A queda de braço entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente (PL) continua no segundo turno das eleições municipais em diversas localidades do país. Em João Pessoa, capital da Paraíba, um dos principais nomes do governo Bolsonaro, o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, disputa a prefeitura contra Cícero Lucena (PP), um aliado próximo de Lula.
Cícero Lucena, de 67 anos, busca a reeleição. Sua vida política começou na década de 1990, quando foi eleito vice-governador da Paraíba. Ao longo de sua trajetória, ocupou os cargos de governador, senador e, por duas vezes, prefeito da capital.
Marcelo Queiroga, de 58 anos, médico cardiologista, entrou na vida pública durante o governo Bolsonaro ao assumir o Ministério da Saúde em meio à pandemia de covid-19. Naquela época, o médico enfrentou o desafio de liderar a vacinação no Brasil e lidar com a crise sanitária.
A disputa entre candidatos tão diferentes ideologicamente coloca João Pessoa em uma verdadeira encruzilhada.
Recentemente, a administração de Cícero Lucena enfrenta não apenas os desafios comuns de uma gestão municipal, mas também suspeitas de conivência com o crime organizado, o que agrava a crise de segurança pública na capital paraibana.
Conforme noticiado por , durante o primeiro turno, a esposa do prefeito, Lauremília Lucena, foi presa durante uma operação da que investigou o aliciamento violento de eleitores e uma organização criminosa na cidade.
Além de Lauremília, a PF prendeu Tereza Cristina Barbosa Albuquerque, secretária da primeira-dama, e a vereadora socialista Raíssa Lacerda (PSB), aliada do clã Lucena.
Durante a investigação, a PF constatou que contrataram o filho de um líder de uma facção criminosa para trabalhar em uma Unidade de Pronto Atendimento no bairro dos Bancários, em troca do apoio da facção no bairro São José. O modus operandi do grupo consistia em usar a influência para intimidar os moradores do bairro, pressionando-os a apoiar candidatos específicos.
A primeira-dama de João Pessoa, Lauremília Lucena, foi presa durante uma operação da Polícia Federal que investigou o aliciamento violento de eleitores e uma organização criminosa | Imagem: Reprodução/YouTube/SBT pic.twitter.com/rov6qHYtnb
— Revista Oeste (@revistaoeste) October 15, 2024
Na época, três candidatos a prefeito no primeiro turno — Marcelo Queiroga (PL), Ruy Carneiro (PSC) e Luciano Cartaxo (PT) — pediram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o auxílio da Força Nacional, pois estavam sendo impedidos de entrar em bairros durante a campanha e sofrendo ameaças.
Em resposta, Lucena decidiu acionar uma tática comum da esquerda: silenciar os opositores. O “progressista” enviou uma petição ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no fim de setembro. À época, solicitou a inclusão de desafetos políticos no polêmico inquérito das “milícias digitais”.
Segundo o prefeito, pessoas que residem em São Paulo e no Rio de Janeiro “criaram perfis falsos no Youtube, no Instagram e no Facebook com o intuito de difundir desinformação de forma maciça e, assim, comprometer a lisura do pleito eleitoral”. Moraes negou o pedido dias depois, ao alegar que os fatos mencionados pela defesa de Lucena não faziam parte da investigação do inquérito.
Apesar das acusações recentes, o governo de Lucena enfrenta escândalos há algum tempo. Em 2022, o portal Metrópoles noticiou que o prefeito havia contratado sua esposa, filha e cunhada para trabalhar no Executivo municipal.
A filha de Lucena, Maria Janine Assis de Lucena, foi designada como secretária-executiva da Saúde, que recebe a maior parte do orçamento da prefeitura: R$ 860 milhões, de um total de R$ 3,13 bilhões.
No começo de seu mandato, Lucena indicou a cunhada, América de Castro, para o cargo de secretária de Educação. Esta última pasta possui o segundo maior orçamento do município, totalizando R$ 606,7 milhões. Além disso, sua esposa, Lauremília Lucena, assumiu a coordenação de seu gabinete.
Em entrevista a , o candidato Marcelo Queiroga (PL) afirmou que um quarto mandato de Lucena seria uma “catástrofe” para João Pessoa.
“Deus salve essa cidade de um quarto mandato de Cícero Lucena”, declarou Queiroga. “Seria uma catástrofe. Todo o nosso tecido social estaria condenado ao domínio do crime organizado e à explosão da criminalidade. Essa eleição decidirá o futuro de muitas gerações.”
De acordo com o ex-ministro de Bolsonaro, Lucena “loteou” as secretarias municipais e transformou a prefeitura em uma verdadeira “torre de babel”.
“O governo Cícero Lucena loteou todas as secretarias com mais de 20 vereadores, deputados estaduais, federais e senadores”, afirmou Queiroga. “É uma torre de babel, e eles se acotovelam nos bastidores para abocanhar mais espaços e mais orçamento.”
A ida de Marcelo Queiroga para o segundo turno das eleições municipais de João Pessoa surpreendeu quem acompanhava os bastidores da política na capital paraibana. Seu nome não figurava em segundo lugar nas pesquisas.
Três dias antes do primeiro turno, uma pesquisa do Instituto Datavox apontou Queiroga com apenas 6% das intenções de voto. Cícero Lucena liderava, com 52%. Ruy Carneiro aparecia em segundo lugar, com 11%.
Além do Datavox, a pesquisa da Quaest, contratada pela TV Globo, também cometeu erro. Ela mostrou Cícero Lucena com 55% dos votos. Ruy Carneiro tinha 17% e Queiroga, 16%.
Para o candidato, quem apoia Jair Bolsonaro “coincidentemente sempre tem desempenho baixo nas pesquisas e bons resultados nas urnas”.
Fonte: revistaoeste