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Educação

Autores mais citados em universidades brasileiras: Marx, Paulo Freire e Foucault

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A afirmação de que as universidades brasileiras estĂŁo imersas na influĂȘncia ideolĂłgica de pensadores de esquerda nĂŁo Ă© nova. Mas, na maior parte das vezes, ela se baseava em episĂłdios esparsos que vinham Ă  tona ocasionalmente: um professor flagrado fazendo campanha polĂ­tica dentro da sala de aula, um curso transformado em pregação ideolĂłgica, ou uma manifestação extremista dentro de um campus universitĂĄrio.

Agora, a Gazeta do Povo encontrou provas de que essa afirmação é, ao menos em parte, verdadeira.

Uma anĂĄlise em larga escala de teses de mestrado e dissertaçÔes de doutorado produzidas em 2022 e 2023 indica que Karl Marx, Paulo Freire e Michel Foucault — todos de esquerda — sĂŁo os trĂȘs autores mais citados da academia brasileira.

A anålise usou o Banco de Teses da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O levantamento incluiu a íntegra 7.000 trabalhos escolhidos a esmo, sem qualquer pré-seleção de universidades ou disciplinas.

O levantamento foi feito por meio da ferramenta Pinpoint, em uma parceria entre a Gazeta do Povo e o Google. O Pinpoint usa inteligĂȘncia artificial para identificar padrĂ”es, como nomes de pessoas e lugares mencionados.

Os trabalhos acadĂȘmicos de 2022 podem ser consultados neste link. Os de 2023, neste link.

As teses de 2023

Para obter as 5.000 teses e dissertaçÔes, a Gazeta do Povo analisou o resumo de mais de 9.700 trabalhos na lista da Capes. Cada resumo traz o autor, o título, a instituição de ensino e a årea do conhecimento. Na maioria dos casos, a plataforma também oferece um link para a íntegra do trabalho.

Os 5.000 trabalhos vieram de 93 instituiçÔes de ensino e mais de 240 ĂĄreas do conhecimento diferentes — de administração a zootecnia. Ou seja: a lista traz os autores mais citados de forma geral, e nĂŁo apenas nas ciĂȘncias humanas e sociais.

Dentre as 5.000 teses de 2023, 545 citam Karl Marx. Nenhum autor foi mencionado por tantos trabalhos quanto o autor de “O Capital”.

O segundo lugar ficou com Michel Foucault. Depois, surgem Pierre Bourdieu, Albert Einstein, AristĂłteles, Boaventura Sousa Santos, Maria CecĂ­lia de Souza Minayo e Sigmund Freud.

A simples menção a Karl Marx nĂŁo significa, de antemĂŁo, que essas teses sejam boas ou ruins, ou mesmo que os mestres e doutores sejam entusiastas das ideias marxistas. É possĂ­vel, em tese, que a maioria das obras seja crĂ­tica a Marx. Mas na prĂĄtica, nĂŁo Ă© fĂĄcil encontrar uma crĂ­tica ao pensador socialista. 

Os 50 autores mais citados em 2023

Autor CitaçÔes (dentre 5.000 trabalhos)

