O setor de logística no Brasil tem registrado a entrada de grandes operadores globais de transporte marítimo em importantes terminais portuários. A empresa francesa CMA CGM adquiriu a , enquanto a suíça msc fechou um acordo com a Wilson Sons, ambas proprietárias de portos no país.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, especialistas mostram a verticalização do setor e a escassez de capacidade portuária no Brasil como fatores determinantes para essas transações.
A MSC, por intermédio da SAS Shipping Agencies Services Sàrl, . Em setembro, a CMA CGM comprou 48% da Santos Brasil, uma das maiores operadoras do Porto de Santos, por R$ 6,3 bilhões. Esses ativos estavam no mercado há algum tempo, e o aumento dos fretes marítimos desde a pandemia facilitou as aquisições.
Julio Favarin, da Garín Partners, disse que a limitação de espaço portuário é um problema global, mas é mais acentuada no Brasil. O Porto de Santos, o principal do país, opera acima da capacidade, o que desvia movimentações para outros terminais, como os da Wilson Sons na Bahia e no Rio Grande do Sul. Isso eleva os custos para os armadores.
Favarin explica que a aquisição de operações portuárias se torna uma estratégia viável para armadores por causa da falta de perspectivas de melhora no curto prazo.
“A percepção de custos para os próximos anos justifica uma aquisição”, disse Favarin ao Estadão. “Se o transportador precisa pagar muito mais para atuar em um terminal operado por terceiros, faz mais sentido ter um ativo próprio.”
Portos podem receber investimentos e expansão
Leandro Barreto, da Solve Shipping Intelligence, acrescenta que os altos níveis de utilização impactam na previsibilidade das operações. Ele também vê benefícios setoriais, pois tais aquisições costumam vir acompanhadas de investimentos e expansão, essenciais para o Brasil.
“É natural que os armadores queiram avançar sobre esse elo da cadeia que tem sido o calcanhar de Aquiles deles”, disse Barreto. “É um movimento de defesa contra a falta de capacidade.”
A Wilson Sons, com quase 190 anos no mercado, atende mais de 5 mil clientes, o que inclui armadores e indústrias de energia. O portfólio da empresa inclui portos terminais de contêineres na Bahia e no Rio Grande do Sul, além de rebocadores, embarcações de apoio offshore e estaleiros no Guarujá (SP). A Santos Brasil opera o Tecon Santos, um dos maiores terminais da América Latina, e outros terminais no Pará e em Santa Catarina.
A verticalização, onde empresas atuam como armadoras e operadoras portuárias, gera debate. Alguns a veem como uma tendência global, enquanto outros apontam riscos de concentração de mercado.
As aquisições da Wilson Sons pela MSC e da Santos Brasil pela CMA estão sujeitas à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), visto que ambas já têm presença significativa no setor portuário brasileiro.
Fabrizio Pierdomenico, ex-secretário nacional de Portos, acredita que, apesar das discussões, a legislação brasileira é madura o suficiente para prevenir qualquer tipo de afronta à concorrência e garantir um mercado justo.
Fonte: revistaoeste