Aranhas jĂĄ nĂŁo sĂŁo muito amadas. Imagine, entĂŁo, na versĂŁo zumbi. Sim, Ă© real.
O contĂĄgio, porĂ©m, nĂŁo começa com um vĂrus, como nas ficçÔes cientĂficas. O inĂcio de tudo Ă© um fungo. O hospedeiro â no caso, a aranha â Ă© contaminado pelo fungo, que, pelos dias seguintes, age como o Remy, de Ratatouille: controla o corpo da vĂtima como uma marionete. A diferença Ă© que, neste caso, o fungo se alimenta lentamente do hospedeiro, que vai se tornando, literalmente, um morto-vivo.
Pois Ă©. Insetos zumbis vĂtimas de fungos manipuladores de mente nĂŁo sĂŁo exatamente novidade. The Last of Us, a sĂ©rie de 2023 inspirada nos jogos de mesmo nome, se inspirou nesse tipo de infecção causada pelos fungos do gĂȘnero Ophiocordyceps â esses sĂŁo os mais famosos.

Existe, porĂ©m, um outro gĂȘnero parecido de fungo. Chamado Gibellula, o grupo engloba fungos parasitas que atacam aracnĂdeos. E uma nova espĂ©cie desse gĂȘnero acaba de ser descoberta.
Um novo estudo, feito por cientistas do Museu de História Natural da Dinamarca e do Jardim Botùnico Real de Kew, no Reino Unido, investigou a identidade de um fungo que foi visto pela primeira vez colonizando uma aranha na Irlanda do Norte durante as filmagens da série Winterwatch, da emissora BBC.
Levado para anålise, o fungo foi confirmado como uma espécie inédita e oficialmente batizado de Gibellula attenboroughii. A escolha do nome foi feita em homenagem ao famoso locutor e historiador David Attenborough, pioneiro dos programas sobre a natureza da BBC. O trabalho foi publicado na revista Fungal Systematics and Evolution.
A coitada que serviu de almoço para o fungo foi a aranha-tecelĂŁ-das-cavernas (Metellina merianae), encontrada por grutas e tĂșneis que se estendem por toda EurĂĄsia. Outras espĂ©cies de aranhas, porĂ©m, tambĂ©m foram encontradas tomadas pelo fungo na caverna irlandesa.
Todas as aranhas infectadas foram encontradas nas paredes ou no teto das grutas, algo incomum: geralmente, elas sĂŁo mais reclusas, e ficam escondidas em tocas, frestas e buracos. Algo semelhante acontece com formigas e aracnĂdeos aqui no Brasil que sĂŁo atacados por aquele fungo mais famoso, o Ophiocordyceps. Os animais infectados deixam seus covis ou teias e migram para morrer em lugares onde estĂŁo mais expostos.
Essas açÔes nĂŁo sĂŁo tomadas conscientemente. Pelo contrĂĄrio, jĂĄ sĂŁo atitudes do morto-vivo. A manipulação mental começa logo depois que o G. attenboroughii encontra uma vĂtima. Ele mantĂ©m o corpo vivo por alguns dias, enquanto vai se reproduzindo. As cĂ©lulas, jĂĄ multiplicadas, começam a enviar comandos motores para o animal, que, por sua vez, abandona todas as suas vontades e se torna refĂ©m da vontade do fungo. Uma verdadeira marionete.

O zumbi, então, caminha em direção ao lugar perfeito para a dispersão dos esporos (as células reprodutivas do fungo), em lugares que os fungos não chegariam sozinhos, e que são ideias para a reprodução deles.
Pouco se sabe sobre a nova espĂ©cie encontrada, mas os autores concluĂram que âo papel [do fungo] na dinĂąmica populacional de aranhas merece um estudo mais aprofundadoâ.
Fonte: abril