  • 1. Karl Marx 545
  • 2. Michel Foucault 486
  • 3. Paulo Freire 467
  • 4. Pierre Bourdieu 368
  • 5. Albert Einstein 240
  • 6. AristĂłteles 217
  • 7. Boaventura Sousa Santos 207
  • 8. Maria CecĂ­lia de Souza Minayo 187
  • 9. Sigmund Freud 181
  • 10. Rui Barbosa 176
  • 11. Hannah Arendt 173
  • 12. Norberto Bobbio 172
  • 13. Max Weber 171
  • 14. PlatĂŁo 168
  • 15. Friedrich Engels 161
  • 16. Walter Benjamin 157
  • 17. Milton Santos 154
  • 18. Machado de Assis 151
  • 19. Judith Butler 146
  • 20. Santo Agostinho 138
  • 21. Florestan Fernandes 135
  • 22. Ludwig Boltzmann 135
  • 23. Simone de Beauvoir 134
  • 24. Gilberto Freyre 129
  • 25. Laurence Bardin 128
  • 26. Leonhard Euler 127
  • 27. Antonio Gramsci 126
  • 28. John Locke 126
  • 29. Gilles Deleuze 125
  • 30. Frantz Fanon 121
  • 31. Mikhail Bakhtin 120
  • 32. Sueli Carneiro 116
  • 33. Dermeval Saviani 113
  • 34. Lev Vygotsky 113
  • 35. Jean-Jacques Rousseau 111
  • 36. Adam Smith 110
  • 37. Georg Wilhelm Friedrich Hegel 110
  • 38. Immanuel Kant 110
  • 39. John Dewey 109
  • 40. Isaac Newton 97
  • 41. Stuart Hall 95
  • 42. Zygmunt Bauman 95
  • 43. David Harvey 92
  • 44. Paul Dirac 92
  • 45. Friedrich Nietzsche 86
  • 46. FĂ©lix Guattari 85
  • 47. Abdias do Nascimento 84
  • 48. AnĂ­bal Quijano 83
  • 49. Eric Hobsbawm 82
  • 50. RenĂ© Descartes 81

Apologia ao marxismo

Um dos trabalhos que cita Karl Marx Ă© o de Rodrigo da Luz Silva, da Faculdade de Educação da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Em muitas passagens, o autor atĂ© apresenta algumas anĂĄlises objetivas da relação entre o pensamento de Paulo Freire e Marx. “O pensamento freireano e o materialismo histĂłrico e dialĂ©tico se complementam, na medida em que Marx e seus seguidores lançam as bases necessĂĄrias Ă  revolução popular e Freire tece os caminhos pedagĂłgicos pelos quais essa revolução precisaria trilhar, explicitando que, para haver revolução, Ă© indispensĂĄvel a constituição de processos educativos crĂ­ticos”, ele escreve.

Karl Marx: influĂȘncia duradoura na academia.
Karl Marx: influĂȘncia duradoura na academia.

Mas, mais adiante, Rodrigo deixa de lado o tom neutro e sai em defesa da revolução socialista. “Vislumbro novos caminhos a serem trilhados. Novos horizontes de luz nĂŁo completamente ofuscados pela lĂłgica capitalista, pelo retrocesso atual nas polĂ­ticas pĂșblicas e pelos valores neoliberais. Caminhos que sinalizam novas direçÔes, novas rotas, outros mundos possĂ­veis, como diria Paulo Freire.”

E ele encerra sua tese de doutorado assim: “Em tempos caracterizados pelo avanço da onda neoliberal, conservadora e negacionista, faz-se necessário resgatar os pressupostos político-pedagógicos, científico-tecnológicos e socioambientais freireanos no sentido de denunciar os mecanismos de dominação reinantes, ao passo em que anunciamos novos caminhos e horizontes fincados na esperança que nos possibilita a construção de outras formas de ser e de estar no mundo.”

É um exemplo da postura “engajada” que se tornou onipresente na academia brasileira, especialmente nas ciĂȘncias sociais.

“NĂŁo surpreende nada. Este Ă© o resultado de mais de 50 anos de trabalho da esquerda no sentido de capturar as instituiçÔes, dentre as quais se destacam as universidades. A prevalĂȘncia de uma produção acadĂȘmica com viĂ©s de esquerda reflete o sucesso desse processo”, afirma Anamaria Camargo, mestre em Educação e presidente do Instituto Livre para Escolher.

Anamaria também aponta para outro problema mais profundo: os autores mais citados na academia brasileira favorecem uma abordagem pouco científica dos problemas humanos.

“Marx baseia sua teoria econĂŽmica em uma utopia, para Foucault, nĂŁo existe verdade objetiva e segundo Paulo Freire, ‘nĂŁo hĂĄ saber mais nem saber menos; hĂĄ saberes diferentes’. Podemos entĂŁo concluir que as chances de que as hipĂłteses baseadas nesses pensadores serĂŁo falseĂĄveis sĂŁo remotĂ­ssimas”, diz ela, que explica: “Ou seja, essas pesquisas provavelmente sequer podem ser cientificamente refutadas. Para legitimar tais estudos, basta que se baseiam em ‘experiĂȘncias vividas’ de determinados grupos estrategicamente posicionados nas interseçÔes dos chamados ‘sistemas opressĂŁo’.”

