desde 2021, quando ingressou na organização durante o governo Jair Bolsonaro.

O anúncio da retirada foi feito pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel na quinta-feira, 24, sem que o governo brasileiro tenha comunicado oficialmente a decisão. Segundo diplomatas israelenses, a medida já havia sido informada à Embaixada de Israel em Brasília.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel reagiu com fortes críticas. Em nota oficial publicada nas redes sociais, afirmou: “A decisão do Brasil de se juntar à ofensiva jurídica contra Israel na CIJ, ao mesmo tempo em que se retira da IHRA, é uma demonstração de uma profunda falha moral”.

Ainda segundo a chancelaria israelense, “numa época em que Israel luta por sua própria existência, voltar-se contra o Estado judeu e abandonar o consenso global contra o antissemitismo é imprudente e vergonhoso”.

A saída do Brasil da IHRA ocorre em meio a uma escalada nas tensões diplomáticas entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Benjamin Netanyahu. Desde que Lula reassumiu a Presidência, em 2023, a relação entre os dois países tem se deteriorado.

Israel acusa o governo brasileiro de demonstrar apoio ao Hamas, enquanto Lula tem criticado de forma reiterada as ações militares de Israel na Faixa de Gaza. Em fevereiro de 2024, Lula comparou os ataques israelenses em Gaza ao Holocausto, o que levou o governo de Israel a declará-lo persona non grata.

Lula comparou a reação israelense contra os terroristas do Hamas ao Holocausto, o maior genocídio da história, que vitimou 6 milhões de judeus | Foto: Reprodução/YouTube/Lula
Lula Comparou A Reação Israelense Contra Os Terroristas Do Hamas Ao Holocausto, O Maior Genocídio Da História, Que Vitimou 6 Milhões De Judeus | Foto: Reprodução/Youtube/Lula

Como resposta, o governo brasileiro retirou seu embaixador de Tel-Aviv e reduziu o nível da representação diplomática. Outro impasse envolve a aprovação do novo embaixador israelense no Brasil: o nome de Gali Dagan, indicado para o posto em Brasília, ainda não foi homologado pelo governo brasileiro.

O distanciamento diplomático se acentuou na última quarta-feira, 23, com o anúncio da adesão oficial do Brasil à ação judicial movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça, sob a acusação de genocídio contra palestinos em Gaza. O Ministério das Relações Exteriores de Israel vinculou esse posicionamento à decisão brasileira de se retirar da IHRA.

IHRA coordena esforços internacionais para manter viva a memória do Holocausto

A IHRA foi criada na década de 1990 e tem como missão central preservar a memória do Holocausto e combater o antissemitismo. A organização conta com a participação de mais de 45 países e cerca de 2 mil instituições em todo o mundo. A definição de antissemitismo adotada pelo órgão é utilizada como referência internacional para identificar manifestações de ódio contra judeus.

Lottenberg ressaltou que o Brasil tem “a segunda maior da América Latina” e que participar da IHRA “é uma forma de mostrar comprometimento com a cultura de paz e com a promoção da educação sobre o Holocausto e o combate ao antissemitismo”. Ele classificou a decisão do governo como “um equívoco”.

O comissário explicou que, embora o Brasil não tenha adotado formalmente a definição da IHRA, “ela acontece por Estados no país, com 12 adesões até o momento, além das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo”.

Ele também separou a atuação da IHRA de conflitos políticos. “É possível criticar as atitudes e a condução do governo israelense no conflito em Gaza, assim como pode haver discordâncias diplomáticas. Esses fatos, contudo, em nada têm relação com o trabalho da IHRA, de grande relevância.”

Segundo o comissário da OEA, “um dos pilares da IHRA é, justamente, , um balizador para que governos, autoridades e a sociedade compreendam e identifiquem casos de antissemitismo, o que é o primeiro passo para combatê-lo”.

Lottenberg encerrou com um alerta: “Especialmente num momento de crescimento de casos de ódio, como vem sendo registrado no Brasil, há que se ter muito cuidado para que gestos que nada se relacionam com a tensão diplomática afetem a segurança de uma imensa comunidade judaica que vive no país”, afima. “Trata-se de um gesto na direção errada.”

Fonte: revistaoeste

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