Você já encontrou com elas no banheiro, na cozinha, na escola, no trabalho, perto de qualquer lata de lixo. As baratinhas – o tipo mais predominante de baratas, que não voam – parecem onipresentes. Mesmo estando em todo lugar, os cientistas não conseguiam definir de onde elas vieram. Até agora.
A barata germânica (também conhecida como barata de cozinha, francesinha ou apenas baratinha) é um inseto que não gosta muito da natureza. Para nosso desgosto, elas vivem dentro de casas e edifícios nas cidades em todos os continentes do mundo, com exceção da Antártica.
Em um novo estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, biólogos e entomólogos mapearam geneticamente a origem das baratinhas, que pegaram carona nos seres humanos para se espalhar pelo globo ao longo dos últimos dois milênios. Se as baratas dominaram nossas casas, a culpa não é só delas: as pessoas providenciaram o transporte.
A barata é minha inimiga, ou vice-versa
O primeiro registro das baratinhas na Europa é de 250 anos atrás. A Guerra dos Sete Anos, que foi de 1756 a 1763, tinha duas frentes de batalha: uma no front de verdade, a outra na cozinha, onde os insetos estavam avançando sobre os estoques.
O ódio às baratinhas era tão grande que os soldados chamavam elas pela nacionalidade dos seus inimigos. Para os russos, aquela era a barata da Prússia. Para os ingleses e os militares da Prússia, eram as baratas russas. O nome que sobreviveu à guerra foi “barata germânica”, ou Blatella germanica, dado pelo biólogo sueco Carl Linnaeus, que coletou e analisou a espécie na Alemanha.
Apesar do nome, a baratinha não tem nada de alemã. Seus parentes mais próximos no reino animal viviam na África e na Ásia. Como, então, um inseto que não voa e não vive na natureza conseguiu cruzar continentes e chegar no saco de farinha dos soldados?
Barata imigrante
Pesquisadores liderados por Qian Tang, biólogo evolutivo da universidade de Harvard, analisaram os genes de 281 espécimes de baratinha de 17 países diferentes mundo afora. Fazendo isso, eles confirmaram que a barata germânica, na verdade, é asiática. Ela evoluiu da espécie Blatella asahinai há cerca de 2.100 anos. A baratinha ancestral é um pouco diferente de sua parente-sem-pátria, já que consegue voar e é atraída pela luz.
A baratinha recente, então, nasceu de uma adaptação para a vida doméstica na Índia ou em Myanmar, quando os seres humanos destruíram seu habitat original para construir moradia. Depois disso, há 1.200 anos, elas provavelmente viajaram nas malas, cestas e bolsos de pessoas até o Oriente Médio, seguindo as rotas de expansão islâmica na região.
Uma segunda onda migratória desses bichinhos coincide com o período do imperialismo europeu, mais especificamente com a expansão britânica e holandesa no sudeste asiático. Neste caso, as baratas foram levadas à Europa nos navios dos colonizadores, seguindo as importantes rotas comerciais daquela época, há apenas uns 300 anos.
Daí para frente, foi fácil para as baratinhas: o ambiente urbano criado pelos humanos tem as condições perfeitas para elas existirem, já que as casas geralmente são quentes e úmidas, tem restos de comida aos montes e não possuem predadores. Por isso mesmo elas se adaptaram para viver juntamente com nós, e não na natureza – e também por isso conseguem habitar praticamente qualquer lugar do mundo. Basta ter Homo sapiens.
Toda essa viagem intercontinental das baratas germânicas foi mapeada por análise genômica, que bate em todos os casos com os registros históricos do que estava acontecendo quando as baratinhas apareceram.
Hoje, a barata-germânica é a espécie de barata mais bem sucedida de todas e é considerada a maior praga doméstica do mundo.
Fonte: abril