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Educação

Cuiabana deixa carreira em TI para se dedicar à escrita de ‘romances clichês inusitados’ e se destaca como autora mais lida no Kindle

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A leitura surgiu como um hobby para a cuiabana Mari Sales, de 39 anos, que mergulhava nos romances para descansar a mente das mais de 12 horas diárias de trabalho como TI e enfrentar o processo de adaptação após se mudar com a família para Campo Grande (MS). Por conta da facilidade, ela começou a consumir e-books e se tornou uma leitora voraz. Quando descobriu o Kindle Unlimited, em 2013, decidiu publicar o primeiro livro, que foi baseado no diário da primeira gravidez. 

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Desde então, Mari já escreveu 124 livros, entre contos, novelas e romances. Apesar de ser formada em Ciências da Computação pela UFMT, ela descobriu uma nova profissão ao entrar no mundo literário e deixou a TI para se dedicar integrante à escrita. De acordo com a Amazon, a cuiabana se consagrou como a 3ª autora mais lida pelos brasileiros no Kindle Ulimited. 
“Descobri o Kindle Unlimited que você pega os livros que você quiser, vai lendo e devolvendo. Ajudando um amigo virtual que ficou desempregado, falei sobre o Kindle, que era onde autores nacionais publicavam. Comecei a ajudar ele nesse processo e pensei: ‘acho que também consigo’. Quando publiquei vi que tinha gostado, era fácil no sentido de que conseguia seguir todos os passos e vi que as pessoas compraram, consegui indicar e fui escrever meu primeiro romance: ‘Valentine’. Publiquei primeiro independente, atualmente está publicado pelo grupo editorial Portal, quando publiquei ele, peguei gosto”.
Para o primeiro romance, Mari se inspirou nos anos de trabalho como analista de TI, por ser mulher em um cargo que é majoritariamente ocupado por homens, vivência que se transformou na Tríade Motoclube, tendo “Valentine” como primeiro volume. De acordo com dados do IBGE de 2022, apenas 15% dos concluintes de cursos de TI no Brasil são mulheres. 
“Por muito tempo, a única mulher em um ambiente totalmente masculino. Trouxe isso para o motoclube, porque nunca vi um que seja masculino ou misto com uma mulher como presidente, procurei tanto na vida real quanto na ficção, mas não achei, então decidi escrever sobre isso. Coloquei Valentine, porque é um nome unissex, todo mundo achava que ela era um homem e, quando ela vai lá assumir um motoclube, porque o pai estava doente, todo mundo se recusa por ela ser uma mulher”. 
Até deixar o cargo de TI, a escrita era apenas um hobby para Mari, que chegava a investir o próprio salário para continuar a produção de livros. Em 2018, no entanto, ela percebeu que preferia escrever novas histórias e o trabalho na área de tecnologia já não lhe deixava profissionalmente realizada como antes. Foi assim que ela deu o primeiro passo na direção da mudança de carreira. 
Atualmente, Mari vive do dinheiro que ganha com os livros publicados no Kindle Unlimited. Ela explica que a plataforma paga R$ 0,01 por página lida e Valentine, por exemplo, já tem mais de 2 milhões de páginas lidas. 
“Já consigo um salário que é maior do que quando trabalhava com TI, por isso deixei essa profissão. É algo que começou como hobby, investia dinheiro para sobreviver nesse mercado, mas como conhecia autoras que viviam disso, fui atrás de tentar usar meus conhecimentos de analista de sistemas e tecnologia para analisar: o que elas faziam para conseguir retorno financeiro? Uma das coisas é divulgar, o marketing do livro é o principal”. 
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Antes de se tornar uma leitora voraz e uma escritora que produz freneticamente, Mari conta que tinha dificuldade em ler. Incentivada por uma amiga que a presenteava com livros sobre filosofia, mistério e investigação, ela até tentava concluir as leituras, mas parava logo no começo. Mas, quando essa mesma amiga contou como tinha gostado de ler “Crepúsculo”, a cuiabana decidiu tentar mais uma vez. 
