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Ruínas de São Miguel das Missões: a história do povoamento jesuíta no interior gaúcho

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O noroeste do Rio Grande do Sul não costuma ser incluído em muitos roteiros turísticos por estar longe da capital gaúcha. Mas é ali que fica a Rota das Missões e um conjunto impressionante de ruínas, que ajudam a compreender a interação dos povos originários do extremo sul brasileiro com a religião vinda da Europa.

Nenhuma delas é tão bem preservada quanto as da antiga redução jesuítica de São Miguel Arcanjo, no atual município de São Miguel das Missões, a 475 km de Porto Alegre. O complexo, que inclui a fachada e o campanário de uma antiga igreja erguida pelos indígenas que habitavam o local no século 17, é considerado um Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 1983.

A história das Missões jesuíticas

As “Missões”, também chamadas de “reduções”, eram povoamentos organizados pelos padres jesuítas com o objetivo de consolidar o cristianismo entre os povos nativos das Américas. Várias delas foram estabelecidas ao redor do continente, mas o sistema mais bem estruturado no que hoje é território brasileiro ficava no noroeste do atual Rio Grande do Sul, compondo os chamados Sete Povos das Missões.

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Interior da igreja de São Miguel Arcanjo (Itatibamario/Wikimedia Commons)

Como o nome indica, foram sete missões administradas pelos jesuítas nessa parte do mapa. Além de catequizar os indígenas guaranis, as reduções funcionavam como pequenos povoados autossustentados. Algumas delas chegaram a ter populações que superavam os cinco mil habitantes, vivendo em casas dispostas ao redor da praça onde ficava a grande igreja da redução. Na literatura, os Sete Povos são mencionados por Erico Verissimo em seu épico O Continente.

Todas as reduções ficavam em municípios que existem até hoje com os nomes dos santos homenageados na época, como São Borja, na fronteira com a Argentina, ou Santo Ângelo. Essa última guarda a Catedral Angelopolitana, erguida no século 20 e inspirada na arquitetura original das igrejas erguidas pelos guaranis. Mas é em São Miguel que permanecem em pé as ruínas mais conservadas ainda hoje.

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Erguida no século 20, a Catedral Angelopolitana, na vizinha Santo Ângelo, é livremente inspirada no desenho imaginado para a igreja de São Miguel Arcanjo completa (Ricardo630/Wikimedia Commons)

O sistema que embasava as Missões entrou em colapso conforme as monarquias da Península Ibérica começaram a ver na Companhia de Jesus uma ameaça ao seu controle político na região. No caso dos Sete Povos, o golpe fatal veio com o Tratado de Madri, em 1750, através do qual Portugal e Espanha trocavam territórios um com o outro: os espanhóis recebiam a Colônia do Sacramento, até então lusitana (e hoje parte do Uruguai), enquanto os portugueses recebiam áreas do atual Rio Grande do Sul que incluíam os Sete Povos.

O que veio a seguir foram as chamadas Guerras Guaraníticas, um dos mais sangrentos conflitos envolvendo povos indígenas sublevados contra o poder colonial. Abandonados à própria sorte contra os exércitos europeus, guaranis e missionários tentaram defender a autonomia das reduções, mas foram derrotados. As missões acabaram destruídas e saqueadas e da maioria, com exceção de São Miguel, restaram apenas amontoados de pedras no chão.

Como visitar as ruínas de São Miguel

Situado a 475 km de Porto Alegre, o sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo acaba ficando bem fora da rota de quem vai ao Rio Grande do Sul para conhecer a capital ou a muito visitada Serra Gaúcha. A melhor maneira de acessar o local, vindo de fora do estado, é pelo aeroporto de Santo Ângelo, a 70 km. Outra opção, devido à escassez de voos, é chegar por Passo Fundo, a 250 km.

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Vista aérea do Sítio Arqueológico de São Miguel (Fernando Gomes/Wikimedia Commons)

A entrada no parque custa R$ 10 e inclui acesso a todas as ruínas, além do Museu das Missões, que funciona no complexo. Diariamente, à noite, ocorre também o espetáculo “Som e Luz”, considerado um Patrimônio Imaterial do Rio Grande do Sul, uma narrativa dramática – com vozes como as de Fernanda Montenegro e Lima Duarte – em que as ruínas são iluminadas enquanto a história da redução é contada.

Há uma taxa de R$ 25 para o show, que tem duração de 48 minutos. Informações adicionais podem ser obtidas pelo email parque.missoes@iphan.gov.br.

Veja um guia completo de São Miguel das Missões

Fonte: viagemeturismo

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