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Ciência & Saúde

Desmatamento na Amazônia: Queimadas batem recorde, mas índices de desmatamento estão em queda.

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Nos últimos meses, duas notícias sobre a Amazônia viraram manchetes: o número de focos de incêndio na floresta atingiu o maior nível em 17 anos; ao mesmo tempo, o desmatamento teve a maior queda percentual dos últimos 15 anos. Pode até parecer, mas os dois dados não são conflitantes.

Em resumo, a explicação é que nem toda queimada resulta em desmatamento. Vamos voltar aos conceitos iniciais: o desmatamento ocorre quando áreas que estavam cobertas por floresta nativa são destruídas e desflorestadas. Mas nem todo incêndio acontece em área de floresta nativa – muitas das queimadas ocorre em áreas que já haviam sido desmatadas.

Embora em 2024 a área desmatada tenha caído 30,6% em relação ao ano anterior, os números absolutos ainda são bastante altos. Mesmo com a diminuição, a Amazônia brasileira ainda perdeu 5,7 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa em 2024. 

“Seis mil km² é uma área muito grande, muito distante dos compromissos assumidos”, diz Liana Anderson, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). “Zerar o desmatamento ilegal parece, infelizmente, um sonho distante.”

Nos anos anteriores, a área desmatada foi ainda maior, com uma média de 10,72 km² por ano entre 2019 e 2023. Essas regiões recém-desmatadas ficam mais vulneráveis a novas queimadas, já que o solo fica exposto e cheio de matéria orgânica seca. Ou seja: os incêndios são consequências diretas do desmate. 

“Toda a área que foi desmatada vai queimar. É uma bomba relógio”, explica Liana. “Uma vez que você tem áreas desmatadas super extensas queimando, e condições meteorológicas favoráveis à propagação do fogo, você tem esse aumento dos incêndios florestais sem controle, que vai para dentro da floresta, mas também atinge partes de infraestrutura, pessoas, casas, cercas…”

Gráfico em barra das área desmatada no bioma da Amazônia entre 2008 e 2024;
(BDQueimadas – Inpe/Superinteressante)

Além disso, as regiões de borda dessas áreas desmatadas são uma porta de entrada para o fogo nas florestas. O problema é que com o avanço contínuo do desmatamento em direção ao interior da floresta, cria-se mais área de borda – e mais vulnerabilidade.

E aí chegamos nos focos de incêndio: em 2024, foram 278,2 mil focos no Brasil inteiro, o maior número desde 2010, segundo dados do programa BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Só na Amazônia foram 140 mil focos de incêndio.

Em relação ao ano anterior, as queimadas na Amazônia aumentaram 42% em 2024 e chegaram ao maior patamar desde 2007. Esse aumento pode ser explicado por muitos fatores. A começar por um El Niño mais rigoroso do que a média, que provocou a seca mais forte dos últimos anos, assim como temperaturas bem mais altas do que a média. 

Em 2024, no auge do verão, o período mais úmido do ano, 98% dos municípios amazônicos enfrentavam algum grau de seca, segundo informações do InfoAmazonia. “Há uma condição climática mais favorável para a propagação dos incêndios”, explica Liana.

O fogo também é utilizado por fazendeiros costumeiramente para limpar grandes áreas de pasto ou cultivo na Amazônia, muitas vezes em áreas protegidas. 

Os dados de satélite do BDQueimadas permitem cruzar as informações e compreender quais são as regiões mais afetadas pelo fogo. No ano de 2024, quase 80% dos incêndios na Amazônia ocorreram em regiões que já haviam sido desmatadas anteriormente (veja o gráfico abaixo).

Imagem de gráfico em pizza sobre região afetada por queimadas na Amazônia em 2024.
(BDQueimadas – Inpe/Superinteressante)

Só 20% das queimadas foram em áreas de vegetação nativa. Isso explica por quê o aumento das queimadas não é incoerente com a diminuição do desmatamento. Mesmo assim, não há boa notícia: foram 31 mil focos de incêndio em áreas de floresta virgem (ou seja, que geraram desmatamento).

Há uma outra metrica usada por pesquisadores para alem do desmatamento: a degradação ambiental. Ela ocorre quando há danos parciais na floresta, ou seja, a vegetação nativa permanece, mas sofre impactos significativos. Nesse caso, o aumento das queimadas sempre incorre em maior degradação ambiental, mesmo que não aumente o desmatamento. Em 2024, a degradação da Amazônia aumento 467% – justamente por causa do fogo.

Os impactos da devastação da Amazônia são profundos. Além de prejudicar ecossistemas ao matar animais e plantas, a seca dos rios também influencia profundamente nas dinâmicas sociais, econômicas e ambientais da região. 

Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), no ano passado, mais de 1,7 mil escolas e 760 centros de saúde na Amazônia brasileira foram fechados ou ficaram inacessíveis devido ao baixo nível da água. O suprimento de alimentos, água potável e medicamentos ficou comprometido em grande parte da Amazônia.

Na Amazônia colombiana, por exemplo, o nível dos rios caiu em até 80%, e as aulas de 130 escolas precisaram ser suspensas. Segundo a Unicef, a situação provocou aumentos nos riscos de recrutamento e exploração de crianças por grupos armados, assim como o aumento de infecções respiratórias, doenças diarreicas, malária e desnutrição aguda entre crianças com menos de 5 anos de idade.

Fonte: abril

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