Para quem vivencia a dependência química, ter um ponto de acolhimento que ofereça uma forma humanizada de tratamento e apoio de uma rede interdisciplinar com profissionais capacitados, é fundamental para fomentar a busca por ajuda para mudar sua realidade e resgatar a qualidade de vida psicológica, física e social.
Em Sinop, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é a principal veia que compõe este “organismo” de ajuda quando se trata de casos graves envolvendo a dependência por drogas e álcool.
“No CAPS, trabalhamos com livre demanda com relação a dependência química. As pessoas que chegam e relatam ser dependentes são automaticamente acolhidas. Esta é a principal diferença com relação a outros transtornos porque, dependendo do caso, o tratamento deve ser feito em outros locais, aos quais nós direcionamos o indivíduo. Porém, quando se trata de alcoolismo e uso de drogas, que são casos graves, nós tratamos por aqui, entramos com nosso protocolo interno, normalmente o médico já pede exames, e essa pessoa começa a ter o acompanhamento da nossa equipe interdisciplinar, que é composta por assistente social, médico, enfermeiro, psicóloga, técnicos entre outros profissionais, que agem em conjunto, aplicando o tratamento adequado a cada caso”, explica Sandra Regina Inocêncio de Oliveira, enfermeira especialista em saúde mental, álcool e outras drogas.
O álcool é a droga psicoativa com potencial de abuso mais consumida no Brasil. Considerado uma neurotoxina e um depressor do sistema nervoso central e, apesar das evidências sobre sua associação com mais de 200 agravos de saúde, altos níveis de consumo persistem globalmente, sendo a bebida alcóolica uma das principais causas de morte e transtornos evitáveis em todo o mundo. Lesões intencionais ou acidentais associadas ao seu consumo representam cerca de 10% das mortes entre pessoas de 15 a 49 anos de idade, soma-se a essa realidade o sofrimento e os rompimentos sociais. Segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), em torno de 3 milhões de pessoas morrem vítimas do alcoolismo anualmente.
O uso de substâncias químicas pode desencadear transtornos mentais. Drogas psicoativas ou psicotrópicas causam graves alterações no sistema nervoso, podendo gerar, a longo prazo, danos irreversíveis. De acordo com Sandra, a maioria dos casos de dependência química tratados no CAPS são referentes ao alcoolismo e uso de pasta-base.
“Os que mais acessam nossos serviços são usuários de pasta-base. O consumo do álcool ainda é visto como algo natural, muito primitivo, apesar de ser a droga mais consumida, a dependência que tem maior índice e é a mais grave no Brasil. O dependente da pasta-base acaba ‘chocando’ mais socialmente pelos danos que sofre e, em alguns casos, pela associação a criminalidade”, pontua a enfermeira.
O Centro oferece tratamento para pacientes com idade a partir dos 18 anos. “A dependência química está presente em todas as faixas etárias e classes sociais, é um problema muito abrangente na sociedade. E o tratamento é muito complexo, cada indivíduo tem o seu tempo, suas características. Então, a principal ferramenta que nós usamos, é entender a realidade de cada pessoa e acolher a sua história, as suas necessidades, tudo aquilo que lhe é peculiar para auxiliarmos e tratarmos com humanidade e eficácia possível à dependência apresentada”, ressalta o coordenador do CAPS, Edmilson Aniceto Rocha.
Mensalmente, o CAPS atende, de forma geral, em torno de 300 pessoas. Todas às sextas-feiras, a Unidade realiza o grupo de encontro: um espaço no qual é fomentado o convívio e o diálogo.
“No grupo, nós trabalhamos a manutenção da abstinência, abordamos as dificuldades que envolvem a dependência química, temas do cotidiano como o relacionamento familiar ou com a justiça, quando é o caso. O grupo é um lugar seguro, no qual as pessoas podem expor o que sentem sem críticas”, destaca Sandra.
O processo de tratamento também inclui a redução de danos, que é um conjunto de ações para a abordagem de problemas relacionados ao uso de drogas que busca minimizar os riscos causados pelo consumo de diferentes substâncias, sem necessariamente ter de se abster do seu uso.
“É um protocolo que utilizamos também. Existem vários casos em que a pessoa não vai se abster de todas as substâncias, mas ela opta por continuar somente com uma e isso é um fato que pode somar num processo de abstenção total no futuro. E quando isso ocorre, ela estando com acompanhamento no CAPS, é de uma forma assistida pelos nossos profissionais. Além disso, a redução de danos aproxima o usuário da unidade”, complementa a enfermeira.
O tratamento segue protocolos, mas não tem um prazo determinado de finalização. “Não temos prazo de tratamento mas, entre os nossos protocolos internos, se a pessoa já conseguiu manter-se abstinente por nove meses, nós podemos dar alta à esse indivíduo. É importante destacar que o dependente químico vai ter que lutar contra essa dependência a vida toda, porque é um transtorno crônico. Deixamos bem claro, também, que em casos de recaídas, o CAPS continua de portas abertas à essa pessoa”, acrescenta o coordenador da unidade.
A enfermeira especialista em saúde mental, ressalta que a prevenção contra a dependência química e ao alcoolismo dependem de um conjunto de ações e vivências. “A prevenção vem desde a infância. Começa em casa, na família, passa pelas instituições educacionais, religiosas, ou seja, a sociedade como um todo influencia neste processo. É importante que a conscientização seja feita em todas essas bordas e em diversas etapas da vidas das pessoas”, conclui Sandra.
O CAPS está localizado na Rua dos Imbés, nº 107, na região central da cidade e atende de segunda à sexta-feira (com exceção de quinta-feira), das 07h às 18h.