Um novo estudo sugere que mulheres e homens deixam rastros de seus “microbiomas genitais” em parceiros durante a relação sexual, mesmo quando usam camisinha. A descoberta pode contribuir para investigações de casos de violência sexual.
Um grupo de cientistas da Escola de Ciências Médicas, Moleculares e Forenses, na Universidade Murdoch, na Austrália, investigou maneiras de identificar relações sexuais para além da presença de espermatozoides. No estudo publicado no periódico científico iScience, os pesquisadores buscavam validar a existência daquilo que apelidaram de “sexoma”, o microbioma sexual.
O artigo teve a participação de 12 casais heterossexuais monogâmicos. Inicialmente, os parceiros deveriam se abster de relações sexuais por dois a quatro dias. Depois desse período, os participantes deveriam recolher uma amostra de suas genitálias antes e depois do sexo para que os cientistas pudessem analisá-las.
De acordo com o estudo, as amostras colhidas antes do ato sexual continham micróbios únicos de cada homem e mulher. Porém, após a penetração, os microbiomas foram transferidos de maneira mútua entre os parceiros.
“Quando comparamos as amostras de antes e depois, foi possível ver assinaturas de DNA bacteriano das mulheres nos homens e dos homens nas mulheres”, escreve o autor do estudo Brendan Chapman, cientista forense.
Além disso, três dos 12 casais relataram o uso de preservativo durante a relação sexual. Isso não impediu a troca do “sexoma”, mas mudou a concentração de micróbios e quais deles passaram de um parceiro para o outro.
Esses sexomas funcionam como uma impressão digital. Eles podem ser identificados com análises simples de laboratório. Da mesma maneira que investigações com impressões digitais funcionam, é necessário ter um banco de dados para ligar o microbioma a seu dono.
Mesmo assim, os autores esperam que a análise do sexoma possa ser usada para ajudar a identificar autores de agressão sexual. “Na ciência forense, isso é o que chamamos de vestígio ou transferência, e é o tipo de coisa que usamos para mostrar que houve contato”, explica Chapman para o site LiveScience.
“Os protocolos atuais para a investigação de agressão sexual envolvem o isolamento de células de espermatozóides de amostras vaginais. Há uma redução significativa na proporção de testes positivos para esperma quando coletados 48 horas após uma agressão”, escreve os autores no estudo.
Com amostras de sexomas, os pesquisadores esperam que a janela de identificação seja maior. No futuro, eles pretendem identificar o período em que o sexoma fica presente após o sexo.
A pesquisa aponta que a composição do microbioma genital muda em diferentes momentos dos ciclos menstruais e que potencialmente os resultados de amostras poderiam sofrer alguma alteração. Pelos pubianos de ambos os parceiros e homens circuncidados não alteraram o resultado.
Porém, o nível de higiene pessoal, principalmente masculina, implementada após a relação sexual pode afetar o espaço temporal de teste.
De acordo com Chapman, é necessário que mais casais estejam incluídos em futuros testes para que seja possível desenvolver um método preciso e adequado para a validação do sexoma. Além disso, em futuras pesquisas seria necessário incluir casais homossexuais.
Fonte: abril