Nos últimos dias, Gaby Amarantos foi um dos nomes mais citados nas redes sociais após seu relato com a perda de peso e frequência de enemas realizados, ao seguir alimentação biogênica. Foram menos 14 quilos de peso corporal, mas ela também falou sobre energia renovada, mais força, menos prostração.
A alimentação biogênica não é nova. Na verdade, é uma das primeiras formas de alimentação de uma sociedade. A alimentação biogênica leva em consideração duas principais regras: alimentos germinados (vivos) e energia viva advinda do grande consumo de hortaliças, grãos e legumes, não vendo apenas os macronutrientes como nós os conhecemos hoje —proteínas, carboidratos e gorduras.
O ser humano coletor, ou melhor, caçador-coletor, com relato de ocupação na Tanzânia há mais de 50 mil anos, é um dos povos com evidências de DNA mitocondrial mais antigo já testado em populações humanas. Eles ainda vivem nessa região, conhecidos como Hazda, e continuam um povo coletor, que forrageia, e não pratica qualquer tipo de agricultura ou armazenamento de alimentos. Come-se o que lhe é ofertado pela natureza onde passam, enquanto caminham pela savana, e comem sem o preparo que conhecemos hoje.
Basicamente, come-se vivo. E essa é uma das regras da alimentação biogênica: respeitar a oferta de vida que tal alimento nos é capaz de dar.
Já na germinação, vê-se a evolução de criação de vida, nasce uma planta através de uma semente. Então, com ela obtém-se melhores nutrientes e com maior biodisponibilidade.
Dá para perceber que essa alimentação é mais um estilo de vida do que uma dieta, e toda parte de enema (“xuca”, termo usado por Gaby) é uma estratégia usada a mais nessa terapia feita por ela, com acompanhamento médico, obviamente.
Quem lê minhas matérias deve, com total certeza, entender o quanto defendo uma alimentação sem modismos, e diversas vezes mostrei aqui pontos negativos e positivos desses comportamentos levados até o grande publico. Afinal haverá “copy”, uma forma de copiar (literalmente) aquilo que famosos ou influenciadores estão fazendo. Isso gera uma implicação na vida de milhares de pessoas. Há de se ter certa responsabilidade nisso, por parte de quem estimula o comportamento de copiar, ou melhor, fazer o que todo mundo está fazendo e deu certo.
A alimentação biogênica é de fato uma das melhores que a população mundial teria como padrão, afinal o quão maravilhoso deveria ser dar ao nosso corpo apenas alimentos limpos, recém colhidos, sem alterações genéticas, sem aditivos químicos, e ainda vivos. Como seria ótimo para nossa saúde poder consumir apenas aquilo que a natureza nos oferece em determinada época do ano, respeitando a sazonalidade. Seria sim maravilhoso tanto para nosso corpo como para a própria natureza.
Sobre os germinados, já falei aqui em algumas matérias sobre os benefícios. O grão consumido em etapa de germinação consegue oferecer uma quantidade muito maior de nutrientes mais biodisponíveis do que quando consumido cozido ou cru.
Essa biodisponibilidade dos nutrientes aumenta porque, na germinação, os processos enzimáticos diminuem, afinal ele precisa crescer, então para isso aumenta a produção de inibidores enzimáticos e libera os nutrientes, fortalecendo a planta e tornando-a viva.
Precisa fazer enema?
Outro detalhe sobre a declaração da Gaby foi o fato de ela ter realizados alguns enemas. vale ressaltar que nem sempre há benefícios com a realização dessa terapia, não são todos os indivíduos que obtêm benefícios com enema de café ou de água ou de ozônio.
Essa prática deve ser realizada sempre com supervisão de um profissional e a prescrição também deve estar embasada em alguma necessidade especial daquele paciente (terapia), e nunca como objetivo de perder peso com a eliminação de fezes, limpeza intestinal.
O enema de água é muito buscado para melhorar a eliminação momentânea de fezes em pacientes com constipação, assim como o ozônio retal está sendo muito indicado por clinicas para melhorar a eliminação de parasitas intestinais, diminuição de inflamações locais e algumas outras justificativas.
O enema de café é ainda um procedimento sem qualquer embasamento cientifico ou comprovações de grande porte na comunidade cientifica de que há benefícios para a saúde intestinal.
Todos os enemas podem alterar a composição da microbiota, ou seja, o equilíbrio entre micro-organismos comensais (benéficos) e patogênicos (maléficos) constituintes do ambiente intestinal, tanto intestino grosso como intestino delgado.
No caso de terapias como a da Gaby, que aliou o enema a uma alimentação totalmente anti-inflamatória, é natural —e é o esperado— que muitos processos inflamatórios do corpo que causam alterações bioquímicas, metabólicas e endócrinas reduzam e, com isso, haja perda de peso corporal e melhora significativa de muitos marcadores de qualidade de vida: melhora do sono, recuperação, energia física e mental, energia vital, regulação de ciclo circadiano (ritmo biológico natural), regulação do transito intestinal, melhora da absorção dos nutrientes ofertados, entre outros.
Mesmo sem saber, muitos indivíduos já estão inseridos em uma alimentação biogênica, com consumo de carnes ou não, como no veganismo ou crudivorismo. Tantos nomes para tentar explicar o que os profissionais da saúde defendem: coma limpo, coma bem, não coma processados, desintoxique e desinflame seu corpo, hidrate-se de forma efetiva.
Antes de mudar sua alimentação, fale com um nutricionista. Não realize enemas caseiros, procure uma equipe médica para avaliar a necessidade de qualquer terapia.
Fonte: uol