📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Muitos produtos químicos perigosos acabam nas roupas e cosméticos porque quase não há regulamentação sobre esses produtos. A menos que tomemos precauções, suas toxinas podem entrar em nosso corpo através da pele.
  • As roupas apertadas e justas (como gravatas ou calças) podem ser prejudiciais à saúde. Isso é melhor representado pelos sutiãs, uma invenção cultural recente que causa uma série de problemas. Pior ainda, o seu uso tem sido bastante associado ao câncer de mama.
  • Pacientes sensíveis costumam apresentar reações significativas a roupas apertadas ou tóxicas, o que cria uma oportunidade para entender melhor esse aspecto da saúde, muitas vezes negligenciado.

🩺Por A Midwestern Doctor

Há alguns anos, um amigo meu estava sentado em um avião ao lado de um executivo-chefe de uma grande empresa química americana, conhecida por poluir o meio ambiente e adoecer um grande número de americanos com seus produtos. Após estabelecer uma boa relação, meu amigo perguntou ao executivo qual era o conselho mais importante que ele poderia compartilhar. O executivo logo respondeu:

“Sempre lave as roupas novas antes de usá-las”.

Nunca esqueci essa história, e com o tempo, meus pacientes me ajudaram a perceber quantos produtos químicos perigosos acabam nas nossas roupas.

A toxicidade das roupas

Como a COVID-19 nos mostrou, a regulamentação de medicamentos farmacêuticos é bem falha, com incentivos financeiros que muitas vezes levam à aprovação e até à imposição de produtos perigosos e ineficazes. Porém, mesmo que a regulamentação médica seja falha, não é pior do que a indústria de roupas e cosméticos, a qual conta apenas com uma supervisão mínima sobre o que pode ser incluído nos cosméticos e quase nenhuma regra para as roupas.

No início, suspeitei que pudesse haver alguns problemas com as roupas, pois percebi que meu corpo não se sentia bem com roupas de poliéster (por exemplo, quando está quente e eu suo, parece que fibras plásticas estão entrando em minha pele).

Mais tarde, através de discussões com colegas e feedback de pacientes com bastante sensibilidade, estabelecemos o seguinte:

  • Para evitar reações, pacientes sensíveis devem lavar as roupas novas várias vezes e utilizar detergentes sem fragrância.
  • Reações a tecidos sintéticos são comuns.
  • Embora os tecidos orgânicos sejam uma opção, eles costumam ser necessários apenas quando há contato prolongado, como nos lençóis.
  • Muitos não conseguem tolerar etiquetas de roupas tocando sua pele.
  • Reações a roupas se assemelham a transtornos dos mastócitos,8 que são comuns em indivíduos sensíveis e podem estar relacionados a outras condições crônicas.

Ajuste das roupas

Ainda que os tecidos que você usa sejam importantes, acredito que o ajuste das suas roupas seja ainda mais crucial. Roupas ou acessórios apertados, como anéis, podem restringir a circulação, o que é problemático para quem tem doenças crônicas.

Pacientes sensíveis tendem a escolher roupas mais folgadas, o que pode ser devido à circulação de fluidos prejudicada, um problema comum em doenças complexas, que acredito estar relacionado ao potencial zeta comprometido e a vasos suscetíveis à compressão. Agora, vou focar em quatro áreas específicas.

Espartilhos

Algo que a maioria dos homens tem dificuldade em entender (quanto mais em se identificar) é a quantidade de pressão que a sociedade impõe às mulheres para que se adaptem a padrões específicos de aparência, que em grande parte existem para financiar a indústria da moda. Considere os espartilhos como um exemplo extremo:

Como você pode imaginar, usar isso não era muito bom para a saúde. No passado, os espartilhos eram usados para modelar o torso, muitas vezes causando problemas de saúde graves, como redução da capacidade pulmonar, deformidades nos órgãos e enfraquecimento dos músculos. O interessante é que um “espartilho de maternidade” foi criado na década de 1830, e permitia que mulheres grávidas permanecessem na moda (o que causava grandes danos tanto à quanto ao filho).

Apesar desses problemas, a pressão social para que as mulheres se ajustassem a padrões corporais específicos manteve os espartilhos na moda por séculos. Embora pareça absurdo que as pessoas fizessem isso, até hoje, vestígios dessa prática persistem, pois mulheres são incentivadas a comprimir suas cinturas, o que leva a hábitos respiratórios prejudiciais à saúde.

Versões modernas, como as “cintas modeladoras”, continuam populares,11 refletindo a influência contínua desses padrões de beleza ultrapassados.

Sutiãs

Na atualidade, os americanos gastam cerca de 20 bilhões de dólares por ano com sutiãs, o que é proeminente considerando que, até um século atrás (na década de 1910, para ser mais exato13), quase ninguém os usava (e hoje, entre 80% a 90% das mulheres usam).