Marx presente em outras ĂĄreas

A influĂȘncia de Karl Marx na academia brasileira vai alĂ©m das CiĂȘncias Sociais e Humanas.

Por exemplo: um trabalho de Enfermagem apresentado em 2023 citou o autor como referĂȘncia, embora de forma superficial: “Como defendeu Marx, a centralidade do trabalho continua atual, o que se precisa Ă© lutar pelo trabalho digno e decente”, escreve Samira Silva Santos Soares, em uma tese de doutorado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Uma dissertação de mestrado em Serviço Social na Universidade Federal do Rio Grande do Norte adotou uma abordagem marxista para estudar o enfrentamento da pandemia na cidade de Natal. “A natureza do objeto de estudo da presente investigação exigiu a abordagem de totalidade fundamentada na teoria social crĂ­tica e no mĂ©todo dialĂ©tico na acepção formulada por Engels e Marx, buscamos nos aproximar da essĂȘncia do objeto de estudo a fim de capturar sua estrutura e dinĂąmica, em um processo dialĂ©tico, em um movimento de aproximaçÔes sucessivas para apreender as principais determinaçÔes que o circundam”, escreve Renata Celli da Silva Nogueira Medeiros.

Em muitas ocasiĂ”es, a obra de Karl Marx Ă© apresentada de forma acrĂ­tica. Nas palavras desses acadĂȘmicos, Marx “esclarece”, “ensina”, “evidencia” — como se a obra do autor comunista fosse evidentemente correta e nĂŁo precisasse passar por escrutĂ­nio.

Em uma tese doutorado em PolĂ­tica Social pela Universidade Federal do EspĂ­rito Santo, VerĂŽnica Martins Tiengo parece se juntar esse grupo: “O capitalismo estĂĄ alicerçado na exploração de uma classe sobre a outra. Um grande diferencial de Marx Ă© evidenciar que a riqueza, ao invĂ©s de vir da propriedade sobre a terra, ou sobre os meios de produção, vem do trabalho abstrato, afinal a mais-valia Ă© produzida pelos trabalhadores e apropriada pelo capitalista, que remunera a força de trabalho com um salĂĄrio bem inferior ao que de fato foi produzido.” O trabalho tĂȘm 225 referĂȘncias a Marx.

Na PUC (PontifĂ­cia Universidade CatĂłlica) do Rio de Janeiro, Paola Sarlo Pezzin nĂŁo se incomodou em tratar Marx como professor: “Assim, foi Marx quem ensinou que os homens nunca produzem absolutamente, isto Ă©, como seres biolĂłgicos em um universo de ‘necessidade’ fĂ­sica”, ela argumenta, em uma tese de doutorado em Comunicação Social.

Na sua tese de doutorado em Filosofia na Universidade Federal do CearĂĄ, Mailson Bruno de Queiroz Carneiro Gonçalves diz que o objetivo do trabalho Ă© “apontar a Ă­ntima relação entre capital e violĂȘncia”. O trabalho Ă© repleto de afirmaçÔes apresentadas sem maiores explicaçÔes, como esta: “A busca irrefreĂĄvel do capital pela infinitude sob condiçÔes de produção e consumo absolutamente desiguais transforma o crĂ©dito em base de transaçÔes fraudulentas.” O nome de Marx aparece 643 vezes na tese de 177 pĂĄginas.

O parĂĄgrafo de encerramento da tese de Queiroz Ă© quase um convite Ă  revolução socialista: “O modo burguĂȘs de produção lança as bases para uma forma mais elevada de metabolismo social, na qual o intercĂąmbio necessĂĄrio entre homem e natureza serĂĄ regulado pelo livre jogo das forças fĂ­sicas e espirituais. Sob uma economia planificada, o emprego da tecnologia jĂĄ nĂŁo resultarĂĄ em pauperismo e crises cĂ­clicas, mas na aplicação da mĂĄxima: ‘De cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades’”.

