Nas redes sociais, foi resgatado um vídeo em que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusa agentes da Lava Jato de “tortura”. Um usuário do X comparou essa fala com a postura do ministro Alexandre de Moraes, também do STF, na delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na época, Gilmar alegou que investigados só eram libertados depois que confessavam e firmavam acordos. Ele também defendeu a instauração de um inquérito para esclarecer os métodos utilizados, classificando a situação como “coisa de pervertidos”.
O vídeo do depoimento se tornou público nesta quinta-feira, 20. Moraes retirou o sigilo do acordo de delação premiada do militar. A medida ocorreu logo depois que a Procuradoria-Geral da República (PGR) formalizou denúncia sobre a suposta trama “golpista”.
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Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro acusam Moraes de ter empregado métodos de tortura e coação na audiência com o tenente-coronel Mauro Cid.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) declarou que Cid alterou sua versão no exato momento em que foi ameaçado de prisão pelo ministro.
“Isso é prática de tortura”, afirmou o senador. “Prenderam, deixaram ele sem ver as filhas e a esposa, ameaçaram prender familiares. Cid ainda teve a carreira arrebentada. Nesse cenário, a pessoa inventa até o que não viu para tentar se livrar.”
“Agora, vai depender da nossa capacidade de construir a narrativa correta.” (Lula)
Mauro Cid “mudou de versão” bem na hora em que Alexandre de Moraes o ameaçou de prisão. Isso é prática de tortura.
Prenderam, deixaram ele sem ver as filhas e a esposa, ameaçaram prender… pic.twitter.com/EbcNFoSc17— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) February 20, 2025
O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da oposição na Câmara, usou o termo “coação premiada” para descrever a situação. Em sua visão, ameaçar de prisão tanto o investigado quanto sua família configura tortura.
“Não é delação premiada, é coação premiada”, destacou o parlamentar. “Ameaçar de voltar a prender o cara, a mulher do cara, a filha maior do cara e o pai do cara, o que que é isso? Tortura.”
A divulgação do acordo revelou que Cid modificou aspectos fundamentais de seu depoimento no momento em que Moraes cogitou revogar a colaboração. Além disso, o ministro ameaçou decretar sua prisão e aprofundar as investigações sobre sua família.
O deputado (PL-MG) criticou a postura do magistrado e cobrou uma resposta do Senado.
“Moraes ameaçou e intimidou a testemunha para, no mínimo, mudar o depoimento de acordo com seus interesses”, disse Nikolas. “O Brasil virou várzea. Onde está o Senado?”
O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) também se posicionou contra a postura do ministro do STF. “E esta ameaça do Alexandre de Moraes ao Cid?”, indagou. “Isso não é tortura? Ameaçar a ele e a sua família, pai, mulher e filha é o quê? Não é o famoso pau de arara do século XI? É muito revoltante!”
O ex-deputado e ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol utilizou suas redes sociais para criticar a condução da audiência e ironizar ministros do STF.
“Ministro Gilmar Mendes, seria esse um exemplo de ‘tortura’ e de pessoas ‘que só eram soltas depois de fazer acordo’?”, escreveu Dallagnol. “Ministro Dias Toffoli, seria esse um exemplo do ‘pau de arara do século XXI’? Garantistas de ocasião, prerrogativistas e defensores do direito de defesa apenas para os amigos têm algo a dizer?”
Dallagnol relembrou falas dos ministros proferidas em 2023, quando condenaram práticas da Lava Jato por supostos abusos.
Além de Gilmar, o ministro Dias Toffoli afirmou que membros da força-tarefa da operação recorreram à “uma verdadeira tortura psicológica, um pau de arara do século 21, para obter ‘provas’ contra inocentes”. O ex-procurador comparou essas críticas com a postura atual dos ministros no caso de Mauro Cid.
Fonte: revistaoeste