A primeira vítima das tiranias, pelo que comprova a experiência dos últimos 2 mil anos, costuma ser a verdade — se bem que tantas misérias costumam chegar juntas, nesses casos, que fica difícil cravar as top 10. O efeito mais visível é a pane geral nos circuitos cerebrais onde se produz o pensamento racional. O debate político cessa de emitir sinais de vida inteligente.
É precisamente o que está acontecendo neste momento de escuridão que cerca o mais vicioso conflito jamais surgido nas relações do Brasil com a maior potência econômica, militar e política do mundo. . A reação oficial brasileira é um hino contra a razão.
Em nenhum aspecto do contencioso o Brasil de Brasília e o seu sistema de propaganda estão construindo uma calamidade tão reles quanto no pacto anormal que têm com o ministro Moraes. O governo brasileiro decidiu que Moraes, cujas decisões e conduta são o verdadeiro motivo pelo qual os americanos adotaram as sanções, está acima das obrigações humanas, como os arcanjos e os profetas. O Brasil é o ministro. O ministro é o Brasil.
Não chega a ser uma ideia; é apenas uma proposição estúpida. Por conta dela, todo cidadão brasileiro está no dever cívico, quase legal, de apoiar o ministro nas suas desventuras com a lei americana — e nas decisões em que viola a lei brasileira. Não importa o que tenha feito na sua função. Ou você fica do lado dele, e do que ele faz — ou então é linchado como traidor da pátria, sabotador do Brasil e inimigo da soberania nacional. É dessa descompensação que sai a última causa da esquerda nacional, como o “Sem Anistia” e outros naufrágios: “Mexeu com o Xandão, mexeu com os brasileiros”.
Com os “brasileiros”? Que brasileiros, cara pálida? Mexeu nada. Só mexeu com o próprio Moraes. Os crimes de que é acusado pelo governo americano — e que o jogam na escória mundial dos torturadores, assassinos em massa, genocidas, terroristas, criminosos de guerra etc. etc. — não têm absolutamente nada a ver com os “brasileiros”. Têm a ver apenas com Moraes e com os seus cúmplices. Não são problema seu. São problema deles.
Não foi você, nem , que abriu ilegalmente um inquérito policial que já dura seis anos, serve de caixa de ferramentas para todo tipo de repressão e torna ilegal tudo o que deriva dele — como os processos do golpe. Não foram os “brasileiros” que condenaram a 17 anos de prisão a moça do batom. Não fomos nós que levamos à morte o “Clezão”. Por que temos de pagar pelo que ele fez?
Fonte: revistaoeste