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União Europeia e Mercosul juntos pela proteção contra tensões internacionais

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Foram mais de 25 anos de conversas, de interrupções e retomadas. O acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, cujas tratativas começaram em 1999, anunciado na última sexta-feira, 6, tem os ingredientes que compõem um fato histórico: a origem, a continuidade e a mudança do contexto.

Se há algumas décadas o acordo parecia uma utopia, no mundo atual, a UE, um bloco outrora quase sem concorrentes, se vê com necessidade de novos mercados.

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“O cenário global se alterou significativamente no último quarto de século”, afirma a Caio Vioto, professor da Faculdade ESEG, do Grupo Etapa, especialista em guerras e globalização.

“Na virada para o século 21, o mundo era mais globalizado, o fim da Guerra Fria [em 1991] simbolizou o triunfo do capitalismo e do livre-comércio e a hegemonia dos Estados Unidos [EUA], líder de todo esse sistema global, era mais clara.”

Neste momento turbulento, com guerras na África, na Europa e na Ásia, a formação de uma aliança integradora é uma forma de proteção, na visão de Vioto.

“Ambos os blocos enxergam diversos benefícios na integração comercial, benefícios tanto econômicos, como o acesso a mercados mais estáveis e confiáveis, quanto geopolíticos, como a redução da dependência de países que, de diferentes formas, passam por tensões internacionais.”

Vioto observa, neste sentido, que a trajetória histórica e as mudanças geopolíticas das últimas décadas foram determinantes. Para que, desta vez, o acordo, cujas negociações travaram em 2019, possa ser firmado, depois da aprovação dos parlamentos dos países, em cerca de um ano e meio.

“Nas últimas décadas, a Europa vem investindo em pautas ambientais, energias limpas e renováveis, veículos elétricos”, lembra o professor.

“Embora essa mudança tenha um componente social e cultural, também é influenciada por fatores econômicos e geopolíticos, como a soberania energética, ou seja, a redução das importações europeias do petróleo russo e do Oriente Médio.”

O acordo irá integrar dois dos maiores blocos econômicos. Cerca de 718 milhões de pessoas serão englobadas e o intercâmbio representa, somado, um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 22 trilhões.

Redução da dependência em relação ao mercado chinês

Um dos principais objetivos do acordo é estabelecer um regime de livre-comércio entre os blocos, ao permitir a eliminação de barreiras tarifárias e ampliação do acesso aos mercados.

Para os países do , isso significa uma maior oportunidade de exportar produtos como carne, soja e café para a Europa. Os europeus terão acesso a mercados do Mercosul para exportar produtos industriais e tecnológicos. O Brasil terá muitos benefícios na área do agronegócio.

Entre 2024 e 2040, estudo do Ipea relata que o acordo deve gerar um crescimento de 0,46% no PIB brasileiro, mais do que a UE (0,06%) e os demais países do Mercosul (0,2%).

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Quase todos os setores do agronegócio serão beneficiados. Haverá perdas em alguns setores industriais. Os ganhos acumulados previstos no agronegócio devem ser de cerca de US$ 11 bilhões, até 2040. A indústria da transformação tende a ter um saldo de US$ 500 milhões.

“O acordo tem uma série de detalhes”, afirma Vioto. “Alguns produtos agropecuários brasileiros possuem cotas de exportação, não se trata de uma liberação total. Esse também foi um dos fatores que levaram à demora na concretização do acordo: houve a necessidade, ao longo dos anos, de ajustar diversos pontos, lidar com lobbies e pressões políticas de setores da economia em ambos os blocos.”

Em relação à indústria, a UE também terá vantagens consideráveis, segundo o professor.

“O setor industrial europeu é bem mais desenvolvido que o do Mercosul, no entanto, a integração comercial pode baratear a importação de insumos industriais e bens de capital, além de favorecer um choque de competitividade na indústria latino-americana, historicamente bastante protegida.”

Segundo Vioto, o acordo ainda reduz a dependência tanto da quanto do Mercosul em relação ao mercado chinês. Possibilita maiores alternativas de importação e exportação, o que gera uma pressão competitiva.

“Em termos de escala, a China continua a ser o maior importador do agronegócio brasileiro, por exemplo”, destaca o especialista.

“Em termos geopolíticos, pode haver uma redução do poder de barganha da China e até mesmo uma redução do poder dos Brics.”

Fonte: revistaoeste

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