O uso da academia para a defesa de uma ideologia tambĂ©m tem a ver com o nĂșmero dois da lista de autores mais citados em 2023.

Foucault: desconstruir sem reconstruir

Nas teses apresentadas em 2023 e analisadas pela Gazeta do Povo o segundo autor mais popular Ă© um pĂłs-moderno: o francĂȘs Michel Foucault, mencionado em 486 trabalhos. 

Focault Ă© um dos principais nomes de uma corrente de pensamento segundo a qual verdades objetivas nĂŁo existem — ou, se existem, nĂŁo sĂŁo acessĂ­veis. Para ele, tudo o que podemos fazer Ă© analisar discursos, narrativas e exercĂ­cios do poder.

Isso ajuda a explicar porque tantos trabalhos acadĂȘmicos no Brasil mais parecem um relato pessoal de experiĂȘncias que nĂŁo podem ser replicadas. Para Foucault, nenhuma experiĂȘncia pode ser replicada. O conhecimento universal simplesmente nĂŁo existe.

Conclamados por Foucault, muitos autores abandonaram a ideia de verdade socrĂĄtica ou da objetividade iluminista. O resultado por vezes Ă© uma produção de acadĂȘmica que beira o ininteligĂ­vel.

“Apoiada nas ferramentas do filĂłsofo Michel Foucault, considero que a habilitação/reabilitação, como prĂĄtica individualizada (ainda que ampliada pelas referĂȘncias da funcionalidade) e como serviço dirigido Ă  determinada população, Ă© atravessada e constituĂ­da por tĂ©cnicas de poder sobre a vida”, escreve Francine de Souza Dias, em sua tese de doutorado em SaĂșde PĂșblica na Fundação Oswaldo Cruz.

O tĂ­tulo do trabalho, aliĂĄs, Ă© um exemplo representativo da linguagem pĂłs-moderna que se espalhou pela academia brasileira: “Empoemar a reabilitação, deslimitar a deficiĂȘncia, transver o cuidado: das normativas humanitĂĄrias Ă  encantaria contracolonial”.

Em sua tese de doutorado em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Fabiana da Costa Gonçalo repete o mantra foucaultiano de que a prisĂŁo nĂŁo serve para reduzir a criminalidade. Ela cita diretamente o autor, para quem “as prisĂ”es nĂŁo diminuem a taxa de criminalidade: pode-se aumentĂĄ-las, multiplicĂĄ-las ou transformĂĄ-las; a quantidade de crimes e de criminosos permanece estĂĄvel, ou, ainda pior, aumenta”. Sem dados ou evidĂȘncias, Fabiana dĂĄ um salto no tempo e no espaço e pousa no Brasil do sĂ©culo 21: “Apesar de o filĂłsofo analisar a situação francesa dos sĂ©culos XIX e XX, percebe-se que esta nĂŁo Ă© muito diferente da verificada no contexto brasileiro atual.”

Embora as ideias de Foucault nĂŁo possam ser reduzidas a uma caricatura, a rejeição da objetividade permitiu que trabalhos acadĂȘmicos de baixa qualidade se multiplicassem. Se a objetividade nĂŁo existe, tambĂ©m nĂŁo existe um critĂ©rio objetivo para a excelĂȘncia acadĂȘmica.

Simone de Beauvoir acima de Gilberto Freyre

A lista dos autores mais citados de 2023 permite algumas comparaçÔes interessantes. O autor (de esquerda) portuguĂȘs Boaventura Sousa Santos aparece Ă  frente de Sigmund Freud e PlatĂŁo. Judith Butler e Simone de Beauvoir, teĂłricas fundamentais no desenvolvimento das chamadas “teorias de gĂȘnero”, foram mais citadas que Gilberto Freyre, possivelmente o mais influente sociĂłlogo brasileiro. Antonio Gramsci, o pensador italiano que atualizou a doutrina marxista, tem mais citaçÔes que Jean-Jacques Rousseau. O liberal Adam Smith perde para o filĂłsofo soviĂ©tico Mikhail Bakhtin. Parceiro de Marx, Friedrich Engels tem mais citaçÔes que John Locke. Entre os 20 primeiros tambĂ©m estĂĄ Walter Benjamin, da chamada Escola de Frankfurt.  

