O futuro da energia solar pode estar enraizado no passado. Um estudo da Universidade Charles Darwin, da Austrália, revelou que calendários indígenas, desenvolvidos por povos aborígenes australianos ao longo de milhares de anos, são capazes de prever a produção de energia solar com mais precisão do que os modelos computacionais mais avançados.
A energia solar é uma das grandes apostas da sustentabilidade, já que é limpa e está se tornando cada vez mais barata. Mas o planejamento de longo prazo é um dos desafios: tentar prever a produção da energia solar é difícil porque depende de fatores climáticos complexos e da própria atividade do sol.
A nova pesquisa, publicada na IEEE Open Journal of the Computer Society, testou dados baseados nos calendários dos povos Tiwi, Larrakia, Kunwinjku e Ngurrungurrudjba. Ao alimentar um modelo de inteligência artificial com esses dados — chamados em conjunto de “First Nations Seasonal Metrics” — os pesquisadores compararam os resultados com os registros climáticos e de produção solar da Desert Knowledge Australia Solar Centre (DKASC), um centro de pesquisa localizado na cidade australiana de Alice Springs.
O resultado mostrou que os dados indígenas foram 14,6% mais precisos e apresentaram uma taxa de erro 26,2% menor do que os sistemas tradicionais de previsão.
“Incorporar o conhecimento sazonal das Primeiras Nações nas previsões de geração de energia solar pode aumentar significativamente a precisão ao incluir os ciclos naturais observados e compreendidos por milhares de anos”, afirmou Luke Hamlin, doutorando da Universidade Charles Darwin e membro do povo Bundjulang, para a Popular Science.
Enquanto os calendários ocidentais dividem o ano em quatro estações fixas, os sistemas indígenas australianos são baseados em observações locais da natureza, como a floração de plantas, migrações de aves nativas e outros comportamentos de animais. Esses sinais, por sua vez, estão diretamente ligados à radiação solar e padrões climáticos.
O povo Larrakia, por exemplo, reconhece sete estações principais. Para os Tiwi, são três. Essa precisão ecológica se traduz em dados mais ajustados à realidade ambiental de cada região.
“Esses calendários estão intimamente ligados aos padrões climáticos e estações. O profundo entendimento do clima local permite que os povos indígenas tomem decisões sustentáveis de manejo de recursos”, explicam os autores no estudo. “Com as mudanças climáticas alterando os padrões do tempo, esse conhecimento se torna crucial para enfrentar os desafios ambientais.”
Segundo Hamlin, integrar esse saber tradicional aos modelos preditivos permite ajustes que refletem com mais fidelidade as variações ambientais regionais.
Segundo os autores, “esse modelo é especialmente promissor para comunidades rurais que já são lar de grandes populações indígenas. Esses locais também poderiam ser os mais beneficiados com novas fazendas solares.” A ideia agora é expandir o uso do sistema para outras regiões e fontes de energia renovável.
Fonte: abril