Quando você pensa em um planeta com anéis, não pensa em Júpiter, Urano ou Netuno. Por mais que eles também tenham anéis planetários, eles são insubstanciais comparados ao de Saturno. O imenso adorno cósmico desse deus romano é formado majoritariamente por pedaços de gelo, com só 2% de poluição por material rochoso.
Durante a maior parte do século 20, astrônomos acreditavam que os anéis tinham se formado junto do planeta, há 4,6 bilhões de anos atrás. Mas havia um problema nessa hipótese: seria quase impossível que uma estrutura com composição tão pura surgisse no meio do caos da formação de planetas, quando havia um bocado de rocha flutuando a esmo ao redor do Sol.
Agora, um grupo de astrônomos liderados por Sascha Kempf, da Universidade do Colorado em Boulder, calculou a idade dos anéis usando um método inédito, e descobriu que eles são bem novinhos para padrões astronômicos: só 400 milhões de anos. Se você tem 30 anos de idade, é como se tivesse colocado um piercing quando tinha 27.
Para chegar nessa conclusão, eles analisaram a quantidade de poeira acumulada nos anéis. Partículas de sujeira espacial passeiam pelo Sistema Solar, se acumulando em corpos celestes. Assim como é possível dizer há quanto tempo você não limpa a casa pela altura do pó em uma prateleira, é possível determinar a idade das jóias do planeta pelo tanto que eles acumularam de sujeira desde sua formação.
“Chamamos de poeira tudo o que é maior do que alguns átomos e menor do que os corpos que são afetados pela gravidade, como rochas maiores”, conta Sascha Kempf à Super. No Sistema Solar, essas partículas são principalmente silicatos, que são compostos de silício e oxigênio; mas também é possível encontrar matéria orgânica primitiva. “No sistema de Saturno, a poeira é principalmente água congelada”, diz Kempf.
A equipe investigou 163 partículas de poeira encontradas ao redor de Saturno. Analisando a trajetória delas no momento do impacto com o coletor, eles conseguiram calcular sua massa. A partir desses e de outros dados – como a frequência dos impactos –, eles puderam inferir que os anéis provavelmente estão acumulando poeira há “apenas” algumas centenas de milhões de anos.
Quem varreu os anéis foi um aparelho chamado Cosmic Dust Analyzer (“analisador de poeira cósmica”, em português), instalado na missão Cassini, que estudou Saturno entre os anos de 2004 e 2017, gerando dados diversos sobre o planeta. Ou seja: a conclusão é o resultado de um trabalho de quase duas décadas. Seria mais fácil se os planetas postassem seus piercings novos nos stories.
Fonte: abril