“Me identifiquei muito com os romances, comecei a ser uma leitora voraz com ‘Crepúsculo’, ’50 Tons’… Era o ínicio da Netflix, então fui atrás das adaptações que era ‘Divergente’, ‘Jogos Vorazes’, ‘Instrumentos Mortais’, todas essas que são mais famosas. E aí fluiu. Me identifiquei com os romances, porque gosto muito de família, sempre foi meu grande desejo pessoal e é um sonho realizado ter minha própria família, amo ouvir histórias familiares, aquela coisa: ‘meu avô fez isso’. Consegui trazer isso para a escrita”. 
Em seu Instagram, rede social que descobriu ser parte importante no marketing de divulgação dos livros, Mari criou uma comunidade com mais de 31 mil seguidores e se apresenta como autora de “romances clichês inusitados”. As histórias de amor geram identificação nos leitores e a escritora explica que as inspirações reais transformadas em histórias são as grandes responsáveis pelo sentimento. 
“Falo muito do clichê inusitado porque o clichê é aquela coisa de rotina, que é conforto ou ‘mais do mesmo’ ao mesmo tempo, o inusitado por questões como a minha produtividade que é bem alta, acima do padrão, trago outros elementos, porque faço terapia integrativa. Trago esses elementos da minha jornada de auto conhecimento e consigo agregar nas histórias. Por isso é o clichê inusitado, é o mais do mesmo ao mesmo tempo que tem algo diferente no meio disso tudo”. 
A constância com que a produz faz com que Mari esteja sempre atenta ao mercado literário e nas tendências, como quando decidiu escrever sua primeira “romantasia”, gênero literário que mistura elementos de romance e fantasia: “Rejeita pelo Féerico”. 
“É algo bem diferente do que tem no mercado nacional e que também deu muito bom, chama ‘Rejeitada pelo Feérico’, é como se fosse um elfo, brinco que eles fizeram como o Momoa para Aquaman, que era apagadinho, mas colocaram o Momoa e ficou maravilhoso. Hoje chamamos isso de romantasia, um romance com esse toque mágico nesse universo todo diferente”, conta Mari. 
Ver o próprio nome na lista dos autores mais lidos do Kindle Unlimited deixou a cuiabana “em choque”. Por entender que o mercado literário brasileiro é “de altos e baixos”, viver o reconhecimento do trabalho como autora deixou Mari ainda mais animada para continuar produzindo. Nos anos como escritora, a necessidade de continuar experimentando em mudando mesmo entre altos e baixos sempre foi uma das metas a serem seguidas, conta. 
“Receber essa notícia mostrou que está valendo a pena todo esse esforço e essas mudanças, mesmo tendo bons ou maus resultados, está valendo a pena, é realmente o reconhecimento do meu trabalho. Eu não fico só nos meus livros, eu compartilho meus conhecimentos, então é conseguir mostrar para as autoras que estão comigo no dia a dia que vale a pena continuar mantendo constância independente do resultado do lançamento ou de um livro”. 
Cuiabá também se tornou tema de um dos livros escritos por Mari, em “Por Você”, ela se inspirou nos anos de universitária na UFMT e na história do time de futebol americano Cuiabá Arsenal. “Usei a minha época de trote, de matar aula para ir ao cinema e visitar o zoológico. Trouxe o time de futebol americano para essa história, me inspirei no Arsenal Cuiabá, criei o Armaria. É uma história toda ambientada em Cuiabá e inspirada na minha época de faculdade”. 
Apesar da Mari escritora parecer distante da Mari analista de TI, a cuiabana conta que, revirando memórias antigas na casa da mãe, ela descobriu que desde nova gostava de criar histórias e personagens. 
“Agora consigo relembrar as aulas de português, na casa da minha mãe tinha uma caixa antiga e encontrei meus desenhos antigos, porque criava personagens e as histórias ficavam na minha cabeça. Encontrei, inclusive, um manuscrito que fazia fanfics do Hanson e Backstreet Boys com minhas amigas do colégio. Na época meus pais não apoiavam porque ser escrito era um sonho distante, ‘você vai passar fome’, mas hoje é muito real, com a internet você consegue voar longe”. 
 

 

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