Para quem se preocupa com um estilo de vida saudável, mas nem sempre consegue ter um regime alimentar balanceado, prover a ingestão diária recomendada de vitaminas e minerais com uma pílula pode ser uma boa estratégia.
Para atender a esse tipo de demanda, os multivitamínicos surgiram como uma espécie de garantia dietética ou nutricional. Projetados para complementar a dieta de pessoas saudáveis, eles são classificados como suplementos [complementos] alimentares.
Esses suplementos não são medicamentos, ou seja, eles não tratam, previnem ou curam doenças, mas a maioria das pessoas faz uso deles com esse objetivo, sem saber exatamente se alcançará os resultados que busca.
Em 59% dos lares brasileiros, ao menos uma pessoa usa suplementos ou multivitamínicos; 90% dos consumidores buscam complementar a dieta, 85% visam saúde e bem-estar. Dados da Abiad.
Entre jovens universitários, cerca de 30% faz uso de suplementos junto a alguma atividade física.
Nos EUA, mulheres são mais propensas ao consumo do que os homens em todas as idades.
Essas pessoas têm mais anos de estudo e renda, estilo de vida e dieta saudáveis, assim como IMC (índice de massa corporal) menores. Povos originários, afrodescendentes e fumantes são os grupos com menor consumo de multivitamínicos. Dados dos EUA.
Multivitamínicos x suplementos
De acordo com a Anvisa, suplementos alimentares são produtos para ingestão oral, apresentado em formas farmacêuticas e destinados a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos, isolados ou combinados.
A legislação brasileira não utiliza o termo multivitamínicos e, portanto, muitas vezes eles são referidos como polivitamínicos, poliminerais ou simplesmente vitaminas. Independente de sua nomenclatura, eles são considerados suplementos alimentares.
Os efeitos no seu corpo
O uso desses suplementos diariamente pode ser útil para aumentar o consumo de nutrientes, especialmente quando sua dieta não esteja suprindo suas necessidades.
De modo geral, os produtos que estão de acordo com a regulamentação da Anvisa atendem aos limites da IDR (Ingestão Diária Recomendada) [medida de consumo idealizada para garantir a boa saúde da população em geral] de cada nutriente/mineral, e são tidos como seguros.
Apesar disso, antes de começar a usá-los é preciso considerar alguns fatores individuais, como o estado geral de saúde, idade, além do uso de determinados medicamentos.
O consumo indiscriminado, sem o devido cuidado e a importante orientação de um profissional da área da saúde pode ter como resultado as seguintes situações:
Quando você exagera, eles sobram
Tal situação está associada à busca por resultados extraordinários e de forma rápida, o que faz que as pessoas aumentem as doses por conta própria sem pensar nas consequências e ainda deixem de tomar medidas preventivas de doenças por acreditarem que estão protegidas pelos suplementos.
Outra situação comum é o uso concomitante de uma substância isolada e de um multivitamínico que a contenha, aumentando a dose ingerida.
Consumidores de multivitamínicos tendem ao consumo excessivo de vitamina A, ferro, zinco e niacina (vitamina B 3) – cuja ingestão recomendada diária pode ser suprida por meio da alimentação.
Excessos de vitamina A durante a gravidez podem prejudicar a saúde do bebê; excesso de zinco já foi associado à deficiência de cobre, um elemento necessário para a formação do sangue e proteção neurológica, esclarecem os especialistas.
Pessoas com doenças hepáticas e renais podem sobrecarregar e até intoxicar esses órgãos devido ao acúmulo de vitaminas e minerais.
Quando o suplemento é a cafeína, que pode ser obtida por meio de variadas fontes (café, chás, chocolate), o uso combinado —mesmo que não intencional— poderá gerar sintomas como ansiedade, dores de cabeça, etc.
A creatina é outro exemplo: a sobrecarga também pode agravar problemas renais que, por vezes, a pessoa nem sabe que tem.
Espanta doenças, mas não é bem assim…
Entre os motivos que levam as pessoas a usarem suplementos e multivitamínicos é a crença de que eles são capazes de prevenir doenças como o câncer, enfermidades cardiovasculares, catarata, degeneração macular, doenças do pulmão, psiquiátricas e até mesmo o risco de morte precoce.
Até o momento, porém, os cientistas não puderam concluir que, de fato, esses benefícios existam. Uma das razões para isso é que o mercado oferece uma grande variedade de produtos, e seus ingredientes podem ser alterados pelo fabricante. Isso dificulta entender quais combinações de vitaminas e minerais afetam mais ou menos a nossa saúde.
Outra questão que atrapalha tais pesquisas é que, em geral, quem faz esse tipo de suplementação são pessoas que têm um estilo de vida saudável.
A maioria dos estudos hoje disponíveis e que buscaram entender a associação entre o uso de multivitamínicos e as doenças acima indicadas concluíram que eles têm pouco ou nenhum efeito em resultados de saúde. Os dados são do Instituto Nacional de Saúde (EUA).