Por sua vez, quase toda mulher assume que os sutiãs são algo que as mulheres sempre usaram e não têm consciência da imensa campanha de marketing que a indústria da moda fez para normalizar essa prática (que, na realidade, foi uma estratégia, pois não podiam mais vender espartilhos para as mulheres).

Como as mulheres nunca usaram sutiãs na maior parte da história humana, isso levanta uma pergunta simples. Será que há algum ponto negativo nessa prática?

• Dor: os sutiãs podem causar dor crônica nas costas, costelas, pescoço, ombros e seios, quase sempre associada à dificuldade para respirar. Muitas mulheres sentem alívio ao remover os sutiãs, mas continuam a usá-los em devido às expectativas sociais.

O mais interessante é que a maioria das mulheres reconhece isso (por exemplo, uma pesquisa com 3000 mulheres revelou que 46% delas gostam de poder tirar o sutiã no final do dia, enquanto outra pesquisa com 3000 mulheres descobriu que 52% delas o retiram dentro de 30 minutos após chegarem em casa16). Durante a pandemia, muitas mulheres afirmaram que pararam de usar sutiã assim que os lockdowns permitiram que trabalhassem de casa e, portanto, não “precisavam” mais dele.

• Formato dos seios: há um debate em andamento sobre se os sutiãs pioram o formato dos seios ao longo do tempo, podendo aumentar a flacidez. Embora as evidências sejam limitadas, alguns, como o ginecologista aqui,18 sugerem que não usar sutiã pode ser bom para a estética, desafiando a alegação de marketing de que os sutiãs mantêm a aparência jovem dos seios.

• Alergias a metais: estima-se que 17% das mulheres sejam alérgicas ao níquel, bastante utilizado nos arames dos sutiãs. Isso pode causar reações na pele, mas a indústria, querendo maximizar os lucros, tem sido lenta em oferecer opções sem níquel.

Observação: o níquel é encontrado em vários produtos, como botões, óculos e cintos, portanto, se surgirem sintomas de pele incomuns, ainda mais em uma área específica, uma alergia ao níquel deve ser considerada.

• Circulação prejudicada: os sutiãs comprimem os seios, podendo prejudicar a circulação e a drenagem linfática (pois a circulação linfática é muito sensível a obstruções causadas por pressão externa). Isso poderia explicar problemas como dores de cabeça, indigestão e um risco ainda maior de câncer de mama devido à estagnação linfática.

• Câncer de mama: o tópico mais controverso é a possível ligação entre os sutiãs e o câncer de mama. Embora grandes institutos de câncer neguem essa conexão, algumas fontes holísticas e até mesmo algumas correntes tradicionais21 defendem que a estagnação linfática, agravada pelos sutiãs, poderia contribuir para o desenvolvimento do câncer. Mesmo que não seja muito aceita, a possibilidade continua sendo um ponto de preocupação.

Por sua vez, há algumas evidências que apoiam a afirmação de que os sutiãs estão relacionados ao câncer de mama. Sendo específico:

• Um estudo de Harvard de 1991 com 9333 pessoas que concluiu que “Mulheres na pré-menopausa que não usavam sutiã tinham metade do risco de câncer de mama em comparação com as que usavam”.

• Um estudo de 1991 a 1993 com 5000 mulheres que concluiu:

◦3 em cada 4 mulheres que usavam sutiã 24 horas por dia tinham chance de desenvolver câncer de mama.

◦1 em cada 7 mulheres que usavam sutiã por mais de 12 horas, mas não para dormir, tinham chances de desenvolver câncer de mama.

◦Usar sutiã por menos de 12 horas por dia reduzia o risco de câncer de mama para 1 em cada 152 mulheres.

◦As chances de câncer de mama para mulheres que nunca ou raramente usavam sutiã eram de 1 em cada 168. 

Como referência, isso é de 4 a 8 vezes mais forte do que a associação entre o tabagismo e o câncer de pulmão, e é discutido com mais detalhes no livro “Dressed To Kill: The Link Between Breast Cancer and Bras”. Além disso:

  • Um estudo chinês de 2009 descobriu que não dormir de sutiã reduzia o risco de câncer de mama em 60%.
  • Um estudo brasileiro de 2016 com 304 mulheres descobriu que as que usavam sutiã com frequência tinham 2,27 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama.
  • Uma meta-análise detalhada de 2016, composta por 12 estudos, descobriu que usar sutiã durante o sono dobrava o risco de câncer de mama.

Aqui está minha opinião sobre os sutiãs:

  • Experimente ficar sem sutiã e veja como se sente. Se for melhor, reflita sobre o motivo de estar gastando dinheiro e se forçando a usar um.
  • Pretende ficar sem sutiã? Você pode disfarçar usando tecidos mais grossos ou mais soltos.
  • Necessidade de suporte: algumas mulheres, como as com seios grandes, podem precisar de sutiãs para ter suporte, mas não acredito que isso se aplique à maioria das mulheres.
  • Se você usar sutiã, certifique-se de que ele esteja bem ajustado, sem arame, e limite o tempo de uso — nunca use enquanto dorme.
  • Para as filhas, incentive-as a pular os sutiãs de treinamento, que foram promovidos pela indústria da moda como um rito de passagem.

