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Conheça o Museu de Eletrônicos em Empresa de Reciclagem: Televisores Antigos, Celulares Tijolões e Escafandros Inusitados

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Em uma das salas no segundo andar da Ecodescarte, uma empresa especializada na reciclagem de eletrônicos em Cuiabá, um escafandro antigo repousa sobre uma das prateleiras do local que se tornou um museu feito de “lixo”. Na avenida Antônio Quirino de Araújo, no bairro Poção, a peça de mergulho de cobre maciço está bem longe do mar. Ela foi comprada por quilo, como sucata. Mas hoje vale pelo menos R$ 10 mil, e ainda mais do que isso: carrega o valor simbólico de tudo o que seria lixo e acabou preservado. O trabalho com peças eletrônicas começou com o patriarca da família Pegorini e hoje é administrado pelos dois filhos, Thiago Pegorini, de 38 anos, e seu irmão, Pedro Pegorini, de 37. 


Na sala de prateleiras cobertas por antiguidades, Thiago conta ao Olhar Conceito, que o escafandro é a peça mais curiosa do pequeno museu da Ecodescarte. “Esse museu surgiu porque a gente aprendeu, por conta do nosso pai, a valorizar o que é antigo, o que carrega memórias”.
Com o tempo, ao receberem equipamentos eletrônicos para reciclagem, foram separando aqueles que ainda estavam conservados, que contavam uma história e que mereciam ser guardados. Começou com algumas caixas. Hoje, é uma sala completa, com vinis, televisores antigos, “celulares tijolão”, filmadoras, gravadores de rolo, computadores e aquele escafandro que jamais teria aparecido num galpão em Cuiabá, não fosse o acaso.
Thiago explica que a Ecodescarte não surgiu como museu, mas como solução. No começo dos anos 2000, o pai dos Pegorini, Luiz Pegorini, hoje com 64 anos, tinha uma loja de informática tradicional na avenida Getúlio Vargas. Quando o comércio faliu, ele passou a vender, por conta própria, as peças usadas que sobraram da loja. 
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Acabou abrindo o Usadão Informática, loja que vende peças usadas e aceita consertos, onde o acúmulo de equipamentos inutilizados começou a incomodar. Ao tentar vender as peças inservíveis, Luiz compartilhou aos filhos um problema: não havia em Cuiabá nenhuma empresa especializada em reciclagem de eletrônicos. Aquela dificuldade virou oportunidade.
Em 2012, a Ecodescarte foi fundada, como empresa dedicada exclusivamente à gestão de resíduos eletrônicos. “O campo da reciclagem é muito amplo. A gente entendeu que teria que ter esse foco para desenvolver um trabalho com profundidade”, explica Thiago. 
A empresa começou pequena, num espaço apertado, coletando materiais de pessoas físicas, empresas, e com campanhas de arrecadação. Uma das mais bem-sucedidas foi em parceria com o Hospital de Câncer de Mato Grosso: todo eletrônico doado era reciclado, e o valor revertido ao hospital. Em cinco anos, mais de R$ 400 mil foram repassados. 
“É uma mensagem poderosa: aquilo que é lixo para alguns pode virar ajuda para outros”, diz Thiago.
Há dois anos, a Ecodescarte está em um galpão maior, planejado para atender todas as fases que envolvem a gestão de resíduos eletrônicos. Coletas maiores são feitas gratuitamente em Cuiabá e Várzea Grande, e os materiais chegam por todos os lados: empresas, casas, pessoas que juntam equipamentos antigos e não sabem o que fazer com eles. 
“A maioria do que recebemos ainda é via doação. A pessoa junta um ‘lixo’, chama a gente e, muitas vezes, nós vemos ali algo incrível, que merecia ser conservado”.
Foi assim com o piano de ar, um instrumento raríssimo que chegou em perfeitas condições e está no museu. Ou com os celulares que hoje causam espanto nas crianças que visitam o local. 
“Tem criança que não sabe o que é um gravador de fita. E a gente mostra como tudo o que hoje cabe num celular já foi uma sala inteira de equipamentos”.
Apesar da aura romântica do museu, a Ecodescarte é antes de tudo um negócio. Thiago reforça que o negócio tem impacto ambiental, econômico e social. A empresa coleta, separa, vende materiais, e opera dentro de uma cadeia de reaproveitamento. Equipamentos quebrados ainda têm valor para técnicos e pessoas que retiram peças e consertam outros aparelhos. 
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Um dos desafios mais complexos é o descarte final de placas eletrônicas que não funcionam mais e não têm reuso. Thiago explica que, no Brasil, não há uma estrutura adequada para reciclá-las de forma segura. 
Por isso, parte do material precisa ser enviada para o exterior, onde há tecnologias para extrair metais pesados e evitar contaminação do solo e da água. 
“Quando você descarta um equipamento eletrônico em qualquer lugar, ele vai para o solo, chove, e os metais pesados escorrem para o lençol freático. A reciclagem evita exatamente isso”, explica Thiago.
Nos últimos anos, outro desafio surgiu: o aumento da quantidade de plástico nos eletrônicos. “Antes, os equipamentos eram robustos, com ferro, cobre, alumínio. Hoje é tudo plástico. A qualidade empobreceu, e os produtos se tornaram cada vez mais descartáveis”. 
Para lidar com isso, a Ecodescarte criou um novo braço: reciclagem de plástico duro, aquele usado em eletrônicos. Trouxeram um técnico em polímeros de São Paulo e criaram uma linha de separação e trituração do material. Depois, ele é enviado de volta para o sudeste, onde volta a entrar na cadeia industrial.
No final, cada equipamento que entra na Ecodescarte é desmontado em vários pedacinhos: cabos, conectores, chips, metais, plástico. Tudo vai para um destino específico. Apenas uma fração pequena do que entra acaba em aterros. 
“Cada produto vira vários pedacinhos de coisas e você vai ficando meio perdido, só que pouco a pouco você vai achando soluções. Acho que ao longo desses 10 anos conseguimos, literalmente, achar solução para quase tudo. Hoje tem um percentual pequeno do que recebemos que vai para aterro, que são coisas que não tem mais reciclagem possível, é um percentual bem pequeno perto do volume que recebemos. Não é só lixo, é um negócio”.
 

 

Fonte: Olhar Direto

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