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Tecnologia

Um fã, seis anos e a remasterização do Warcraft Adventures

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Embora essa percepção tenha mudado um pouco nos últimos anos, durante muito tempo a Blizzard Entertainment foi vista como uma das empresas que melhor cuidavam das suas marcas. Sempre colocando jogos de alto nível no mercado, essa busca pela perfeição acabou sacrificando alguns projetos e um deles atendia pelo nome Warcraft Adventures: Lord of the Clans.

Tendo como inspiração alguns clássicos da LucasArts, como The Dig e Full Throttle, a ideia para um adventure point and click baseado na franquia Warcraft nasceu em 1996, quando o pessoal da Capitol Multimedia sugeriu que o estúdio deveria criar um spin-off. Parceiro da desenvolvedora, o conglomerado tinha sob suas asas um estúdio de animação chamado Animation Magic, escolha óbvia para ajudar naquela criação.

Assim, caberia ao estúdio — conhecido pelas versões de The Legend of Zelda para CD-i — a tarefa de criar toda a programação e arte, com os profissionais da Blizzard ficando responsáveis pelo game design e direção. Já as cenas não-interativas, essas contariam com a ajuda dos sul-coreanos da Toon-Us-In para serem produzidas.

Warcraft Adventures: Lord of the Clans começaria logo após os eventos mostrados no Warcraft II: Beyond the Dark Portal, com o protagonista sendo o orc Thrall. Com o objetivo de reunir seu povo, que fora escravizado pelos humanos da Aliança, na aventura ele encontraria vários personagens conhecidos da série.

Mas se no papel o projeto parecia bastante promissor, na prática, ele se mostrou um enorme desafio para a Blizzard. Além de não conseguir adaptar o universo da série para um point and click, o fato de as equipes estarem espalhadas por vários lugares mostrou-se um empecilho maior do que o previsto.

Com os problemas no desenvolvimento se multiplicando, a desenvolvedora não teve outra opção que não fosse adiar o lançamento, inicialmente previsto para os últimos meses de 1997. Então, quando fevereiro do ano seguinte chegou e o projeto seguia sem um norte definido, a diretoria da Blizzard tomou uma decisão que serve para mostrar o caos em que o título se encontrava.

Para tentar melhorar a qualidade do Warcraft Adventures: Lord of the Clans, eles contrataram o game designer Steve Meretzky. Porém, como o jogo já estava quase pronto e com o orçamento estourado, ele não poderia fazer muito mais do que pequenas mudanças na estrutura e na arte do jogo. Aquilo fez com que muitas das ideias de Meretzky fossem ignoradas e sem perceber um avanço, em mais de 1998 a Blizzard preferiu cancelar o desenvolvimento.

Como até aquela data a imprensa vinha dando bastante atenção ao jogo, os fãs obviamente não gostaram de saber que nunca poderiam experimentar o adventure. Mesmo com a história sendo adaptada em 2001 no livro Warcraft: Lord of the Clans, de Christie Golden e ela servindo como base para o Warcraft III: Reign of Chaos e influenciando o World of Warcraft e o filme Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos, ainda ficou o gosto amargo por não podermos jogar a história de Thrall.

Pois foi em 2010 que surgiu a primeira esperança de contornarmos isso, quando um russo publicou um vídeo trazendo trechos da jogabilidade do Warcraft Adventures: Lord of the Clans. Aquilo significava que em algum lugar existia uma cópia funcional do título e o mistério só acabaria seis anos depois, quando uma versão quase completa apareceu na internet.

Com a aventura podendo ser encarada do início ao fim, aquela versão contava com dublagem e cenas não-interativas, embora faltasse a camada de polimento típica de uma obra finalizada. O problema maior estava nas animações, pois além de duas delas só estarem disponíveis através de uma gravação feita a partir da tela de uma TV, as outras contavam com uma resolução muito baixa.

Pois é aí que entra o talento e dedicação de DerSilver83, um modder que passou os últimos seis anos trabalhando no Warcraft Adventure Cutscenes Remaster. Com esta modificação, as cenas não-interativas serão bastante melhoradas, com elas contando com áudio sincronizado; efeitos sonoros e músicas adicionais; artefatos de imagem removidos manualmente; dublagens recuperadas; remasterização completa das duas cenas gravadas da TV; e até mesmo a correção de erros de continuidade nas cenas.

“A versão 1.0 é um ponto de virada para mim. Tenho trabalhado nela pelos últimos seis anos e nesse tempo fiz quase tudo o que pude dentro de um prazo razoável para completar e melhoras as cenas. Para mim, o jogo está muito agradável agora e não vejo nenhum ganho real em melhorar mais as cenas não-interativas,” declarou DerSilver83, afirmando ainda que espera se lembrar do projeto como algo divertido e que por isso essa será a sua versão final.

Caso tenha ficado interessado em experimentar o Warcraft Adventures: Lord of the Clans com as melhorias, a modificação pode ser obtida no site oficial do projeto. Já o jogo propriamente dito, a versão compartilhada sem a autorização da Blizzard foi removida de quase todos os lugares após a o estúdio ameaçar processar quem mantivesse os arquivos online. Porém, com um pouco de pesquisa ainda é possível encontrá-lo aí pelos Arquivos da Internet™.

Talvez a desenvolvedora tenha sido rigorosa com este vazamento por se preocupar com suas propriedades intelectuais, talvez eles até estejam pensando em refazer o point and click, algo que o game designer Tim Schafer já demonstrou interesse. O certo, no entanto, é que se não fosse pela paixão de alguns fãs, a história dos videogames seria muito mais rasa do que já é.

Fonte: VG247

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