Notícias

Ministro Moraes decidirá sobre visitas e prisão domiciliar de Bolsonaro: entenda o caso

Grupo do Whatsapp Cuiabá
2025 word2

O ex-presidente Jair Bolsonaro permanecerá sob controle do ministro Alexandre de Moraes ao longo do cumprimento da pena de 27 anos de prisão, iniciada nesta terça-feira (25). Com o trânsito em julgado de sua condenação pela suposta tentativa de golpe, o processo criminal se encerra e será aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) um novo procedimento, sob relatoria de Moraes, para monitorar a execução da pena.

Na decisão que determinou a permanência do ex-presidente numa cela especial da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, o ministro definiu que as visitas terão de ser previamente autorizadas por ele e só poderão ser realizadas dentro das regras estipuladas pelo estabelecimento: somente às terças e quintas-feiras, das 9h às 11h, limite de dois familiares por dia, e entrada individualizada — cada familiar visita o preso separadamente por no máximo 30 minutos.

Também caberá a Moraes reavaliar um eventual retorno de Bolsonaro à prisão domiciliar, em razão das complicações de saúde pelas sequelas da facada de 2018. Na última sexta (21), a defesa do ex-presidente pediu ao ministro para que ele fosse mantido em casa no cumprimento da pena com monitoramento da tornozeleira eletrônica. O ministro, no entanto, arquivou esse pedido depois de determinar a prisão preventiva, no sábado (22), apontando risco de fuga e violação do equipamento.

A defesa poderá apresentar novo pedido semelhante; na petição anterior, os advogados apontaram “necessidade de tratamento contínuo, monitorização multifatorial e possibilidade de intercorrências súbitas potencialmente fatais”, destacando que o ambiente da prisão “não dispõe da infraestrutura necessária para manejo clínico e emergencial adequado”.

Juntou ao pedido diversos laudos médicos que apontam “doença grave de natureza múltipla (cardiológica, pulmonar, gastrointestinal, neurológica e oncológica)”, o que demandaria acesso periódico a exames, uso de equipamentos elétricos – caso do CPAP, para controle da apneia do sono – e uso contínuo de medicamentos, além de acompanhamento médico de várias especialidades.

Na decisão que determinou o cumprimento da pena, Moraes autorizou atendimento médico em tempo integral para Bolsonaro, inclusive em regime de plantão. Os médicos que já acompanham o ex-presidente terão acesso livre, independentemente de prévia autorização judicial, como exigiu para as demais visitas.

No início deste ano, quando determinou a prisão do ex-presidente Fernando Collor, também condenado pelo STF, para cumprir pena em regime fechado, Moraes autorizou que ele voltasse para casa após cinco dias no presídio. Na época, a defesa juntou exames e laudos apontando doenças de Parkinson, apneia do sono grave, transtorno afetivo bipolar e idade avançada (no caso, 75 anos).

A defesa de Bolsonaro vê situação semelhante, destacando um câncer de pele, recentemente diagnosticado, e o quadro de refluxos e soluços constantes.

Nesta terça, pela manhã, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), reclamaram das condições da prisão do pai na PF.

O primeiro disse que há uma ordem para proibir que a família leve comida para o ex-presidente. Segundo ele, isso comprometeria a saúde de Bolsonaro, uma vez que ele precisa se alimentar com uma dieta recomendada pelos médicos.

Na noite desta terça (25), Moraes autorizou Bolsonaro a receber alimentação especial na na PF, atendendo a um pedido da defesa. A comida deverá ser levada por “pessoa previamente cadastrada pela defesa do custodiado e no horário fixado pela Polícia Federal, que deverá fiscalizar e registrar o que for entregue”.

Carlos, por sua vez, queixou-se do tempo limitado, de 30 minutos, para receber cada familiar e destacou o desgaste emocional que o pai vem sofrendo com as sucessivas restrições de Moraes.

Criminalistas veem rigidez maior com Bolsonaro do que com Lula e Collor

Advogados e professores com experiência na área criminal consideram que Moraes tem adotado uma rigidez maior com Bolsonaro do que na execução da pena de Collor, na qual é relator, e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja prisão foi decretada em 2018 pelo então juiz Sergio Moro, que conduzia a Operação Lava Jato em Curitiba.

A primeira diferença é a própria supervisão da pena. Na época, Moro remeteu o processo à juíza Carolina Lebbos, de outra vara federal no Paraná. É o que ocorre com praticamente todos os processos que tramitam na primeira instância: o juiz da execução é distinto do magistrado que profere a decisão condenatória.

O professor de direito penal César Dario Mariano da Silva diz que essa separação é essencial para uma pena justa, porque impede que o juiz seja “contaminado” pelo envolvimento que teria caso também julgasse as acusações do processo criminal.

“Aquele que condena vai querer uma execução mais dura. Isso é péssimo, porque acaba refletindo no ânimo do julgador. Sei que pelo regimento do STF é assim, mas teria que ser outro ministro por sorteio. O ideal era que a execução penal fosse para um juiz de primeira instância, do local onde se cumpre a pena. Mas ficando no STF, a execução da pena deveria caber a algum ministro sorteado, de outra turma, que não tenha participado do julgamento da ação penal”, opina Mariano.

Além de ter encaminhado a execução penal para outra juíza, como ocorre normalmente, Moro também deu tempo a Lula para se entregar voluntariamente à Polícia Federal “em atenção à dignidade cargo que ocupou”. Deu um prazo de 24 horas para o petista se se apresentar; o petista foi para o Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo (SP) e só saiu após o prazo estipulado.

“No caso do Lula, ele se entregou quando quis e houve 580 dias de vigília em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba”, lembra a advogada Carolina Siebra.

Ela também critica o regime de visitação imposto a Bolsonaro. No caso de Lula, eram frequentes as visitas de correligionários e personalidades. Posteriormente, ele passou a dar também entrevistas à imprensa. Há três meses, Bolsonaro está praticamente proibido de se manifestar publicamente ou aparecer nas redes sociais, porque, segundo Moraes, suas posições configurariam uma tentativa de coagir o Judiciário.

Siebra vê um “um procedimento completamente diferente de tudo que tem sido visto em matéria processual”. “Não existe esse tipo de diminuição da visitação. O preso tem direito a receber visita, principalmente dos familiares”, critica a advogada.

Para o advogado Richard Campanari, o paralelo entre a situação de Bolsonaro e de Collor é “inevitável, e justamente por isso, incômodo”. Para ele, o quadro clínico de Bolsonaro, embora distinto, não é menos preocupante.

“Com o devido respeito a quem entende diferente, o quadro clínico é ainda mais grave. Bolsonaro é mais jovem que Collor, mas já é um septuagenário com sequelas permanentes de um atentado político amplamente documentado — embora muito mal apurado, na minha visão”, diz.

“Se a chave para Collor foi idade avançada, mais comorbidades graves, mais risco de piora com o cárcere fechado, por que a mesma lógica humanitária não foi sequer testada com seriedade para um ex-presidente que também carrega um histórico cirúrgico e clínico consistente?”, questiona o advogado.

Fonte: gazetadopovo

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.