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Hospede-se gratuitamente em quarto de vidro de luxo em Ibiza

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Ibiza é uma ilha da Espanha a 150 quilômetros da costa leste do país, no meio do mar Mediterrâneo. Ela faz parte do arquipélago das ilhas Baleares, uma comunidade autônoma espanhola. 

Pela fauna e flora da região, que possui uma rica biodiversidade marinha, também pelas construções históricas bem preservadas (como obras medievais e do Renascimento), a Unesco classificou Ibiza como Patrimônio Mundial em 1999. Na Dalt Vila, parte alta e mais antiga da cidade, diga-se, há sítios arqueológicos de ocupações humanas que datam do século 8 a.C., 2.700 anos atrás.

Mas não é história e ecologia que atraem os 3,7 milhões de turistas que a ilha recebe por ano. O local é um dos principais destinos europeus para quem quer curtir as praias mediterrâneas de dia, frequentar baladas à noite – e repousar num hotel de luxo de madrugada. 

No verão do Hemisfério Norte, que vai de junho a agosto, milionários atracam seus iates e tomam conta da ilha e de seus arredores. Na alta temporada, o custo médio de uma diária em Ibiza é de US$ 288 (R$ 1.700), segundo o site Tripadvisor. Quem quer tomar um bronze com a Anitta, mas não tem o dinheiro da Anitta, precisa encontrar promoções e hospedagens mais camaradas.

No Paradiso Ibiza Art, um hotel cuja arquitetura parece saída do filme da Barbie, o valor está na média: R$ 1.600 para uma noite em junho de 2025, segundo o Booking. Mas a hospedagem abriga também o que talvez seja um dos quartos mais procurados de Ibiza graças ao seu preço – ou melhor, pela falta dele.

Fotos do quiosque da piscina do Paradiso Ibiza Art Hotel.
(Tripadvisor/Reprodução)

Pois é: na chamada “Suíte Zero”, que existe desde 2018 no Paradiso, a diária é de graça. Para ter acesso a ela, é preciso preencher um formulário aberto todo início de temporada pelo hotel e torcer para ser chamado.

Mas é claro que não existe almoço (ou no caso, estadia) grátis. Para garantir a suíte, o hóspede precisa abrir mão da sua privacidade: o quarto fica no lobby do hotel e as paredes são envidraçadas. Todo mundo que passar por lá vai poder ver a cor do seu pijama.

É um espaço que, para nós brasileiros, lembra a Casa de Vidro do Big Brother Brasil: há uma cama, mesa e cadeiras, como qualquer outro quarto. O banheiro, claro, é privativo. As luzes nunca se apagam. Não há isolamento acústico. Turistas e demais hóspedes do Paradiso podem passar o dia todo observando quem estiver lá dentro – e inclusive bater no vidro para chamar a atenção.

No BBB, quem passa por essa exposição ganha a chance de entrar na casa do reality. No caso do hotel de Ibiza, a conta sai de graça. O limite, porém, é de apenas uma diária para até duas pessoas. Todo hóspede precisa assinar um termo de autorização que permite que sejam fotografados e filmados.

Mas se a estadia parece algo como uma sessão de tortura para você, saiba que a fila de espera é grande. No formulário para a temporada de 2024, que ainda está online, o hotel pergunta se o hóspede consegue se preparar de última hora, já que pode ser mais fácil garantir o quarto após alguma desistência. O Paradiso ainda não anunciou as vagas para o ano que vem.

A suíte zero, claro, é uma ferramenta de marketing do Paradiso – e já virou por si só uma atração turística. Ninguém procura um quarto envidraçado para economizar uns trocados, mas sim pela experiência de não ter privacidade nenhuma. Mas toda essa brincadeira não deixa de chamar a atenção para um problema enfrentado por Ibiza.

Nos últimos anos, o número de vagas nos hotéis da ilha diminuiu – muitos estabelecimentos fecharam ou reduziram as acomodações para focar mais em qualidade (leia-se: luxo) do que quantidade. A quantidade de turistas de Ibiza, que tem apenas 160 mil habitantes, porém, segue crescendo. O resultado são diárias mais caras e difíceis de conseguir. 

Num cenário onde o turismo é cada vez mais voltado ao alto padrão, o custo de vida aumenta: muitos trabalhadores locais passaram a viver em carros e vans, já que o aluguel na ilha subiu. Para mais detalhes sobre essa história, vale a pena ler esta reportagem do jornal britânico The Guardian (está em inglês, mas dá para traduzir).

Fonte: abril

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