Nos últimos dias, uma campanha chamada “Demita Extremistas” ganhou força nas redes sociais, capitaneada pelo empresário Tallis Gomes, fundador do G4 Educação, e pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). O movimento teve início após a identificação, pelos idealizadores da campanha, de uma série de comentários comemorativos ao assassinato do ativista conservador Charlie Kirk em um atentado em uma universidade americana na quarta-feira (10).
No domingo (14), Tallis Gomes – que possui cerca de 1,8 milhão de seguidores nas redes sociais – publicou um vídeo incentivando que empresários demitam “pessoas que comemoram a morte de inocentes, que vibram com destruição ou espalham ódio moral”, em referência à morte de Kirk. “O extremista ideológico não quer trabalhar. Ele quer ressignificar a empresa até ela deixar de existir”, disse.
Em novo vídeo publicado nesta terça-feira (16) o empresário diz que “a campanha não incentiva demissão por opinião, mas sim por comportamento criminoso, propagação de ódio e incentivo à destruição da vida, ao caos e à desordem”. Tallis defende que “a medida vale para ambos os lados” e reconhece que há riscos de processos trabalhistas contra empresários.
Dias antes, Nikolas Ferreira havia iniciado a mobilização em suas redes sociais, que totalizam quase 35 milhões de seguidores. “O movimento começou: demita os verdadeiros extremistas de sua empresa. Denuncie”, publicou o parlamentar na sexta-feira (12). Antes, na quinta (11), o parlamentar publicou uma captura de tela com o comentário de um homem em seu perfil que postou: “Que você seja o próximo”. No mesmo dia, a empresa que empregava o rapaz anunciou a demissão.
De lá para cá, o parlamentar anunciou várias demissões. Um dos casos envolve um sobrinho do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Luís Otávio Kalil comentou a morte de Charlie Kirk no Instagram com a frase “já vai é tarde”. Após o parlamentar do PL expor a mensagem nas redes sociais, a empresa onde ele trabalhava anunciou sua demissão.
Outro episódio tem a ver com um neurocirurgião pernambucano que exaltou o assassinato de Kirk nas redes: “Um salve a este companheiro de mira impecável. Coluna cervical”, escreveu o médico sobre o atirador. Nikolas pediu ao líder do Partido Liberal na Câmara do Recife, Thiago Medina, que cobrasse sua expulsão do Conselho Regional de Medicina (CRM). Em seguida, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco (Cremepe) anunciou que seguiria “o rito processual previsto para a devida apuração do caso”.
O caso mais recente foi a demissão de Zazá Pecego, estilista sênior da Vogue Brasil. Ela compartilhou a frase “amo quando fascistas morrem agonizando” dois dias após o atentado contra Kirk e foi demitida na sexta-feira (12).
“Comecei um movimento aqui no Brasil pedindo às empresas que demitam funcionários que celebram, apoiam ou incentivam a morte de oponentes políticos – especialmente os servidores públicos. Não queremos que o dinheiro dos nossos impostos sustente essas pessoas (…). Eles são livres para dizer o que quiserem, mas as empresas também são livres para demiti-los”, publicou Nikolas no dia 12.
Ainda não há registro de grandes empresas brasileiras que tenham iniciado algum movimento de demissões por motivo de extremismo nos últimos dias, apenas comentários de empresários que apoiam a iniciativa. “Agora quem está feliz pela morte de alguém, está feliz por perder o emprego também? Que bom que as empresas estão acordando”, publicou a empresária Cris Arcangeli, dona de 14 empresas e participante do programa Shark Tank Brasil.
Tallis diz que críticas à campanha são “equivocadas e maliciosas”
Questionado pela reportagem sobre as críticas a respeito de possível perseguição ideológica a quem pensa diferente dentro da organização, Tallis Gomes disse que se tratam de “interpretações completamente equivocadas e até maliciosas da proposta da campanha”.
“Quando alguém manifesta desejo de matar alguém ou sugere que uma pessoa pública ‘deveria morrer’, isso pode configurar crime de ameaça, previsto no artigo 147 do Código Penal, e até incitação ao crime (artigo 286). Um colaborador que comemora assassinatos e manifesta desejo de matar terceiros demonstra conduta gravíssima, que quebra, de forma irreparável, a fidúcia necessária para a manutenção do contrato”, diz o empresário.
“O artigo 482 da CLT prevê justa causa por mau procedimento, ato de indisciplina ou insubordinação, ato lesivo da honra e boa fama e prática de ato atentatório à segurança nacional (no limite). Atitudes extremistas enquadram-se, no mínimo, em mau procedimento e em ato lesivo de honra e boa fama”, declara.
PSOL denuncia Nikolas e Tallis Gomes à Justiça do Trabalho
Nesta terça-feira (16), nove deputados do PSOL apresentaram denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT) contra Nikolas e Tallis Gomes. “O constrangimento, a coação, a intimidação e a ameaça de demissão por motivos de convicção filosófica ou política, sejam os empregados de esquerda ou que simplesmente não compactuem com opiniões de direita ou de extrema-direita, configuram situações de evidente abuso de direito e assédio laboral, que não podem ser toleradas nem incentivadas, como ilicitamente vem fazendo o parlamentar”, dizem os autores da ação – dentre eles Guilherme Boulos, Erika Hilton e Talíria Perone.
Na representação, os parlamentares argumentam que “o poder diretivo do empregador não contempla a imposição de convicções políticas e ideológicas. Assim, ao firmarem contrato de trabalho, os trabalhadores tem a expectativa de que suas convicções filosóficas e políticas sejam respeitadas no âmbito de suas individualidades. Vale dizer que o empregador compra as horas de trabalho do empregado, mas não suas convicções filosóficas e políticas”.
Fonte: gazetadopovo