Samuel Bezerra é um ex-dependente químico, que chegou a perder tudo, mas viu a vida mudar da água para o vinho depois de conhecer um projeto de Brasília e começar a vender revista na rua. Hoje, ele é um novo homem!
Segundo ele, as drogas se tornaram atrativas após tantos baques da vida. Samuel perdeu tudo que tinha: esposa, bens e até mesmo a relação com o filho. A única coisa que ele nunca deixou foi a vontade de recomeçar.
A oportunidade e veio e hoje Samuel usa o passado como uma força para seguir em frente e, livre das drogas, comemora: “Deus me deu um livro em branco para eu reescrever minha história, e dessa vez eu quero escrever uma mais bonita”, disse em entrevista ao Só Notícia Boa.
Luta pela sobrevivência
Desde quando nasceu, o homem lutou muito pela própria sobrevivência. A vida batia forte e ele resistia.
Samuel começou a trabalhar com apenas 10 anos, engraxando sapatos na Rodoviária do Plano Piloto, na capital federal.
Mais tarde, ele se mudou para o interior de São Paulo e foi trabalhar carregando sacos de 60 kg, o que prejudicou a coluna. Foi quando voltou para a capital do país.
Em Brasília, passou a vigiar carros. Sob um sol escaldante começava às 7h da manhã, no Setor Comercial Sul. Os negócios iam bem, mas ele queria mais.
Tentou retornar ao ofício de pedreiro, mas a coluna já não dava conta. Sem emprego, entrou em depressão. Depois vieram as drogas, álcool, maconha, cocaína e por fim, o crack.
“Perdi a credibilidade”
A vida nas ruas não era fácil. Em entrevista à Revista Traços, Samuel disse que chegava a fumar 12 baseados por dia. O álcool também era um outro companheiro perigoso muito presente. “Eu tomava 15, 20 pingas por dia.”
O filho, que antes dormia debaixo do seu braço, já não estava mais presente. Deprimido, viciado e sem família, Samuel chegou a ter três overdoses e um coma alcoólico.
Um dia, decidiu que acabaria com tudo. Se despediu da criança e amarrou uma corda no próprio pescoço.
Ainda não era a hora
Mas o destino reservava coisa melhor, não era a hora de partir.
Samuel acordou com a ex-esposa batendo em seu peito. “Eu achei que já tinha morrido, acordei com minha ex me dando murro no peito e gritando: ‘volta amor, não morre não. Aí eu vi a faca que ela tinha usado para cortar a corda, e pedi para ela me matar.”
Foram oito meses de tratamento depois do susto. Ao todo, 23 comprimidos por dia. Tudo ia bem na recuperação, mas a primeira recaída chegou.
Na segunda, ele se viu sozinho novamente. A esposa desistiu de lutar ao lado do parceiro. O ciclo de vulnerabilidade recomeçou e o álcool e as drogas se tornaram companhia, mais uma vez.
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Reescrevendo a história
Sem nada, tentou o suicídio pela segunda vez. Estava pronto para se atirar num córrego, mas sentiu a mão de Deus o empurrando para trás.
Dessa vez ele não iria desperdiçar a oportunidade. Catou latinha, vendeu geladinho, bala, pirulito e paçoca.
Até que um dia conheceu o trabalho social feito pela revista Traços.
“A Traços é minha segunda mãe, é meu segundo pai. Ela me acolheu. Na primeira vez que fui ao escritório eu cheguei chorando, com os nervos à flor da tinha, tinha me separado há pouco tempo, não tinha emprego, era aquela aflição”, contou.
“Nessa época eu chorava tanto que vivia com os olhos vermelhos. Morava com minha mãe, e às seis horas da manhã eu saía de casa dizendo que ia catar latinha, mas eu ia pra rua chorar”, disse.
Com o resultado das vendas da revista na rua, Samuel conseguiu dinheiro para alugar uma quitinete em Águas Claras, a 20km de Brasília, para ficar mais perto do filho.
Já no segundo mês trabalhando para a revista, comprou uma bicicleta usada para João, de 9 anos.
“Divisor de águas”
E as coisas seguiram melhorando. Para ele, a Traços representa a mudança.
“A Traços foi um divisor de águas. Eu estava há nove meses sem trabalhar. Hoje eu consegui minha autonomia financeira, tenho um dinheiro no bolso, é pouco, mas levo o meu filho para lanchar, comer pizza, visitar o zoológico. O João tá conhecendo um cara totalmente diferente, um pai amoroso. Eu falo pra ele dez vezes por dia: “Filho, eu te amo”.
A vida de vulnerabilidade teve fim e, hoje, Samuel aprendeu a valorizar as pequenas coisas, agradecendo por tudo.
“Eu antes reclamava da chuva, reclamava do sol, até da minha sombra eu reclamava. Eu nem percebia que os pássaros cantavam! Hoje vejo que a vida é bela. A gente pensa que ela é difícil, mas não, ela é até muito fácil, a gente é que complica. Tendo o alimento e o lugar para descansar, já tá bom demais. Eu não preciso de muito dinheiro, se eu tivesse muito dinheiro ia precisar andar com seguranças.”
Planos para o futuro
E os planos para o futuro estão a todo vapor. Ele quer voltar a estudar e fazer uma faculdade.
Quer se tornar Assistente Social ou Psicológico, profissão que, segundo ele mesmo, pode abraçar as pessoas da mesma forma que hoje ele se sente acolhido.
A revista Traços
Desde 2015, em Brasília, a Revista Traços trabalha para que histórias como a do Samuel se tornem regra.
A publicação cria um ciclo de geração de renda e autonomia para pessoas em situação de vulnerabilidade. O periódico, em 2021, também criou raízes no Rio de Janeiro.
Os exemplares da revista custam (R$ 10) e são vendidos nas ruas pelos Porta-Vozes da Cultura, como Samuel.
Desse valor, sete reais (R$ 7) vão diretamente para as mãos do trabalhador que efetuou a venda. Os outros três reais (R$ 3) ele utiliza para adquirir ainda mais exemplares e investir no próprio trabalho.
Conheça um pouquinho da história de Samuel:
Fonte: sonoticiaboa