Uma equipe de pesquisadores descobriu sete novas espécies de sapos em Madagascar. Esses animais possuem um coaxar diferente, parecido com sons de filme ficção científica. Em referência a esses efeitos especiais, cada espécie recebeu um nome especial, inspirado em personagens da série Star Trek.
Atualmente, o gênero Boophis abriga 80 espécies diferentes de anfíbios. Ele pertence à família Mantellidae, endêmica de Madagascar. Os membros do clube normalmente são sapos de árvores –um grupo bastante vocal, que aprendeu a se comunicar com chamados atípicos, como sons que remetem ao canto de pássaros.
Os assobios dos sapos lembrou a equipe de pesquisadores das trilhas sonoras de Star Trek, de tão bizarro e mecânicos que os sons eram. “Por isso, nomeamos os sapos em homenagem a Kirk, Picard, Sisko, Janeway, Archer, Burnham e Pike – sete dos capitães mais icônicos da série”, disse o pesquisador Miguel Vences, da Technische Universität Braunschweig, na Alemanha, em comunicado.
Para Mark D. Scherz, professor assistente do Museu de História Natural da Dinamarca e autor sênior do estudo, nenhum nome se encaixava tão bem para as novas descobertas quanto esses. Isso porque, além do som estridente, o autor brinca que foi necessário um longo caminho em trilhas – em inglês, ‘’trekking” – para encontrar os espécimes.
“Algumas espécies até são encontradas em áreas turísticas, mas a maioria delas pede excursões para áreas remotas da floresta. Tem um verdadeiro senso de descoberta científica e exploração na pesquisa, talvez seja o espírito de Star Trek”, conta Scherz. A ilha, hoje em dia, abriga cerca de 9% das espécies de sapos do mundo.
Além disso, os nomes não foram refutados, visto que quase toda equipe era fã dos filmes, explica o professor assistente. Quem conhece as produções pode achar que os assobios dos sapos se assemelham ao “boatswain whistle” e a um aparelho chamado “tricorder”. Para os demais, talvez pareçam um canto de passarinho ou de uma cigarra diferente.
Escute aqui o som dos sapos:
Por que eles coaxam assim?
A explicação dos cientistas é que o som de apito foi uma necessidade evolutiva dessas espécies. Elas habitam locais com fluxo intenso de água e bastante biodiversidade que pode ocultar a comunicação desses animais. “Esse chamado ajuda os anfíbios a se destacarem do barulho de fundo do seu ambiente”, diz Scherz. “Ao mudar o tom, eles podem ter conseguido evitar que suas chamadas fossem abafadas pela água.”
Além disso, os pesquisadores acreditam que o grito dos sapos pode indicar qual deles é o mais galã e provável de conquistar uma fêmea.
Para identificar as diferenças entre os sete tipos de sapos que foram descobertos, a equipe utilizou um software de análise e edição de som. Com esse aparelho, o grupo conseguiu avaliar a duração da chamada, a quantidade e duração dos apitos e a frequência (tom) deles.
“Nesse caso, você também pode perceber várias diferenças apenas ouvindo as chamadas. Alguns são lentos, com poucos assobios, enquanto outros são agudos, rápidos e têm muitos assobios” explica o autor sobre o que se pode ouvir nos áudios.
Apesar de pequenas, existem algumas diferenças morfológicas entre essas rãs. O tamanho do corpo e a presença de vermelho na íris desses animais podem distingui-los, mas não são tão marcantes quanto os cantos.
A herpetóloga Andolalao Rakotoarison, da Universidade de Itasy em Madagascar, explica que os pesquisadores só conhecem a superfície da floresta de Madagascar e que toda excursão para dentro da mata volta com uma nova descoberta.
“Continuaremos a trabalhar na taxonomia de outras espécies de Madagáscar – ainda há muitas espécies que aguardam descrição e continuamos a descobrir mais espécies cada vez que vamos a campo”, diz Scherz. Nos últimos 10 anos, cerca de 100 espécies foram descobertas na ilha.
O grande problema é que muitas dessas espécies podem nunca ser descobertas. As mudanças climáticas e atividades antrópicas tornam esses animais extremamente vulneráveis, já que dependem de microhabitats extremamente sensíveis. O estudo tem também como objetivo apoiar a conservação da floresta de Madagascar.
A descoberta foi publicada na revista Vertebrate Zoology.
Fonte: abril