Em 2024, 19 dos 48 assassinatos de mulheres em Mato Grosso foram classificados como feminicídios. Em 2025, dos 51 óbitos registrados, 27 tiveram motivação de gênero, com violência doméstica representando 85% dos casos e 74% das vítimas sendo mulheres negras.
Esses dados do Observatório Caliandra, vinculados ao Ministério Público de Mato Grosso, foram apresentados em audiência pública na Assembleia Legislativa do estado, em Cuiabá, nesta quinta-feira (11). O encontro, conduzido pela deputada estadual Edna Sampaio (PT), reuniu autoridades para debater os alarmantes índices de feminicídio.
Esta audiência é a primeira de uma série planejada para subsidiar políticas públicas sobre o tema, com encontros programados para Rondonópolis, no dia 15, e Cáceres, no dia 18.
Entre as propostas discutidas estão a criação da Secretaria Estadual da Mulher, ampliação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e a implantação de uma rede de saúde mental exclusiva para mulheres. Também foram debatidos a instalação de uma casa de acolhimento em Mato Grosso e a destinação de recursos específicos no orçamento estadual.
A pesquisadora Terlúcia Maria da Silva, diretora de Proteção e Direitos da Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, destacou que a violência de gênero é um problema social complexo, demandando soluções multifacetadas, e ressaltou a importância da atuação das instituições públicas.
Segundo Terlúcia, a prevenção é o foco do Ministério das Mulheres, e o engajamento local é essencial para a implementação eficaz das políticas. “É preciso fortalecer redes locais e criar serviços que acolham as mulheres”, disse.
Deputada Edna Sampaio reforçou que, no país, a cada 17 horas uma mulher é assassinada, e que os números em Mato Grosso refletem falhas na proteção à vida feminina. Ela salientou a necessidade de analisar o fenômeno do feminicídio e fortalecer a rede de proteção existente, destacando Cuiabá como um dos municípios com maiores índices.
A promotora Claire Vogel Dutra destacou que Mato Grosso liderou o ranking nacional de feminicídios em 2023 e 2024, e que os índices de 2025 seguem preocupantes. Segundo ela, investimentos em segurança, saúde, educação e políticas sociais são fundamentais para quebrar o ciclo da violência.
Isabel Farias, do Movimento Negro Unificado, reforçou que o racismo agrava a violência contra mulheres negras e periféricas e elogiou a audiência como espaço de representação para mulheres quilombolas.
Alunos da Escola Estadual Presidente Médici, de Cuiabá, também participaram, destacando a importância da prevenção e da educação desde cedo. Amanda Cristina dos Santos Silva, de 17 anos, afirmou que debater a violência é essencial para promover mudanças.
O evento contou com representantes de diversas instituições e trouxe ainda a exposição “Do amor à dor”, com cordéis da UFMT e fotos de vítimas de feminicídio em Mato Grosso.
Fonte: cenariomt