É inegável que toda passagem de ano desnuda nosso lado racional e veste-se do eterno simbolismo do recomeço, que vem pleno de certezas e incertezas, de determinações e dúvidas, de bravura e temores. Dormimos no dia 31 de dezembro assoberbados de ideias e acordamos no dia 1º de janeiro cheios de sentimentos contraditórios, mas com a esperança renovada, apesar das cicatrizes deixadas pelos tombos no caminho.
Simbolicamente, temos à frente um novo recomeço, como se fosse uma nova vida, diferente daquela que ficou para trás no ano passado. Nossas expectativas transformam-se em planos e nossos planos são concretizados em parte ou por inteiro, ou não são concretizados. Dentre os planos, estão coisas que fazemos por nós mesmos, algumas que fazemos por outras pessoas.
Vamos cuidar da saúde, iniciar uma atividade física, balancear nossas refeições, regularizar nosso sono, diminuir nosso ritmo diário quando está exagerado, valorizar mais a família e os amigos. Também planejamos fazer bons negócios e, talvez, aumentar nosso patrimônio e nossa condição financeira.
Sonhamos em ter uma vida saudável, tranquila e feliz, mas como já disse antes, tudo pode concretizar-se totalmente, em parte ou não se concretizar. É aí que precisamos exercer a resiliência para não fazer dos tombos, cicatrizes perpétuas e doloridas, ao invés de vê-las como aprendizados para adequar nossos sonhos aos novos tempos e à nossa vida.
Quando viramos o ano, acreditamos na magia do recomeço, mas precisamos ter maturidade emocional suficiente para entender que nem sempre se começa o que se planeja e que nem sempre se termina aquilo que se começa. Muitas coisas, felizmente, têm começo, meio e fim e, por incrível que pareça, muitas das nossas realizações não estão na nossa lista, não foram planejadas, surgiram inesperadamente em nosso caminho, um presente surpresa com o qual não contávamos, achamos que veio em boa hora e foi de grande valia para nós.
Este é o lado bom, mas nossa grande preocupação é com o contrário, quando nos decepcionamos, quando vêm as frustrações, quando testamos nossos limites. A frustração é um ingrediente inevitável, que cedo ou tarde, em pequena ou grande quantidade, poucas ou muitas vezes, vai fazer parte da vida de todos nós.
É Importante saber que as decepções, apesar de serem desagradáveis, contribuem para o nosso desenvolvimento emocional, assim como as conquistas. Ambas devem nos fazer prosseguir em nossa trajetória, seja para manter aquilo que conquistamos ou para, mais uma vez, tentar consegui-lo.
Antes disso, precisamos compreender que o novo ano não é uma nova história, mas um capítulo da mesma história, da qual somos personagens mais experientes, com as pedras que retiramos do caminho. A cultura do “Ano Novo, Vida Nova” alimenta sentimentos que podem trazer reações significativas de ansiedade, uma vez que deixamos de dar valor ao crescimento gradativo e vamos em busca de gratificação imediata, com a realização de novas conquistas.
Além da ansiedade, pode haver sentimentos autodepreciativos, como se fôssemos incapazes de alcançar nossos objetivos, comparando-nos com aqueles bem sucedidos em suas expectativas. Nesses casos a ansiedade pode associar-se ou dar lugar à depressão.
Nos casos de ansiedade e sintomas depressivos, com impacto nas atividades da vida diária, a busca de ajuda profissional torna-se imprescindível. O tratamento visa ao enfrentamento das frustrações, ao promover entendimento de que as decepções não são o fim da estrada, talvez alguns desvios no caminho.
A esperança, não acoplada a uma expectativa rígida, torna-se um fator de proteção à saúde mental. Portanto, devemos sonhar, planejar, sem expectativas exageradas, alegrando-nos com as conquistas, mas, por outro lado, enfrentando e tolerando as frustrações daquilo que não conseguimos conquistar.
Fonte: primeirapagina