O brasileiro com maior nĂșmero de citaçÔes foi o pedagogo Paulo Freire, mencionado por 467 das 5.000 teses. Sozinhas, as 113 referĂȘncias Ă  “Pedagogia do Oprimido”, obra mais famosa do autor pernambucano, jĂĄ sĂŁo mais numerosas do que toda a obra de Albert Einstein e AristĂłteles.

Em 2022, Paulo Freire obteve um lugar ainda mais alto do ranking dos autores mais citados.

Em 2022, nĂșmeros foram semelhantes

O domínio de autores de esquerda na lista de 2023 é evidente. Mas, em tese, esse pode ter sido um ano atípico. Por isso, a equipe da Gazeta do Povo também compilou 2.000 dissertaçÔes de mestrado e teses de doutorado apresentadas em 2022 (ainda no governo Bolsonaro) e disponíveis na Plataforma Sucupira.

Desta vez, o critĂ©rio foi o da ordem alfabĂ©tica: a anĂĄlise incluiu as primeiras 2.000 teses cuja Ă­ntegra estava disponĂ­vel. Esse mĂ©todo gera um nĂșmero desproporcional de trabalhos escritos por “Adrianas” e “Albertos”, mas evita que a amostra tenha distorçÔes (como incluir um nĂșmero desproporcional de teses de uma mesma universidade ou uma mesma ĂĄrea do conhecimento).

Resultado: dos dez mais citados de 2023, nove tambĂ©m aparecem entre os dez mais de 2022. Os trĂȘs autores no topo da lista sĂŁo os mesmos de 2023, embora a ordem tenha sido diferente: Freire, Foucault e Marx, respectivamente (veja a lista completa abaixo).

Karl Marx: influĂȘncia duradoura na academia.
Mural homenageando Paulo Freire em BrasĂ­lia | Valter Campanato/AgĂȘncia Brasil

Paulo Freire Ă© citado por acadĂȘmicos como Alexandra Biondo Lopes Pacheco, da Universidade do Oeste de Santa Catarina. Em sua tese de mestrado em Educação, ela trata Freire e o socialista italiano Antoni Gramsci como “dois grandes pensadores da educação” que defenderam uma “educação crĂ­tica com propĂłsito de transformação das relaçÔes sociais vigentes, uma educação de qualidade acessĂ­vel Ă  classe trabalhadora”. Alexandra contrapĂ”e os autores socialistas ao que chama de proposta “neoliberal” da educação, que, segundo ela, foi proposta pela “burguesia”.

Freire Ă© tĂŁo popular que aparece com frequĂȘncia em trabalhos das ciĂȘncias exatas e da natureza. Um deles Ă© a dissertação de mestrado sobre “gestĂŁo de resĂ­duos de construção demolição em obras de infraestrutura urbana”, apresentada por Alexandre Marques Nogueira Cobra, do Instituto de Pesquisas TecnolĂłgicas do Estado de SĂŁo Paulo. Nesse caso, o pedagogo Ă© citado na epĂ­grafe: “Educação nĂŁo transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas mudam o mundo”.

Em sua dissertação de mestrado em CiĂȘncias da SaĂșde na Universidade do Oeste Paulista, Aline Graciele LeĂŁo Torres tambĂ©m faz uma deferĂȘncia a Freire.”“NĂŁo existe saber mais ou saber menos: existem saberes diferentes”, diz a epĂ­grafe, citando uma frase cĂ©lebre do pensador pernambucano.

O trabalho de Aline tem o tĂ­tulo de “Avaliação comparada da ação antioxidante de N-acetil-L-cisteĂ­na (NAC) e o extrato de caule da Coutarea hexandra (Rubiaceae) sobre os efeitos sistĂȘmicos do envenenamento experimental por Lachesis muta muta (surucucu sul-americana) em ratos.”

