Um casamento realizado entre 19 e 22 deste mês em uma comunidade ortodoxa no município de Campos Lindos, no Tocantins, é citado em comunicado da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso como um evento de risco para a disseminação do sarampo. A gestante de 27 anos e o filho de 4 anos, ambos moradores de Primavera do Leste (MT) e, com suspeita da doença após viagem à Bolívia, estiveram presentes na cerimônia durante o período de transmissão do vírus.
O problema é que a região já enfrentava um surto confirmado de sarampo, com dezenas de casos registrados.
A análise do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS-MT) aponta que o encontro religioso funcionou como um evento de massa com alto potencial de transmissão, conectando os casos suspeitos importados da Bolívia ao surto ativo no Tocantins. “Esse cenário cria uma ponte epidemiológica, representando risco iminente de introdução de novas cadeias de transmissão em Mato Grosso”, diz o comunicado.
Casos suspeitos e aborto
Os dois pacientes de Primavera do Leste, a jovem e o filho pequeno, apresentaram febre, manchas na pele, tosse, coriza e conjuntivite, quadro clínico compatível com a definição de caso suspeito de sarampo. A gestante sofreu um aborto no último dia 22, complicação relacionada à doença em grupos de risco.
O histórico da família inclui viagem recente a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, epicentro de um surto ativo de sarampo. Durante o deslocamento de volta ao Brasil eles utilizaram transporte coletivo terrestre, passando por Corumbá (MS), Campo Grande (MS) e Rondonópolis (MT) até chegar a Primavera do Leste. A viagem em ônibus lotado também é vista como um fator de risco, por ter exposto passageiros de diferentes estados ao vírus.
Risco elevado em Mato Grosso
O CIEVS-MT alerta que a vulnerabilidade do estado aumenta o risco de o vírus se estabelecer. Em Primavera do Leste a cobertura vacinal contra o sarampo é de 80,25% na segunda dose da tríplice viral, bem abaixo da meta de 95% necessária para garantir imunidade coletiva.
A lacuna de vacinação, somada à circulação de pessoas em eventos de massa e à ligação com surtos externos, coloca Mato Grosso em alerta máximo. “A combinação de um caso importado com desfecho grave, múltiplos eventos de superdispersão e baixa imunidade da população configura uma emergência de saúde pública de importância nacional”, destaca o documento.
Alerta nacional
O Brasil perdeu em 2019 o certificado de país livre do sarampo, após quedas consecutivas na cobertura vacinal. Em 2025, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) já havia alertado para o aumento expressivo de casos nas Américas, ampliando o risco de importação de novas cepas virais.
Diante da situação, a SES-MT notificou o Ponto Focal Nacional do Regulamento Sanitário Internacional, responsável por articular medidas emergenciais de vigilância e contenção para evitar a retomada da circulação endêmica do vírus no país.
Fonte: primeirapagina