A FDA (Food and Drug Administration), agência responsável pela supervisão de fármacos e alimentos nos EUA, anunciou, no dia 1 de março, que rótulos de iogurtes poderão dizer que o produto pode reduzir risco de diabetes tipo 2.
A mudança ocorreu após a Danone North America fazer uma petição pedindo o ajuste. Além do documento, a FDA analisou estudos e determinou que existe “alguma evidência” que suporta a relação entre o alimento e a redução do risco da doença. “Mas essa evidência é limitada”, alerta a agência.
“Conforme observado na petição, a associação se baseia no iogurte como alimento, e não em qualquer nutriente ou composto isolado, independentemente do teor de gordura ou açúcar”, diz o comunicado.
Segundo o endocrinologista Fadlo Fraige Filho, a influência do viés econômico na aprovação é evidente, uma vez que o pedido de alegação de saúde partiu de uma petição da Danone North America.
“Vincular um alimento à redução do risco de uma doença crônica como o diabetes tipo 2 demanda estudos clínicos de longo prazo e uma amostragem significativa. A aprovação traz um enorme impacto comercial”, ressalta Filho, que é doutor pela USP (Universidade de São Paulo), presidente da Anad (Associação Nacional de Assistência ao Diabético) e professor da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC.
O veredicto da FDA foi embasado em 28 estudos observacionais, nos quais os pesquisadores simplesmente interrogaram os participantes sobre seu consumo de iogurte e a ocorrência de diabetes. Justamente pela pouca robustez dos estudos, a agência exige que as alegações de saúde sejam redigidas de forma a não induzir os consumidores ao erro, e que outros critérios para a utilização da reivindicação sejam considerados, incluindo a declaração de que as evidências científicas são limitadas.
Agora, as marcas podem colocar as seguintes informações nos rótulos:
“Comer iogurte regularmente, pelo menos 2 xícaras (3 porções) por semana, pode reduzir o risco de diabetes tipo 2. A FDA concluiu que há informações limitadas que apoiam esta afirmação”.
“Comer iogurte regularmente, pelo menos 2 xícaras (3 porções) por semana, pode reduzir o risco de diabetes tipo 2, de acordo com evidências científicas limitadas.”
Para o endocrinologista Wellignton Santana da Silva Junior, professor da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e atua como diretor do Departamento de Diabetes da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), o contexto nutricional dos pacientes precisa ser levado em conta, já que nenhum alimento sozinho é capaz de prevenir uma doença.
É possível que, quem adote maior consumo de iogurte, opte também por comer menos açúcar refinado e alimentos ultraprocessados, sendo este último hábito o que justificaria a menor incidência de diabetes, e não o maior consumo de iogurte em si. Wellignton Santana da Silva Junior, endocrinologista
A relação entre diabetes tipo 2 e iogurte
Embora não seja possível afirmar que o consumo de iogurte previna o diabetes tipo 2, essa suposição é levantada com base em evidências preliminares que sugerem que uma microbiota diversificada pode ser responsável pela redução da inflamação, que, por sua vez, diminuiria o risco de diabetes, pois evita alterações no organismo.
Entretanto, segundo a nutricionista Ticiane Bovi, doutora em ciências médicas pela Unicamp e professora da Faculdade de Medicina da USP, é difícil determinar se são os probióticos presentes no iogurte isoladamente ou a combinação de nutrientes presentes no alimento, como cálcio, vitamina D e proteína, que oferecem esse benefício.
“Outra hipótese é o fato de o iogurte apresentar um perfil proteico interessante, que gera uma maior saciedade, o que resultaria em uma menor ingestão calórica. Além disso, seu baixo teor de carboidratos contribui para um menor pico de glicose após as refeições, o que é relevante no contexto da resistência à insulina”, comenta Bovi.
A pesquisadora menciona ainda que estudos prévios apontam para uma possível ação estimulante na produção de insulina pelo leite. Embora esses achados não se apliquem diretamente ao consumo de iogurte, eles acrescentam elementos que podem contribuir para os potenciais benefícios do iogurte na manutenção de um peso saudável e na prevenção de doenças metabólicas.
Qual o consumo indicado?
A maioria dos estudos sugere que duas a três porções de 100 a 120 gramas por semana podem trazer benefícios para a saúde metabólica. No entanto, o consumo regular e a inclusão do iogurte em uma dieta equilibrada são mais relevantes do que apenas considerar a quantidade. Além disso, é crucial que as pessoas entendam as distinções entre iogurte e bebida láctea, já que o primeiro é composto apenas de leite e fermento lácteo, enquanto o outro geralmente contém aditivos e açúcar.
No que diz respeito aos iogurtes enriquecidos com proteínas, que estão bastante em voga no Brasil, a nutricionista orienta que os consumidores examinem a composição nutricional, pois geralmente eles apresentam uma quantidade significativa de carboidratos, o que pode não ser ideal para pessoas com diabetes. Além disso, conforme observado pela pesquisadora, esses produtos são mais apropriados para pessoas que necessitam aumentar sua ingestão de proteínas, como idosos ou pacientes com dificuldades de mastigação.
Fonte: uol