A importância das vitaminas e minerais para o pleno funcionamento do organismo é algo cada vez mais reconhecido pela população. Mas muitas pessoas têm buscado nos multivitamínicos um atalho para o que elas acreditam ser uma deficiência no próprio organismo.
“Hoje temos um interesse exagerado na reposição de vitaminas. Algumas pessoas precisam repor tipos específicos de micronutrientes, mas isso não pode ser generalizado. O uso indiscriminado pode ocasionar danos a alguns indivíduos, como intoxicações, efeitos colaterais e reações alérgicas, além do gasto desnecessário que muitos têm”, alerta Roberta Frota, endocrinologista do Hospital 9 de Julho, de São Paulo.
Para quem acredita que o uso de multivitamínicos sem orientação profissional é sinônimo de saúde, uma pesquisa publicada em 26 de junho no periódico JAMA Network Open revelou que o uso diário desses suplementos foi associado a um risco 4% maior de morte do que o não uso.
O estudo contou com respostas de 390 mil americanos saudáveis sobre seu consumo de multivitamínicos, dividindo-os em três grupos: não usuários, usuários ocasionais e usuários diários.
Em 20 anos de acompanhamento houve quase 165 mil mortes. A pesquisa constatou que tomar multivitamínico não reduziu o risco de morrer de câncer, doença cardíaca ou cerebrovasculares.
“Não encontramos evidências para apoiar a longevidade melhorada entre adultos saudáveis que tomam multivitamínicos regularmente”, relataram os pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer, dos Estados Unidos, em suas descobertas. Entretanto, eles fizeram uma observação: “Não podemos excluir a possibilidade de que o uso diário [de multivitamínicos] possa estar associado a outros resultados de saúde relacionados ao envelhecimento”.
As vitaminas são essenciais para o organismo e uma dieta equilibrada fornece a grande maioria das que precisamos, sem necessidade de uso adicional de polivitamínicos. “Focar as intervenções nutricionais em alimentos, em vez de suplementos, pode fornecer os benefícios de reduzir a mortalidade que os multivitamínicos não podem fornecer”, disseram os pesquisadores.
Ao invés de saúde, doenças
Embora os multivitamínicos sejam frequentemente vistos como uma forma fácil de “completar” a dieta e garantir a ingestão de nutrientes essenciais, o uso indiscriminado pode trazer mais riscos do que benefícios, como:
Toxicidade: ingerir quantidades excessivas de algumas vitaminas, como A, D, E e K (vitaminas lipossolúveis), pode levar a efeitos colaterais graves, como náuseas, vômitos, diarreia e fadiga, além de danos ao fígado. A vitamina E, em altas doses, pode aumentar até mesmo o risco de hemorragia.
Afeta cérebro e rins: quando há exagero no consumo de vitamina D, o nível de cálcio no sangue pode se elevar, ocasionando alguns distúrbios, como alterações neurológicas e cálculo renal.
Interação medicamentosa: multivitamínicos podem interagir com medicamentos que você já toma, diminuindo ou aumentando seus efeitos.
Mascarar problemas: o uso indiscriminado pode mascarar deficiências nutricionais reais, dificultando o diagnóstico e tratamento adequado.
Interação entre vitaminas: a interação pode reduzir seu potencial antioxidante, contribuindo com o desenvolvimento de reações adversas e potencialização de manifestação de doenças.
O uso indiscriminado de multivitamínicos pode sobrecarregar especialmente os rins e o fígado, que são responsáveis pela metabolização e excreção de muitos nutrientes. O fígado pode ser afetado pelo acúmulo de vitaminas lipossolúveis, enquanto os rins podem sofrer com o excesso de minerais como cálcio e magnésio, levando a problemas como cálculos renais e insuficiência renal. Isolda Prado, médica nutróloga, diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) e professora de nutrologia da UEA (Universidade do Estado do Amazonas)
Alguns perfis precisam de mais cuidado
Algumas pessoas são ainda mais suscetíveis aos perigos do uso por conta própria. São eles:
- Pacientes com doenças renais;
- Pacientes hepáticos (rins e fígado);
- Pessoas com distúrbios na coagulação do sangue;
- Idosos;
- Crianças;
- Mulheres grávidas ou lactantes;
- Pessoas que já tomam outros medicamentos;
- Pacientes cardíacos;
- Diabéticos;
- Alérgicos.
Nas gestantes, por exemplo, o excesso de vitamina A pode causar malformações congênitas no bebê. Em quem tem doenças renais, o excesso de fósforo e potássio pode sobrecarregar ainda mais os rins já comprometidos. Já em pessoas alérgicas, é preciso ter cuidado com os corantes e adoçantes artificiais usados no produto, pois podem causar reações alérgicas ou sensibilidades.
“Para cada fase da vida, patologia e sexo há uma recomendação de ingestão. E nós, profissionais de saúde, fazemos uma investigação detalhada para avaliar a real necessidade de suplementar”, explica Erica Bastos Queiroz, nutricionista pela Uneb (Universidade do Estado da Bahia) e especialista em nutrição esportiva funcional e clínica.
Exames laboratoriais podem ser recomendados para avaliar os níveis de vitaminas e minerais no corpo e determinar deficiências ou excessos, o que ajuda na escolha do suplemento correto e na dosagem adequada.
“As hipovitaminoses (falta de uma ou mais vitaminas) são raras, pois a quantidade diária que necessitamos é muito pequena e na maioria das vezes é suprida através da alimentação adequada —com exceção da vitamina D, pouco presente na alimentação”, diz Frota.
Tem algum tipo menos problemático?
As fontes consultadas por VivaBem são categóricas em dizer que não são a favor do uso de vitaminas sem necessidade em nenhuma situação, embora ressaltem que o excesso de vitaminas lipossolúveis, que ficam armazenadas no tecido adiposo, seja mais perigoso que a de hidrossolúveis, excretadas pela urina.
“É sempre preferível buscar orientação profissional antes de iniciar qualquer suplementação, sobretudo quando ultrapassam as doses mínimas desses nutrientes”, reforça Isolda Prado.
A nutróloga explica que mesmo a vitamina C (hidrossolúvel), muito consumida pelos brasileiros como forma de prevenir gripes e resfriados, não está isenta de perigo. Embora seu excesso seja excretado pela urina, em altas doses pode comprometer o funcionamento dos rins. O zinco, mineral que costuma acompanhar a vitamina C em muitas composições, também é perigoso em excesso, podendo causar deficiência de cobre e problemas imunológicos.
O uso de vitaminas não faz a pessoa ficar forte e saudável, este é um equívoco que devemos evitar. O que melhora a saúde é o estilo de vida com alimentação adequada (variada com frutas, legumes, verduras e proteínas animais), exercícios físicos, ausência de fumo e ausência de álcool em excesso. Roberta Frota, endocrinologista
Uma alimentação saudável fornece uma combinação equilibrada de nutrientes, fibras e fitoquímicos que não podem ser replicados por multivitamínicos. Esses nutrientes trabalham sinergicamente para promover a saúde e prevenir doenças.
“Além disso, os alimentos fornecem energia e outros benefícios que os suplementos não conseguem oferecer. Contar apenas com multivitamínicos pode levar a uma alimentação deficiente e, em longo prazo, a problemas de saúde”, alerta Prado.
Fonte: uol