Pela primeira vez na América Latina, cientistas brasileiros identificaram microplásticos em placentas e cordões umbilicais de bebês recém-nascidos. O estudo, liderado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), analisou amostras de gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Maceió e revelou que, em 80% dos casos, a concentração de partículas era maior no cordão do que na placenta.
A pesquisa utilizou a técnica de espectroscopia Micro-Raman para identificar a composição química dos materiais, detectando 110 partículas nas placentas e 119 nos cordões. Os principais compostos encontrados foram polietileno, comum em embalagens plásticas, e poliamida, usada em tecidos sintéticos.
O líder da pesquisa, Alexandre Urban Borbely, destacou a gravidade dos achados: “Esses plásticos estão chegando aos bebês antes mesmo do nascimento. Durante os nove meses de gestação, quanto mais passou?”
Este é o segundo estudo no mundo a comprovar a presença de microplásticos em cordões umbilicais. A equipe já havia realizado uma investigação similar em parceria com pesquisadores da Universidade do Havaí, mostrando aumento progressivo da contaminação entre 2006 e 2021.
Apesar de todas as amostras brasileiras estarem contaminadas, o número de aditivos químicos foi menor em comparação às norte-americanas. Segundo Borbely, o perfil socioeconômico das gestantes e o tipo de polímero predominante variam conforme a região, influenciando os resultados.
Entre as prováveis fontes de contaminação estão o consumo de frutos do mar, especialmente moluscos, e a ingestão de água mineral armazenada em galões plásticos expostos ao sol. “Como os microplásticos estão até no ar, determinar a origem exata é quase impossível”, explica o pesquisador.
O estudo, financiado por instituições como a Fapeal e o CNPq, será ampliado para incluir 100 gestantes e correlacionar a exposição aos microplásticos com possíveis complicações na gestação e saúde neonatal. Um Centro de Excelência em Pesquisa de Microplástico está sendo implementado com apoio da Finep, e os novos resultados devem ser publicados até 2027.
Borbely alerta para a urgência de políticas públicas: “O Brasil ainda não tem regulamentação para o uso de plásticos. Reduzir a presença no ambiente depende de ações governamentais, como controle da produção e descarte correto”. Para ele, é fundamental compreender os impactos dessa exposição contínua desde o útero: “Estamos formando uma geração com plástico no organismo desde a concepção”.
Fonte: cenariomt