📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Cerca de 1% das pessoas já nascem com hiperdontia, ou dentes a mais; onde 1 em cada 3 casos de hiperdontia pode resultar no crescimento de uma terceira dentição
  • Segundo os pesquisadores, os humanos já tiveram a capacidade de desenvolver uma terceira dentição, porém ela foi perdida com o tempo; existem evidências de que essa capacidade ainda pode existir
  • Os investigadores conseguiram desenvolver novos dentes em ratos, ao bloquear o gene USAG-1, responsável por limitar crescimento dentário nos mesmos, com um medicamento com anticorpos neutralizantes
  • A equipe está trabalhando para desenvolver um medicamento semelhante para humanos, na esperança de ser efetivo no tratamento contra anodontia em crianças de 2 a 6 anos
  • Os ensaios clínicos devem iniciar em julho de 2024, com o produto disponível para dentistas até 2030 caso tudo ocorra da maneira correta

🩺Por Dr. Mercola

A grande maioria das pessoas nascem com 20 dentes de leite e 32 dentes permanentes, que aparecem quando os de leite são perdidos. Porém, cerca de 1% das pessoas nascem com hiperdontia (dentes a mais na arcada), conhecidos como dentes supranumerários.

Pode haver um ou vários dentes extras, podendo ser tanto de leite, quanto permanentes. Segundo Katsu Takahashi, chefe do departamento de odontologia e cirurgia oral do Hospital Kitano do Instituto de Pesquisa Médica em Osaka, Japão, cerca de 1 em cada 3 casos de hiperdontia pode resultar no crescimento de uma terceira dentição.

Além do mais, Takahashi e seus colegas acreditam que essa capacidade de desenvolver uma terceira dentição esteve presente em todos os humanos, porém, foi perdida com o tempo. Há evidências de que essa capacidade de uma terceira dentição ainda pode existir.

Cientistas estão trabalhando em medicamento de crescimento dental

Os tubarões e alguns répteis possuem a capacidade de regeneração dentária, podendo acontecer em 2 semanas, por exemplo. É possível que os humanos também possam ter a capacidade de regeneração dentária? Takahashi e sua equipe possuem esse mesmo pensamento e estão trabalhando em um medicamento para que isso seja possível.

Em 2021, eles publicaram um estudo mostrando que uma proteína sintetizada pelo gene 1 associado à sensibilização uterina (gene USAG-1) conseguiu limitar o crescimento dentário em ratos. Ao bloquear o USAG-1 com um medicamento com anticorpos neutralizantes, os ratos conseguiram novos dentes. A equipe está trabalhando no desenvolvimento de um medicamento para humanos, na esperança de ser efetivo no tratamento contra anodontia em crianças de 2 a 6 anos.

Os ensaios clínicos devem iniciar em julho de 2024, com o produto disponível para dentistas até 2030 caso tudo ocorra da maneira correta. Disse Takahashi ao The Mainichi:

“A ideia da regeneração dentária é o sonho de todo dentista. Venho trabalhando nisso desde quando de minha pós-graduação. Eu estava confiante de que isso aconteceria… De todo jeito, estávamos esperando um momento onde os medicamentos para o crescimento dentário fossem uma terceira opção, junto as dentaduras e aos implantes.”

Tratamento com base na terceira dentição

Em uma revisão publicada na Regenerative Therapy de 2023, Takahashi e seus colegas explicaram os avanços na regeneração dentária, onde afirmavam: “O tratamento com anticorpos anti-USAG-1 em ratos se mostrou eficaz para regeneração dentária, podendo ser um avanço no tratamento de anomalias dentárias em humanos.” Eles continuaram:

“Com cerca de 0,1% das pessoas sofrendo por agenesia dentária congênita e 10% das crianças no mundo sofrendo com a perda parcial dos dentes, o diagnóstico precoce poderá melhorar os resultados e a qualidade de vida dos pacientes. Saber como funciona as variantes patogênicas do USAG-1, seus parceiros genéticos em interação e suas funções proteicas poderá ajudar no desenvolvimento de biomarcadores.

