CENÁRIO POLÍTICO

Conheça os influenciadores de esquerda que colaboram com o STF

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Grupo do Whatsapp Cuiabá

O Supremo Tribunal Federal convidou 26 influenciadores digitais para um encontro de dois dias em sua sede, em Brasília, em uma tentativa de melhorar sua imagem com a sociedade (ou ficar bem na fita, como se dizia na era analógica). Com essa missão, era de se esperar que houvesse mais simpatizantes do que críticos na lista de convidados. Mas ficou um tanto exagerado.

A maioria dos influenciadores convidados tem viés de esquerda. Alguns são parceiros do governo federal (Lula já disse que não governa sem o STF). O resultado, claro, não seria diferente: elogios, selfies com os ministros e uma tietagem por vezes constrangedora.

A proposta do “Leis e Likes: o papel do Judiciário e a influência digital” era levar pessoas de diferentes perfis, nichos de conteúdos e regiões do país. Mas a lista VIP criada pela organização Redes Cordiais foi tendenciosa.

Nem todos são de esquerda e alguns não se manifestaram nas suas plataformas, independentemente de posição política. Apenas foram, cumpriram o protocolo e não deixaram vestígios em seus feeds (onde ficam as publicações permanentes).

Outros, como Nath Finanças, Fred Nicácio, Anaterra Oliveira e Mizael Silva tiraram fotos com Alexandre de Moraes e fizeram textão enaltecendo o STF. Não que as pessoas não possam ter opiniões distintas, mas a questão é: elas foram convidadas por terem um viés alinhado com o STF (ou talvez com o governo)?

No Supremo, os influenciadores puderam conversar com os ministros Luís Roberto Barroso (presidente), Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Os três magistrados atualmente estão no centro de discussões mais sensíveis, embora o Judiciário não devesse se preocupar com a imagem, uma vez que os membros não são eleitos pelo povo.

Todos fizeram questão de destacar que “nenhum influencer recebeu cachê por sua participação, uma vez que o encontro tem contrapartida 100% social e o STF não custeia as visitas”. O evento teve apoio do YouTube, da OAB Nacional e da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) a parceria do Instituto Justiça e Cidadania (IJC). Advogados, no entanto, questionam quem pagou pelos custos.

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Veja o perfil de alguns dos influenciadores convidados para fazer o STF parecer legal:

Nath Finanças

A administradora Nathália Rodrigues ficou conhecida na internet pelas dicas práticas e linguagem acessível sobre educação financeira voltada para o público de baixa renda. Nath é defensora e parceira do governo Lula. Desde 2023, faz parte do “Conselhão”, um grupo que reúne representantes da sociedade civil para debater e recomendar medidas ao presidente da República.

Ela também já atuou como embaixadora de uma certa “Olímpiada do Tesouro Direto de Educação Financeira”, e foi chamada para explicar aos alunos como investir os R$ 200 pagos pelo governo no programa de incentivo à frequência às aulas Pé-de-meia.

Nath não só postou selfie com Moraes como ainda fez um longo texto em que provoca os apoiadores de Jair Bolsonaro: “Foi muito especial conhecer a história da Constituição. Não recebi nada por isso e não houve uso de dinheiro público. É claro que tirei foto com o terror dos Bolsonaristas. SEM ANISTIA”.

Déia Freitas

Psicóloga, roteirista e contadora de histórias, Déia Freitas é uma das vozes mais conhecidas dos podcasts brasileiros com o programa “Não Inviabilize”, em que narra histórias engraçadas e inusitadas de seus ouvintes. Ela é de esquerda, ativista por causas raciais, feministas e de distribuição de renda.

Em 2022, em um depoimento publicado pelo site Poder 360, Déia disse por que vota em Lula. Segundo o seu relato, o presidente influenciou muito a sua vida e a da sua família, que era de operários. No ano passado, ela comprou um apartamento para cada um de seus cinco funcionários.

Influenciadores em evento do STFAlexandre de Moraes e influenciadores digitais em evento no STF (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

Fred Nicácio

Em seu Instagram, o médico, apresentador do programa Queer Eye Brasil e ex-BBB, Fred Nicácio levanta as bandeiras do racismo e dos direitos LGBT. Entre as várias (muitas!) selfies postadas, também publica dicas de saúde, festas e sobre sua religião.

