Já ouviu alguém reclamar que não gosta do inverno pois se sente triste? Ou então aquela pessoa que, nitidamente, muda o humor quando a semana está com o tempo fechado, chuvoso, meio “depressivo”?
Isso tem nome: o transtorno afetivo sazonal, como o próprio nome indica, é um transtorno afetivo que afeta o individuo conforme a sazonalidade. Ele também pode ser chamado de depressão sazonal de verão ou depressão sazonal de inverno.
É uma depressão, deve ser tratada e enfrentada como tal.
O paciente que possui transtorno afetivo sazonal tem como impactos na sua rotina e na sua saúde significantes mudanças que afetam tanto seu dia a dia no trabalho, como também no social, na família, nos seus interesses.
Por não ser muito bem compreendido, o transtorno acaba afetando o individuo de forma que não tem como fugir dos sintomas, e isso pode deixa-lo com a imagem de desinteresse, desleixo, perda de foco nas tarefas, atrapalhando sua performance no trabalho, por exemplo, ou na academia, com estudos e outras coisas mais rotineiras.
Ansiedade, tristeza, falta de interesse, irritabilidade, mudanças no sono e no comportamento alimentar, cansaço e fadiga generalizados, desinteresse por coisas das quais gosta são sintomas típicos que afetam o paciente que é impactado com a mudança de temperatura ou estação.
O individuo com essa depressão tem atitudes típicas, que alimentam o que lemos logo acima: não vai a academia, come mais, consome mais alimentos nos períodos noturnos ou quando em frente à televisão, dorme menos, tem mais sono durante o dia, causando distúrbios em seu ritmo biológico. Não obstante, ele ganha peso, ou perde peso dramaticamente, causando uma desnutrição naquele momento de vida, que se repetirá a cada ciclo.
Das principais causas, a mais importante a se levar em consideração é que é uma depressão e que pacientes com histórico possuem maior facilidade de serem acometidos por essa condição.
No inverno ou no outono, as temperaturas baixam, isso leva o individuo a frequentar menos os locais abertos e ao ar livre. Com menos exposição à luz solar, temos uma descompensação em um importante ritmo natural que rege a saúde humana e todos os seus sistemas: o ciclo circadiano.
A menor exposição ao sol baixa os níveis de vitamina D, reduz produção de melatonina pela glândula pineal (que é dependente da luz solar para o processo sono-vigilia) e também serotonina, ambas ligadas ao humor, ao sono, e consequentemente, ao nosso comportamento alimentar.
A primeira grande mudança no comportamento do paciente com esse transtorno é o modo como se alimenta, e essa alimentação afetará diretamente sua saúde, seja pelo ganho ou perda de peso, seja pela alteração em biomarcadores de inflamação, doenças crônicas.
Como agir?
Primeiro, leve em consideração que é um transtorno e deve ser tratado por um profissional. A procura por um psicólogo ou psiquiatra (principalmente quando há necessidade de medicação), é obrigatória.
Mas algumas atitudes serão importantíssimas nesse momento:
Exponha-se ao sol, nem que seja pela janela, de vidro aberto, quando tiver oportunidade.
Caminhe na rua sem óculos escuros.
Troque o horário da academia ou atividade física para um momento que você não precise “pensar duas vezes” antes de ir. Por exemplo, se você vai à academia após o trabalho, a possibilidade de você chegar em casa, sentar no sofá e pensar duas vezes antes de sair do conforto de casa para ir à academia é muito grande. Para que isso não afete seu hábito, troque de horário para um que você não tenha chances de usar isso como uma desculpa.
Faça listas das coisas importantes para você nesse momento, e coloque apenas uma ou duas regras obrigatórias a serem seguidas. Manter rotina é algo muito importante em qualquer tratamento de depressão, por isso, alivie na cobrança, mas estabeleça algumas regras que possam ser seguidas diariamente até que isso passe.
Converse com amigos e familiares sobre a situação, e estabeleça com eles que o melhor agrado para faze-lo feliz não é ganhar comidas, bebidas ou alimentos que vão piorar o seu caso.
Você já deve saber, mas vale sempre lembrar: evite açúcares, álcool, gorduras e alimentos ultraprocessados. Além de piorar o estado depressivo afetando diretamente sua saúde neurológica e comportamental, os efeitos sistêmicos de longo prazo são sempre os piores.
Estabeleça um alarme para dormir, e faça higiene do sono. Regular seu ritmo biológico requer rotina para dormir. Evite dormir tarde, desligue o celular 1h antes de ir para a cama e tente se deitar cedo.
Para evitar ataques noturnos à geladeira e aos armários, tenha chás calmantes, faça uma boa refeição até 3h antes de dormir, contendo fibras e proteínas, que dão saciedade e não oferecem picos de insulina no período noturno. Aposte em chás de camomila, mulungu, erva-cidreira, passiflora e melissa.
Por fim: durma de cortinas abertas. Despertar naturalmente com a luz solar, assim como dormir cedo e com horário, estabelecem uma regulação do ciclo circadiano e consequentemente melhoram os níveis de melatonina e serotonina.
Fonte: uol
Colunista: @chefcarlosmiranda