Os avanços no sequenciamento de próxima geração, espectrometria de massa e tecnologias de imagem poderão ajudar na progressão de biomarcadores preditivos e complementares, auxiliando na identificação de pacientes que poderiam se beneficiar com a regeneração dentária.”

Nos humanos, a regeneração dentária é dependente de um conjunto de dentes ou também chamado de terceira dentição que, segundo Takahashi, é um fator natural dos humanos.

“Além da dentição permanente, pode haver uma ‘terceira dentição’ contendo 1 ou mais dentes. Pensa-se, em alguns casos, que essa terceira dentição se desenvolve de maneira parcial após a dentição permanente,” eles explicam. “Nos humanos, uma forma epitelial rudimentar da terceira dentição foi identificada… A identificação da terceira dentição durante a infância torna mais fácil a visualização e caracterização da hiperdontia na boca do bebê e de alguns fetos.”

Além do estudo realizado em ratos, segundo os pesquisadores, a aplicação de anticorpos direcionados ao USAG-1 em furões também levou à regeneração dentária, semelhante a uma terceira dentição. “Esse resultado é de fato positivo, pois os furões compartilham características da arcada dentária semelhantes às dos humanos,” escreveram eles em Terapia Regenerativa. Embora mais testes sejam necessários, a equipe acredita que o tratamento possa levar ao crescimento dentário em humanos:

“Comparado aos implantes dentários e dentaduras, o tratamento feito com anticorpos possui um melhor custo benefício e utiliza uma terceira dentição, existente em humanos em determinadas idades. O tratamento com anticorpos anti-USAG-1 em ratos se mostrou eficaz para regeneração dentária, podendo ser um avanço no tratamento de anomalias dentárias em humanos

O que são os sisos, conhecido como os ‘terceiros molares’?

Os siso são conhecidos como “terceiros molares”, porém, não significa que são uma terceira dentição. Eles são a última dentição que crescem nos adultos. Acredita-se que os sisos, que em geral aparecem entre os 18 e os 24 anos, podem ter sido úteis aos nossos antepassados, que apresentavam maxilares maiores, além de maiores quantidades de dentes.

Como os maxilares dos humanos diminuíram com o passar do tempo, os sisos às vezes nem rompem as gengivas, porém quando fazem, causam complicações caso não tenha espaço suficiente. Segundo alguns especialistas, os sisos só devem ser extraídos caso sejam afetados por cáries, tenham crescido em ângulos que não esteja correto, ou se estiverem provocando infecção em outros dentes.

Porém, muitos pais preferem realizar a extração dos sisos de seus filhos, antes mesmo de apresentarem problemas. Segundo algumas estimativas, cerca de 5 milhões de pessoas por ano realizam a remoção de siso, sendo que metade das extrações não tenha de fato a necessidade. Uma revisão da Cochrane de 2005, também sugeriu que muitas extrações de siso poderiam ter sido evitadas.

“A tomada de decisão prudente, com indicadores específicos para remoção, pode fazer com que o número de procedimentos cirúrgicos seja reduzido em 60% ou mais.” Os autores também ressaltam que “o acompanhamento atento dos dentes do siso que estão assintomáticos pode ser uma tática adequada.” Uma revisão Cochrane de 2020 observou a controversa da remoção de dentes do siso assintomáticos e sem problemas:

“O siso que está com algum problema, pode causar problemas como inchaço e ulceração das gengivas ao redor do mesmo, além de danos às raízes dos segundos molares, cáries, doenças nas gengivas e nos ossos ao redor dos segundos molares e aparecimento de cistos ou tumores.

Em geral, a remoção dos dentes do siso é apropriada caso tenha sinais ou sintomas de doenças relacionadas ao mesmo, porém há divergências quanto ao modo que devem ser tratados.”

Sua saúde bucal está ligada à sua saúde geral 

Embora o medicamento de regeneração dentária seja utilizado de início no combate contra a anodontia, se for bem-sucedido, poderá ser utilizado para outros meios de regeneração dentária, como a perda dentária. Caso sua saúde bucal seja danificada a ponto de perder dentes, sua saúde geral também sofrerá danos.

