A pecuarista Ines Gemilaki, de 48 anos, olha para uma câmera de circuito de segurança e sorri segundos após matar duas pessoas a tiros. Seu filho Bruno Gemilaki Dal Poz – um médico de 28 anos, percebendo o êxtase da mãe, atira para cima com uma arma de grosso calibre, como uma celebração pelos assassinatos. As vítimas nada deviam aos dois.
A banalidade em relação à vida e o comportamento de mãe e filho foram destaque na imprensa nacional. Ines invadiu a casa, atirando, à procura do homem com quem tinha uma dívida em torno de R$ 60 mil, mas a arma falhou e ela não conseguiu o matar. No entanto, antes, atirou contra dois idosos que participavam da confraternização em Peixoto de Azevedo, a 692 km de Cuiabá. Veja o vídeo abaixo:
Imagens das câmeras de segurança da casa mostram a dinâmica do crime cometido no feriado do dia 21 de abril de 2024. Três pessoas foram presas, incluindo mãe e filho, e o cunhado da atiradora, Éder Gonçalves Rodrigues.
Uma audiência de instrução está agendada para o dia 2 de outubro de 2024, às 14h, na 2ª Vara de Peixoto de Azevedo.
Folie à deux
Considerado uma autoridade quando se trata em psiquiatria forense no Brasil, Guido Palomba tem mais de 15 mil laudos e pareceres emitidos, como o perfil psicológico de Francisco de Assis Pereira, nacionalmente conhecido como o Maníaco do Parque, e análise de personalidades criminais, como Elize Matsunaga e Suzane Von Richtoffen.
Ao Primeira Página, Dr. Guido afirmou que acredita na possibilidade de mãe e filho sofrerem de um transtorno chamado “folie à deux“, loucura a dois ou maldade a dois. O termo se popularizou na internet após o anúncio do lançamento da obra “Coringa: Delírio a Dois”. O filme estreia em 4 de outubro nos cinemas.
Estrelado por Joaquim Phoenix e Lady Gaga, o longa traz como pano de fundo o transtorno psiquiátrico raro descrito na literatura como a transferência de delírios e quadros psicóticos entre pessoas mais próximas. Veja abaixo trecho da entrevista:
“Estamos falando de uma mãe e um filho que praticaram juntos um delito dessa natureza. Existe um termo na psiquiatria forense que explica esse binômio: mãe e filho agindo com extrema brutalidade, chama-se ‘folie à deux’. Folie é loucura e deux é dois, ou seja, loucura a dois, descrita muito bem pelos franceses”.
Conforme Palomba, sempre existe um que é o indutor, e o outro que é o induzido.
“Então, alguém é chefe ali, não sei se é a mãe ou o filho porque não peguei o caso, mas há um indutor e sempre existe um grau de hierarquia entre os afetados. Por exemplo: mãe e filho, marido e mulher etc. Este caso, se estudado do ponto de visto psiquiátrico forense, obrigatoriamente passaria pelo estudo de um possível “folie à deux“. Não é que são dois loucos. São perturbados mentais do tipo folie à deux“.
Mãe e filho estão presos por matar Pilson Pereira da Silva, de 69 anos, e Rui Luiz Bogo, de 81, e ainda atingir um padre que passou por cirurgia na mão.
“Pode ter fatores desencadeantes, como políticos e ideológicos, mas apenas em indivíduos que são predispostos. Porque essa agressividade não se desencadeia em uma pessoa sadia, normal. Alguns casos, em algumas patologias, não têm recuperação. Eles gostam, sentem prazer por esse tipo de ação, e precisam fazer. Esses deformados, como eu falo, são condutopatas, ou seja, a patologia, a moléstia, está na conduta. Alguns têm prazer em fazer e têm prazer em contar e mostrar o que fez”.
Entenda o crime
As imagens do circuito de segurança do local mostram que havia pelo menos 10 pessoas na casa. Em determinado momento, é possível ver que algumas começam a correr e outras se abaixam, após ouvirem os disparos. Logo depois aparece uma mulher loira que atira em um homem.
A motivação
Segundo a Polícia Civil de Mato Grosso, um desacordo comercial ocorreu por causa de um imóvel locado. Ines teria uma dívida com o dono da casa.
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A filha de uma das vítimas afirma que a dívida de Ines seria em torno de R$ 60 mil. Já a filha de outro homem que foi morto, Janete Bogo, de 40 anos, diz que não acredita em mortes por engano.
“A pessoa que matou tinha terra próxima a do meu pai, e chegamos a ajudar essa criminosa financeiramente, por sermos vizinhos (…) Ela foi com a intenção de matar todo mundo e ela viu quem estava matando, e não tem essa de que matou errado, não. Ela sabia o que estava fazendo”, afirma Janete Bogo.
A reportagem entrou em contato com as defesas de Ines e Bruno, que optaram por não se manifestarem.
Fonte: primeirapagina