Cantar karaokĂȘ na frente dos outros requer coragem. VocĂȘ arrisca desafinar, errar o ritmo, passar um pouco de vergonha na frente dos amigos ou de desconhecidos num bar. Agora, pesquisadores da Universidade de AmsterdĂŁ analisaram o constrangimento Ășnico causado pelo karaokĂȘ para tentar entender o que acontece no nosso cĂ©rebro quando coramos.
Funcionou assim: dezenas de voluntĂĄrios jovens entre 16 e 20 anos foram convidados para participar de um estudo sobre o qual eles nĂŁo sabiam nada. Quando chegaram no laboratĂłrio, os adolescentes descobriram que teriam que cantar, de frente para uma cĂąmera, Let It Go, a mĂșsica do filme Frozen, ou alguma outra faixa que eles poderiam escolher.
Depois da performance, os voluntĂĄrios precisariam assistir Ă s suas sessĂ”es de cantoria ao lado dos outros jovens, enquanto estavam conectados a scanners cerebrais. AlĂ©m disso, sensores de temperatura na bochecha ajudavam a saber quando os participantes começavam a corar, aquilo que Charles Darwin chamou de âa mais humana de todas as expressĂ”esâ.
Hello, itâs me: a bochecha corada
HĂĄ duas grandes hipĂłteses entre os psicĂłlogos sobre o que leva alguĂ©m a corar. As bochechas vermelhas podem ser uma consequĂȘncia de pensar em como os outros estĂŁo nos vendo, como aparecemos para aqueles que nos observam, como Darwin pensava. Ou corar pode ser sĂł uma reação mais simples e espontĂąnea a se sentir exposto. O estudo do karaokĂȘ, publicado na Proceedings of the Royal Society B, chegou a uma resposta.
A lista de mĂșsicas do experimento para entender os motivos das bochechas vermelhas incluĂa Hello, da Adele, All I Want For Christmas Is You, da Mariah Carey, All The Things She Said, do girl group russo t.A.T.u, e a jĂĄ mencionada Let It Go. As cançÔes foram consideradas como difĂceis para cantar sem desafinar, pensadas especialmente para causar mais vergonha.
O estudo focou em jovens mulheres, jĂĄ que, das mais de 60 pessoas que se inscreveram para participar da pesquisa, sĂł duas eram do sexo masculino.
Uma semana depois das performances, os voluntĂĄrios voltaram para assistir os vĂdeos do karaokĂȘ, deles mesmos e de todos os outros participantes, enquanto estavam deitados numa mĂĄquina de tomografia. Os cientistas disseram que as outras pessoas estavam assistindo aos vĂdeos deles ao mesmo tempo que eles, o que nĂŁo era verdade, mas foi pensado propositalmente para causar mais vergonha.
As pessoas coraram mais assistindo a elas mesmas cantando do que vendo as outras, como jå era esperado. A expressão foi relacionada com mais atividade no cerebelo, ligado pelos pesquisadores à excitação emocional, e åreas ligadas à atenção.
Nada nas imagens cerebrais indicou que as bochechas vermelhas tenham a ver com pensar em como os outros estĂŁo nos julgando ou nos observando. Processos complexos sociais e cognitivos parecem nĂŁo ser necessĂĄrios para a bochecha corada.
De acordo com o estudo, corar provavelmente é só uma reação a se sentir exposto, mesmo, uma expressão de vergonha automåtica e natural. Não precisa sentir vergonha de ter vergonha.
Fonte: abril