A gengivite pode ocorrer caso não tenha uma higiene bucal adequada. Essa é uma doença inflamatória provocada por um acúmulo de placa bacteriana ou bactérias nos dentes que em geral provoca sangramento nas gengivas. Se não for tratada, pode desenvolver periodontite, sendo essa uma infecção mais séria, que em alguns casos leva a perda dos dentes.

A saúde bucal está associada à degeneração do hipocampo, que reduz a região cerebral do hipocampo que serve como marcador para a doença de Alzheimer. Em um estudo com 172 pessoas com 55 anos ou mais, tanto as doenças gengivais como o número de dentes foram associados a alterações no cérebro. As pessoas apresentando doença gengival leve e com menos dentes apresentaram uma taxa mais rápida de encolhimento no hipocampo esquerdo.

Nesse grupo, um dente a menos elevou o encolhimento cerebral a uma taxa de quase 1 ano de envelhecimento do cérebro.

Uma revisão sistemática e meta-análise, incluindo 13 estudos, mostrou que o risco de Alzheimer e de comprometimento cognitivo leve em pacientes com doença periodontal era bem maior do que nas pessoas sem doença periodontal. Isso foi uma verdade nas pessoas com doença periodontal grave. Além do declínio cognitivo, a periodontite tem sido associada a uma diversidade de doenças sistêmicas, como:

Diabetes

Problemas cardíacos

Doença respiratória

Resultados adversos da gravidez

Câncer

Doenças do sistema nervoso

Você pode não notar que sua saúde bucal está mal

Mas entre os adultos de 30 anos ou mais, 46% apresentam sinais de doença gengival, enquanto 9% dos adultos apresentam doença gengival em estado grave. Muitos não sabem que a possuem, pois a doença gengival costuma ser uma doença “silenciosa,” ou seja não apresenta sinais e sintomas até estágios mais avançados.

No estágio inicial da gengivite, as gengivas sangram quando se escova os dentes, utiliza fio dental ou mastiga alimentos mais duros. Suas gengivas também apresentam vermelhidão ou inchaço. À medida que a doença avança, as gengivas podem se afastar dos dentes, dando uma aparência mais alongada. Seus dentes também podem afrouxar, além do aparecimento de feridas na boca, mau hálito e pus entre as gengivas e os dentes.

Ao contrário da anodontia, uma doença genética rara, a perda dentária que surge mais tarde na vida pode ser evitada com medidas proativas para a sua saúde oral. A higiene bucal adequada, incluindo escovação regular, uso de fio dental e raspagem da língua, além de limpezas regulares com um dentista biológico sem mercúrio, poderá ajudar muito na saúde de seus dentes e gengivas.

Uma dieta com alimentos frescos e integrais também é crucial para uma boa saúde bocal. Outra técnica benéfica é a extração de óleo. Esse método consiste em pegar uma pequena quantidade de óleo, como o coco, e agitá-lo pela boca, “puxando-o” entre os dentes e garantindo que ele se mova por toda a boca.

Cerca de 20 minutos depois, cuspa o óleo. Você pode praticar todos os dias ao escovar de maneira regular e utilizar fio dental. Apenas uma pequena quantidade de óleo (1 colher de sopa para adultos e 1 colher de chá para crianças) é essencial.

O óleo de coco é ideal para extração, pois possui propriedades antibacterianas e antivirais. Foi descoberto que a extração de óleo pode reduzir a ocorrência de gengivite e de placa bacteriana, reduzindo também o índice de placa em comparação com um grupo de controle, além das bactérias presentes na saliva.

Eles também descobriram que a extração com óleo coco foi tão positiva quanto um enxaguante bucal com clorexidina, índice gengival e sangramento gengival.

Embora seja excitante, os potenciais efeitos colaterais da terapia são desconhecidos. Por enquanto, com o monitoramento de sua saúde bocal, você garante que seus dentes permaneçam onde pertencem, firmes na boca, independente da idade.