O Brasil tem intensificado esforços para fortalecer sua relação com Angola por meio da diversificação da pauta comercial, historicamente centrada em petróleo e agronegócio. A queda no fluxo comercial após 2015 foi influenciada por crises econômicas, efeitos da Lava Jato e avanço da China no continente africano.
Angola, antiga principal fonte de mão de obra escravizada do Brasil e com cerca de 30 mil brasileiros atualmente, mantém laços culturais e linguísticos estreitos com o país sul-americano. A retomada do diálogo bilateral ganhou força com a viagem do presidente Lula a Luanda em 2023, onde foram assinados acordos nas áreas de turismo, educação, saúde, agricultura e exportação.
Durante a visita, Lula também inaugurou a Galeria Ovídio de Andrade Melo, espaço cultural dedicado à arte brasileira e angolana, e anunciou apoio à diversificação econômica angolana. O Brasil reabriu o Consulado-Geral em Luanda, único no continente africano.
Em 2025, foi a vez do presidente angolano, João Lourenço, visitar Brasília. Na ocasião, foi firmado acordo nas áreas de defesa e segurança, incluindo negociações para renovação da frota de aeronaves Super Tucano da Angola com a Embraer.
De acordo com o historiador Gilberto da Silva Guizelin (UFPR), a reaproximação marca uma mudança significativa em relação ao período pós-impeachment de Dilma Rousseff, quando houve redução da presença diplomática e política do Brasil na África.
O comércio bilateral, que já alcançou US$ 4 bilhões em 2008, sofreu retração a partir de 2015, caindo para US$ 670 milhões. Atualmente, Angola representa apenas 0,2% das exportações brasileiras e 0,4% das importações.
Segundo a professora Elga Lessa de Almeida (UFBA), o intercâmbio depende fortemente do petróleo, principal fonte de riqueza angolana. As exportações de Angola para o Brasil são compostas quase exclusivamente por óleos brutos e combustíveis. Já o Brasil exporta principalmente carnes congeladas e açúcares.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) aponta que a queda no comércio em 2015 teve origem em crises econômicas e queda no preço do petróleo. Entre 2021 e 2022, houve crescimento de 143%, atribuído à retomada econômica pós-pandemia.
Outro fator que impactou a relação foi a Operação Lava Jato, que envolveu grandes construtoras brasileiras como Odebrecht e Andrade Gutierrez em investigações que comprometeram contratos com Angola. A ofensiva chinesa sobre o mercado africano também contribuiu para a retração da presença brasileira.
O MDIC acredita que o comércio bilateral deve continuar a crescer, embora enfrente desafios como barreiras logísticas, operacionais e limitações de financiamento por parte dos importadores angolanos.
Fonte: cenariomt