“Saberes”, aliĂĄs, se tornou parte do jargĂŁo acadĂȘmico no Brasil. Somando os trabalhos de 2022 e 2023, a expressĂŁo freireana Ă© citada em 2.149 teses. Sinal de que a influĂȘncia de Paulo Freire Ă© ainda maior do que a contagem das mençÔes a seu nome sugere. Assim como Foucault, Freire rejeitava a noção de que o conhecimento Ă© algo objetivo.

Os autores mais citados em 2022

  • Nome CitaçÔes (dentre 2.000 trabalhos)
  • 1. Paulo Freire 310
  • 2. Michel Foucault 207
  • 3. Karl Marx 205
  • 4. Laurence Bardin 175
  • 5. Boaventura Sousa 162
  • 6. Pierre Bourdieu 154
  • 7. Maria CecĂ­lia de Souza Minayo 137
  • 8. Albert Einstein 95
  • 8. AristĂłteles 95
  • 10. Immanuel Kant 89
  • 11. Dermeval Saviani 86
  • 11. John Dewey 86
  • 13. Lev Vygotsky 85
  • 14. Darcy Ribeiro 76
  • 15. Mikhail Bakhtin 75
  • 16. Sigmund Freud 73
  • 17. Milton Santos 71
  • 18. Max Weber 70
  • 19. Hannah Arendt 69
  • 20. Eva Maria Lakatos 68
  • 21. John W. Creswell 66
  • 22. Stuart Hall 65
  • 23. Friedrich Engels 62
  • 23. PlatĂŁo 62
  • 25. Gilles Deleuze 59
  • 26. Adam Smith 57
  • 26. Charles Darwin 57
  • 26. Zygmunt Bauman 57
  • 26. Machado de Assis 57
  • 30. Jean Piaget 56
  • 30. Marina Andrade 56
  • 30. Walter Benjamin 56
  • 33. JĂŒrgen Habermas 55
  • 34. RenĂ© Descartes 54
  • 35. Florestan Fernandes 53
  • 36. Gilberto Freyre 51
  • 36. Rui Barbosa 51
  • 38. Frantz Fanon 50
  • 39. Judith Butler 48
  • 40. Sueli Carneiro 47
  • 41. Fernando Pessoa 46
  • 42. AnĂ­bal Quijano 45
  • 43. Friedrich Nietzsche 44
  • 43. Michel de Certeau 43
  • 44. Antonio Gramsci 42
  • 44. Jean-Jacques Rousseau 42
  • 46. Edgar Morin 41
  • 47. John Locke 41
  • 48. Clarice Lispector 40
  • 48. Conceição Evaristo 40
  • 48. Georg Wilhelm Friedrich Hegel 40
  • 48. Joseph Schumpeter 40
  • 48. Tomaz Tadeu da Silva 40
  • 48. Simone de Beauvoir 40

Como o levantamento foi feito

Embora a Capes forneça uma unificada das teses e dissertaçÔes apresentadas no Brasil, não hå um banco de dados unificados com a íntegra desses trabalhos; é preciso baixå-los um a um. A coleta das teses e dissertaçÔes levou cinco semanas.

As teses e dissertaçÔes de 2023 foram baixadas na ordem apresentada pelo portal da Capes — a ordem em que o material foi publicado. As de 2022 seguiram a ordem alfabĂ©tica do primeiro nome do autor.

Os nomes dos autores mais citados foram identificados pela ferramenta Pinpoint. Em alguns casos, os nĂșmeros podem ser enganosos. Por exemplo: AnĂ­sio Teixeira foi um autor influente, mas a maior parte das mençÔes envolvendo Teixeira se dĂĄ porque ele empresta o nome ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). AlĂ©m disso, o mesmo nome por vezes Ă© citado de duas formas diferentes. Ruy Barbosa, por exemplo, por vezes aparece como “Rui Barbosa”. A reportagem da Gazeta do Povo corrigiu essas distorçÔes.

Fonte: gazetadopovo

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