O El Niño (“o menino”, em espanhol) é um evento climático recorrente que tem aparecido cada vez mais no noticiário. Do meio de 2023 a junho de 2024, ele mudou os padrões de chuva e aumentou temperaturas ao redor do mundo, com sua potência intensificada pela crise climática.
Os efeitos do El Niño são sentidos de formas diferentes pelo mundo – às vezes com aumento da umidade, e às vezes como seca. No Brasil ele causa calor e seca no Norte e no Nordeste, e chuvas fortes no Sul, onde ficam paradas as frentes frias que deveriam se espalhar pelo resto do país. Junte isso às mudanças climáticas e temos como resultado uma tragédia como as enchentes do Rio Grande do Sul nesse ano.
Agora, um estudo de cientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, mostrou que o El Niño não é tão menino assim. Em um estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, os pesquisadores mostram que o fenômeno é recorrente pelo menos desde o Mesozoico, há cerca de 250 milhões de anos.
O El Niño divide as manchetes com sua irmã, a La Niña. O evento praticamente oposto deixa as águas do Pacífico tropical até 0,5 °C mais frias do que o normal. No Brasil, isso aparece como mais chuvas e enchentes no Nordeste e temperaturas mais baixas no Sul e no Sudeste. Segundo o estudo, esse fenômeno também data de 250 milhões de anos atrás.
De que importa saber a idade do El Niño? O dr. Xiang Li, principal autor do estudo, explica à Super: “Os climas do passado informam o nosso futuro. É só estudando as mudanças climáticas do passado que podemos entender os motores das mudanças climáticas no futuro e fazer projeções de clima confiáveis.”
Como descobrir o clima do passado
O último El Niño foi ruim? Milhões de anos atrás, provavelmente era pior. No período pré-industrial, o aumento de temperatura podia chegar até 0,6 °C. Há 150 milhões de anos, chegava a 1,3 °C, a amplitude mais alta que os cientistas da Duke conseguiram encontrar em seu estudo de modelos e simulações climáticas.
No passado, a maioria das oscilações de temperatura do El Niño eram mais severas que as atuais, mas não tinham a crise climática causada pelo ser humano para ajudar. Mas como eles conseguiram descobrir tudo isso, se não podem voltar no tempo?
“Nós usamos a tecnologia avançada do Sistema de Modelo da Terra CESM1.2.2”, explica o dr. Li. Essa é a mesma ferramenta que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) usa para fazer projeções futuras do clima. A diferença é que os pesquisadores da Duke usaram-na para examinar o passado.
Eles fizeram 26 simulações, com dez milhões de anos de intervalo entre cada uma delas. Com a quantidade de dados gerada por uma dessas simulações, seria impossível fazer isso em intervalos menores. Essas fotografias do nosso passado climático dão o panorama necessário para entender como era o El Niño e a La Niña de milhões de anos atrás.
A equipe liderada pelo dr. Li e pelo dr. Shineng Hu teve que contabilizar vários fatores diferentes na hora de criar essas simulações. Os continentes estavam em posições diferentes, a quantidade de radiação solar não era a mesma e a concentração atmosférica de CO₂ também variava de dez em dez milhões de anos.
Fonte: abril