Outra questão levantada pelos especialistas é que, mesmo havendo a necessidade de suplementação de alguma vitamina ou mineral, pode ser que ela esteja sendo feita de forma inadequada.
Por exemplo, pessoas que precisam de determinada quantidade de ferro podem estar suplementando menos do que deveriam e colocando em risco as funções corpo da qual esse mineral participa, ou mesmo agravando algum quadro de saúde.
Tenha em mente que quanto mais personalizada e supervisionada for a suplementação, maior é chance de alcançar os benefícios buscados.
Por dentro dos multivitamínicos
A composição permitida para os suplementos é definida pela Anvisa. Cada fabricante oferece sua própria combinação, mas a maioria possui três ou mais vitaminas, ou vitaminas e minerais, podendo ser combinados com outros componentes —que não substituem os alimentos, nem podem ser utilizados como dieta exclusiva.
Entre as vitaminas, em geral estão presentes a A, C, D, E e K, além das vitaminas do complexo B (tiamina, riboflavina, niacina, piridoxina).
Quanto aos minerais, destacam-se cálcio, magnésio, ferro, zinco, selênio bem como uma grande variedade de micronutrientes.
Colágeno, proteínas, leveduras e fibras são outros exemplos entre uma lista extensa de suplementos.
Quem (realmente) pode se beneficiar
De acordo com os especialistas consultados, as necessidades diárias de vitaminas e minerais devem ser supridas principalmente por meio de uma dieta equilibrada que garanta o consumo de alimentos in natura, como carnes, ovos, legumes, verduras, leguminosas, nozes, laticínios, etc.
Pessoas que devem seguir dietas restritivas (baixa em carboidratos, vegetarianos e veganos), podem ser beneficiadas pela suplementação.
Ela também pode ser útil no controle de doenças que atrapalham a absorção de nutrientes pelo sistema digestivo, assim como condições como abuso de substâncias e tumores nos quais é esperada a deficiência de diferentes nutrientes.
Em geral, antes da indicação, são realizados exames para identificar quais são as eventuais deficiências. Nesses casos, a suplementação atenderá às reais necessidades individuais.
Sob a orientação de profissionais da área da saúde, o uso de suplementos também pode beneficiar grupos populacionais específicos, cujas necessidades são diferentes da população em geral. Confira:
- Gestantes
- Recém-nascidos
- Adultos maduros (acima de 50 e 60 anos)
Atenção às interações
Antes de começar a usar suplementos é bom conferir se eles não interagem com algum tipo de medicamento, ou seja, eles podem alterar os efeitos esperados do remédio utilizado de modo contínuo. Um exemplo deles é a varfarina, medicamento utilizado para prevenir coágulos sanguíneos.
Caso você faça uso de alguma medicação de forma contínua, antes de iniciar o consumo de algum tipo de suplemento alimentar, converse com um profissional da saúde.
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Dar mais espaço para alimentos in natura na sua dieta diária já garante o consumo de nutrientes essenciais para a sua saúde.
Caso esteja pensando em usar multivitamínicos ou algum outro tipo de suplemento, o ideal é conversar antes com um profissional da saúde. Cada pessoa é única e possui diferentes necessidades. Além disso, esteja atento aos seguintes detalhes:
Aprenda a ler rótulos para escolher o que melhor atende às suas necessidades e objetivos.
Fique de olho em possíveis interações com medicamentos que você já utiliza.
Verifique se o produto contêm os nutrientes na quantidade que você precisa.
Entenda que em alguns produtos, minerais como cálcio e magnésio podem ter concentrações menores —e isso pode justificar um preço mais ou menos acessível.
Considere suas características pessoais. Muitos fabricantes possuem apresentações dirigidas a grupos específicos como mulheres, gestantes, idosos —e elas terão componentes mais adequados para cada uma dessas populações. Mas atenção, caso seu médico tenha indicado suplementação específica, evite acrescentar multivitamínicos sem que ele saiba.
Desconfie de produtos que prometam resultados milagrosos em tempo não compatível com a realidade, principalmente os comercializados ou importados por meios não oficiais.
Fontes: Flavia Auler, nutricionista, especialista em nutrição clínica e terapia nutricional, mestre em alimentos e nutrição, doutora em ciências da saúde e coordenadora do curso de nutrição da PUC-PR; Priscila Dejuste, coordenadora do Grupo Técnico de Trabalho de Suplementos Alimentares do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo); Tadeu Gonçalves de Lima, médico clínico geral do HUWC-UFC (Hospital Universitário Walter Cantídio, do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), mestre em farmacologia e professor do curso de medicina da Unifor (Universidade de Fortaleza). Revisão técnica: Daniela Caroline de Camargo Verissimo, farmacêutica, coordenadora do Departamento de Orientação Farmacêutica do CRF-SP.
Referências: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)/Ministério da Saúde; NIH (National Institute of Health); Abiad (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres).
Mazza et al. Uso de suplementos alimentares combinado com a prática de atividade física entre universitários do extremo sul do Brasil. Cadernos de Saúde coletiva. 2022. Disponível em
https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1384306 Acesso em 05.06.24.
Fonte: uol