Fred foi convidado pelo Ministério da Saúde para apresentar o videocast “Conversas que Curam”, um programa que aborda temas de saúde pública. O influenciador foi um dos poucos que não limitaram a tietagem a “Xandão”: ele também tirou foto com o ministro Luís Roberto Barroso.

Após o passeio, o ex-BBB postou, emocionado: “Ainda estou reverberando a energia de tantos bons encontros, com Ministros, Juízas, Funcionários e toda equipe da ONG Redes Cordiais. O STF É O GUARDIÃO DA CONSTITUIÇÃO. Não existe sistema democrático brasileiro sem STF, qualquer ameaça a existência desse poder é inconstitucional, ou seja, ditatorial e opressor”.

Antonio Tabet

Também conhecido como “Kibe Loco”, Tabet é dos fundadores do canal de humor Porta dos Fundos, criador do personagem truculento “Sargento-Tenente-Major” Peçanha, ex-namorado da jornalista Natuza Nery e ex-vice-presidente de comunicação do Flamengo. Está também à frente do programa semanal Alt Tabet, onde já entrevistou Erika Hilton, Ernesto Paglia, Dora Kaufmann, Antonio Fagundes, Drauzio Varela, Joice Hasselmann, Boulos e figuras do esporte.

Sua biografia no X (ex-Twitter) diz: “Brasil, o país onde política é futebol, futebol é religião e religião é política”. Os três temas são recorrentes em seus posts nas redes sociais, principalmente esporte. Em junho, após sua saída do Porta, Tabet anunciou que se tornou acionista também da N Sports, canal de transmissões esportivas.

Entre os posts sobre futebol, Tabet faz piada com figuras como o ministro Alexandre de Moraes e a ex-presidente Dilma Rousseff, mas a maior parte das críticas é voltada para o ex-presidente Jair Bolsonaro (com quem já bateu-boca na internet) e sua família. Tabet foi um dos poucos que não tirou selfie com os ministros nem postou nada em sua timeline do Instagram.

Yuri Marçal

O humorista carioca ficou conhecido nas redes sociais por falar de questões raciais, situações do dia a dia e da sua religião, o Candomblé, que ele chama de “macumba”. Tem 1,3 milhão de seguidores no Instagram, 420 mil no X e faz comédia stand-up.

Invariavelmente, as sátiras sobre política de Marçal são direcionadas à direita. Entre suas postagens recentes, ele comemorou o anúncio da prisão de Bolsonaro e compartilhou um vídeo de Erika Hilton falando sobre o Pix.

Mizael Silva

Silva é um comediante que ganhou projeção na internet por se autoproclamar “advogado do Alexandre de Moraes” (o crachá entregue pelo STF estava escrito “advogado do Xandão”). O paraibano de 27 anos faz vídeos nas ruas questionando pessoas comuns sobre decisões do ministro e debates políticos atuais.

No encontro com o seu “cliente”, Mizael perguntou a Moraes porque o processo de Bolsonaro estava sendo rápido e o do INSS, não. Não sem antes dar uma amaciada no ego do magistrado, a quem chamou de “pai deste Brasil”.

2025 word2Nicácio: emoção em visita ao STF. (Foto: Reprodução/Instagram)

Luana Xavier

A atriz e roteirista é uma das vozes ativa nas redes sociais em defesa dos direitos de pessoas negras e da diversidade no audiovisual. Luana também é debatedora do programa “Sem Censura”, da TV Brasil, da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), do governo federal.

Luana também está com um espetáculo em cartaz em Salvador. O projeto “Meus Cabelos Baobá” foi contemplado nos Editais da Política Nacional Aldir Blanc Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, governado pelo PT, via Ministério da Cultura.

Anaterra Oliveira

O conteúdo da influenciadora é composto por entrevistas com transeuntes sobre temas em alta e questões raciais e sociais, como feminismo, violência doméstica e racismo. Anaterra foi além da selfie e textão dos colegas: defendeu o Supremo e debochou dos comentários de que os influenciadores teriam sido pagos e de que há ditadura no STF.

“Numa ditadura não se pode criticar a Ditadura, comentários como os que são feitos todos os dias sobre o governo seriam apagados e os autores dos comentários seriam presos. O que não se assemelha em nada aos atos golpistas de 8 de janeiro e as consequências que as pessoas que praticaram vandalismo estão sofrendo”, escreveu.

Talvez sem querer, o STF tenha exposto as consequências de se informar apenas por meio de influenciadores digitais.

Fonte: gazetadopovo

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