O alerta foi feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que estima que a medida poderá reduzir quase à metade o volume total exportado ao mercado norte-americano, que somou US$ 12,1 bilhões em 2024.
Cadeias produtivas ameaçadas: suco de laranja, açúcar e carne bovina
Segundo o estudo da CNA, a sobretaxa deve comprometer gravemente cadeias estratégicas do agro. No caso do suco de laranja, os US$ 795 milhões exportados em 2024 correm o risco de zerar com a tarifa adicional, tornando o produto comercialmente inviável nos EUA.
A indústria açucareira também aparece entre as mais atingidas. O setor faturou US$ 149 milhões com o mercado norte-americano no ano passado, mas, com o aumento de 50% nos preços finais ao consumidor, a exportação pode simplesmente desaparecer.
No caso da carne bovina, produto em que os EUA são o segundo maior comprador do Brasil, a CNA estima uma perda de 33% na receita. Isso significaria uma queda de US$ 1,91 bilhão para US$ 1,27 bilhão.
Impacto varia entre os setores — café sente menos
Apesar do cenário preocupante, a CNA destacou que nem todos os segmentos do agro serão igualmente afetados. O mercado de café verde, por exemplo, tende a sofrer um impacto menor devido à baixa oferta mundial do grão e à dificuldade dos EUA em substituí-lo por outros fornecedores.
“Setores com menor elasticidade de substituição, como o café, devem sentir menos os efeitos da sobretaxa. Já outros, como suco de laranja e açúcar, serão duramente penalizados”, apontou a CNA.
Metodologia leva em conta a elasticidade das importações
A CNA explicou que os cálculos foram baseados em um modelo de elasticidade — indicador econômico que avalia como a demanda reage ao aumento de preços. A entidade assumiu que o reajuste da tarifa seria replicado integralmente no preço final dos produtos exportados ao mercado norte-americano.
“Assumiu-se que uma tarifa de 50% resultaria em aumento direto de 50% no preço de venda ao consumidor norte-americano, o que afetaria drasticamente a competitividade dos produtos brasileiros”, detalha o estudo.
Tensão diplomática e resposta do Brasil
A nova medida gerou um mal-estar diplomático entre Brasil e Estados Unidos. Em 9 de julho, ao anunciar a tarifa, Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ligando o aumento da alíquota ao processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente réu no STF por tentativa de golpe.
Segundo Trump, a relação com o Brasil estaria “desequilibrada e prejudicial aos interesses dos EUA”. No entanto, os números apontam o contrário: em 2024, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões aos Estados Unidos e importou US$ 40,6 bilhões, gerando um déficit comercial de US$ 253 milhões para o lado brasileiro.
Reação institucional brasileira e mobilização internacional
Em resposta, o governo federal lançou a campanha “O Brasil é dos brasileiros”, com foco na defesa da soberania econômica e do direito ao comércio livre. Um comitê especial, liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, foi formado para negociar a suspensão da tarifa com a Casa Branca.
Além disso, o Brasil levou o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC). Em reunião nesta quarta-feira (23), o Ministério das Relações Exteriores (MRE) classificou a decisão de Trump como “arbitrária e unilateral” e solicitou revisão da medida com base nas regras multilaterais do comércio.
Setor agro alerta para urgência na resolução
Com exportações ameaçadas e cadeias produtivas em risco, o agronegócio brasileiro vive um momento de alta pressão diplomática e econômica. A CNA reforça que a urgência é evitar que setores inteiros sejam excluídos do mercado americano, com consequências diretas para o PIB do agro e o emprego rural.
“Trata-se de uma medida que pode afetar toda a cadeia produtiva do campo à indústria, passando por milhares de pequenos e médios produtores. Precisamos de diálogo institucional e equilíbrio comercial para evitar perdas irreparáveis”, conclui a entidade.
Fonte: cenariomt