Gravatas

Desde que eu era jovem, achava as gravatas estranhas, associando-as ao Mr. Snuffleupagus, da Vila Sésamo — como se tivesse uma tromba de elefante pendurada em você. Quando comecei a exercer, percebi que alguns pacientes pareciam desenvolver sintomas por apertarem demais as gravatas, o que restringia o fluxo sanguíneo. Quando perguntei por que, eles diziam que é difícil fazer uma gravata ficar bonita sem que ela esteja um pouco apertada. Também há alguns dados que apoiam minhas observações. Por exemplo:

  • Um estudo de 2003 descobriu que usar gravata aumentava a pressão intraocular nos olhos, levando os autores a suspeitarem que as gravatas também poderiam estar relacionadas ao glaucoma.
  • Um estudo de 2011 descobriu que as gravatas diminuíam a reatividade cerebrovascular (a capacidade dos vasos cerebrais de se dilatar ou contrair em resposta a desafios ou manobras), o que sugere que também prejudicavam o fluxo sanguíneo cerebral.

Observação: minha solução atual é recomendar o uso de uma gravata borboleta, pois ela não precisa ficar tão apertada.

Calças

Outra tendência de moda infeliz é o uso de calças apertadas, que costumam causar uma série de problemas de saúde. Alguns problemas comuns incluem:

• Circulação prejudicada: calças apertadas podem dificultar o fluxo sanguíneo ou linfático nas pernas, o que pode causar sensação de dormência, formigamento, ou fraqueza, em especial para pessoas com doenças crônicas.

• Vulvodínia e irritação: calças apertadas podem dobrar o risco de dor intensa na vulva e contribuir para desequilíbrios microbianos na vagina.

• Problemas testiculares: calças apertadas podem comprimir os testículos, o que pode reduzir a contagem de esperma ou até aumentar o risco de câncer testicular. Um estudo descobriu que calças apertadas aumentam em 2,5 vezes a probabilidade de os homens terem a qualidade do sêmen prejudicada. Uma pesquisa de 2012 com 2000 homens que usavam jeans justos descobriu que 50% deles sentiram desconforto na virilha, mais de 25% sofreram problemas na bexiga e 1 em cada 5 homens teve torção testicular.

• Compressão nervosa: calças apertadas podem comprimir o nervo cutâneo femoral lateral, causando dormência, formigamento e dor significativa na parte externa da coxa.

Confiando no seu corpo

Um dos maiores problemas que enfrentamos na vida é determinar como tomar decisões diante de informações incertas, até porque o financiamento do qual somos dependentes para gerar nosso conhecimento científico tende a ser tendencioso, favorecendo conclusões que geram , e não aquelas que promovem a saúde. Por outro lado, como destaquei neste artigo, há muitas coisas simples relacionadas a roupas que você poderia imaginar que já teriam sido bem estudadas, mas que na realidade nunca foram.

Por esse motivo, muitas vezes precisamos confiar em formas alternativas de conhecimento. Uma das maneiras mais confiáveis (mas também muito ignoradas) é ouvir nossos corpos. E isso é, de fato, o que me levou a formar o guarda-roupa que utilizo, e de maneira semelhante, motivou muitos dos pacientes com doenças crônicas que mencionei acima a fazerem o mesmo. Ao escrever este artigo, meu objetivo é incentivá-lo a escolher roupas com base no conforto, e não apenas na aparência.

Observação: isso também se aplica a muitas outras áreas, como a escolha da dieta mais saudável para o corpo. Por exemplo, comecei a evitar óleos vegetais assim que percebi que não me sentia bem ao consumi-los, e bem depois, descobri sobre todos os perigos que eles oferecem.

Infelizmente, a propaganda conseguiu nos convencer a não ouvir nossa intuição, para que continuemos a ser consumidores obedientes.

Por exemplo, já perdi a conta de quantas histórias comoventes de lesões por medicamentos ouvi, nas quais o paciente relatou ter sentido receio ao tomar o medicamento ou vacina, mas acabou concordando em seguir com o tratamento porque o médico o pressionou, e continuou com o uso, mesmo após experimentar efeitos colaterais graves (que o médico disse não serem importantes). Ao ficarem com sequelas irreversíveis, seu maior arrependimento foi não ter escutado seu corpo e sua intuição.

Conclusão

Estar atento ao ambiente em que estamos é importante porque afeta como nos sentimos e vivemos. O ar que respiramos, as roupas que vestimos e os produtos que usamos impactam nossa saúde de maneira direta.