O primeiro “7” diz que o avião é de uso civil, comercial e usa turbinas (se ele fosse movido a hélice, por exemplo, haveria um “3” nessa posição). O segundo dígito se refere ao modelo propriamente dito: todos os números entre 707 e 787 estão preenchidos. O 797, que deve ser lançado em 2025, ainda está na prancheta. O último “7”, por sua vez, é só um charme do marketing da empresa.
Vamos entender essa história.
Fundada em 1916, a Boeing enriqueceu durante a Segunda Guerra Mundial, quando as vendas de seus bombardeiros a colocaram como a 12ª empresa mais valiosa nos EUA. Com o fim do conflito, porém, muitos pedidos de aeronaves militares foram cancelados. Isso levou à demissão de 70 mil funcionários e fez a empresa mirar no crescente ramo da aviação comercial (transporte de passageiros e/ou carga).
Em 1947, a Boeing lançou o modelo 377. Ele tinha dois andares, comportava até 100 pessoas e foi baseado num cargueiro militar movido a turboélice. Mas seu preço alto, aliado a frequentes problemas de manutenção, fizeram o avião ficar atrás da concorrência. A Boeing só vendeu 56 unidades e amargou um prejuízo milionário.
Na década seguinte, a empresa desenvolveu um avião de passageiros com motores a jato – uma tecnologia que já existia em algumas de suas aeronaves militares e que permitia voos comerciais mais rápidos e longos. Nascia aí o modelo 707, que caiu nas graças das companhias aéreas nos anos 1960 e consolidou a Boeing no ramo.
Mas, afinal: por que esse nome?
A Boeing organiza as suas linhas de produtos em intervalos de centenas. Na época do 707, os “300 e alguma coisa” já eram usados para os aviões com hélice. Outros itens, como mísseis e aeronaves militares, ocupavam os blocos de números seguintes. Decidiu-se, então, usar o “700” para os jatos de transporte. O “707” foi uma sugestão do departamento de marketing, sob a justificativa de que o nome soaria melhor. A ideia pegou e quase todos os modelos seguintes seguiram com esse “7” no final.
O dígito do meio indica a qual “família” da Boeing o avião pertence. Em 1963, por exemplo, a Boeing criou a linha 727 para atender voos mais curtos em aeroportos menores, que não comportavam o 707. Nos anos seguintes, surgiram o 737 e o grandalhão 747, que tinha espaço 366 passageiros (mais que o dobro do 707) e foi um dos primeiros a ganhar a alcunha de “jumbo”.
(O 717, diga-se, só seria lançado décadas mais tarde. É que, nos anos 1960, o avião que receberia esse nome acabou virando um modelo de transporte militar, o C-135. A Boeing só preencheu esse buraco na nomenclatura em 1998).
A criação de uma nova família de aeronaves da Boeing não implica na aposentadoria da sua antecessora. Afinal, cada uma delas atende demandas específicas (voos mais longos, número maior de passageiros etc.), então é natural que elas coexistam. Atualmente, a empresa fabrica aviões 737 MAX (lançado em 2011, mais econômico que as outras versões de 737), 767, 777 e 787.
Há também um número que acompanha essas denominações e que diz respeito à geração de aeronaves dentro de uma mesma família (737-100, 737-200 e por aí vai). São diferenças pontuais, como o número de passageiros e a autonomia de voo, mas que não justificam a criação de toda uma nova classe.
Até 2016, a Boeing também atrelava em seus aviões um código para cada companhia aérea com quem havia feito negócio. Um avião 737-8EH, por exemplo, fazia referência às aeronave da oitava geração dos 737 pertencentes à Gol (cujo código era “EH; o da Latam era “2W”).
Com frequência, há letras secundárias que dizem respeito a variações pontuais em um modelo. Um 777-200ER, por exemplo, voa por 14,3 mil km – 4,6 mil a mais que um 777-200 convencional (o “ER” vem de “alcance estendido” em inglês). Já a letra “C” significa que determinado avião de passageiros pode ser convertido para um cargueiro.
Pergunta de @jvcalderaro, via Instagram
Fontes: artigo “How Boeing names its aircraft”, do FlightRadar24; canais Aviões e Música e Long Haul, no youtube; relatório “Select Products in Boeing History”, da Boeing.
Fonte: abril