Ninguém sai de casa para viajar pensando que vai ter o voo cancelado, a bagagem extraviada ou que vai parar no hospital em um país estranho. Mas pode acontecer. Por isso, já diz o surrado ditado, é melhor prevenir do que remediar. Caso haja uma emergência, contar com uma rede de apoio para lidar com as dificuldades e recuperar os gastos financeiros faz toda a diferença. E é aí que mora o benefício do seguro viagem, item cada vez mais indispensável para quem viaja.
A Viagem e Turismo preparou um guia para te ajudar a entender por que o seguro viagem se tornou tão importante e quais aspectos você precisa se atentar na hora de contratar um. Confira:
O que é um seguro viagem?
O seguro viagem é um produto bastante difundido no mercado de turismo e que o viajante compra pelo período em que estará longe de casa. O seguro costuma cobrir não apenas despesas médicas e odontológicas, mas também imprevistos como cancelamento de viagem, perda de bagagem e repatriação médica durante o tempo em que o viajante estará na estrada. Cada empresa define o que estará segurado (despesas médicas, farmacêuticas, hospedagem de acompanhante etc.) e valores máximos para cada uma das coberturas.
Caso eu precise acionar o seguro, como funciona o atendimento?
Existem duas possibilidades: por rede referenciada, onde a seguradora indica um prestador de serviço, como no caso de clínicas e hospitais; ou por reembolso, quando o viajante tem a liberdade de escolher qualquer prestador de serviço e ser posteriormente ressarcido.
De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão que controla e fiscaliza o mercado de seguros, não existe nenhuma obrigatoriedade para que as empresas ofereçam ambas as modalidades, ainda que as principais seguradoras do mercado o façam. Na hora da contratação, vale conferir se tanto a rede referenciada quanto o reembolso estão disponíveis. No caso da rede, vale conhecer antecipadamente a lista de prestadores (que deve ser disponibilizada online pela empresa) e, no caso de reembolso, o viajante precisa estar preparado para pagar pelo atendimento em caso de imprevistos.
Dada a possibilidade de escolha, o mais recomendado é entrar em contato com a central de atendimento da seguradora, avalia Taís Mahalem, sócia-diretora de E-Commerce e Digital da seguradora Coris. “A central é preparada para identificar os sintomas e organizar o atendimento correto na sua rede, já validada pela qualidade dos serviços. [Além disso], o viajante não precisará pagar do seu próprio bolso. Isso faz uma diferença enorme em casos de internação, cirurgia ou exames que custam muito caro fora do país e muitas vezes ultrapassam os limites dos cartões de crédito”, pontua. Um terceiro motivo é evitar a dor de cabeça que pode ser levantar documentos e laudos de hospitais e clínicas para pedir o reembolso.
Por que o seguro viagem se tornou essencial?
O primeiro ponto é que há destinos em que portar um seguro é obrigatório. É o caso dos 26 países europeus que compõem o Espaço Schengen (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria Islândia, Itália, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Noruega, Países Baixos, Polônia, Portugal, República Tcheca, suécia, Suíça), que exigem que todo viajante esteja segurado em, no mínimo, € 30.000. cuba e Catar também estão entre os países onde é obrigatório adquirir um seguro viagem.
Mesmo em países onde o seguro não é obrigatório, viajar sem uma cobertura é correr um risco desnecessário. O exemplo mais clássico são os Estados Unidos, onde os custos médicos são notoriamente elevados. Por lá, uma simples consulta pode custar em média US$ 500, enquanto o preço de uma internação hospitalar para tratar uma apendicite ultrapassa os US$ 23.000, segundo dados do Institute for Health Metrics and Evaluation e do Peterson-KFF Health System Tracker.
Ainda assim, o brasileiro não era adepto da contratação do serviço. “Somos um povo otimista que pensa que nada vai acontecer e por isso acha que não há necessidade de pagar por uma coisa que não vai ser usada”, pontua Taís Mahalem.
A pandemia de Covid-19, porém, impactou significativamente a nossa percepção sobre o seguro viagem, pondera Victor Bernardes, diretor de Vida e Previdência da SulAmérica. “Os brasileiros passaram a se preocupar mais com qualidade de vida, segurança e a dar mais importância à própria saúde e de seus familiares”, diz. Entre janeiro e outubro de 2023, a SulAmérica registrou aumento de mais de 200% na procura pelo seguro viagem em comparação com 2022.
O mesmo ocorreu na Allianz, onde a procura por seguros viagem dentro do Brasil aumentou 61% em 2022. Para Gabriel Nascimento, gerente de Produto e Inovação para Travel na seguradora, o aumento da conscientização dos brasileiros sobre os riscos associados às viagens e a recuperação do setor turístico no pós-pandemia, com a preferência por viagens mais curtas e dentro do país, podem ajudar a explicar esse salto. Na edição 2023/2024 do Prêmio O Viagem e Turismo, a Allianz foi eleita pelo público como Melhor Seguro Viagem do mercado.
Nesse novo contexto, outro fator que tem se mostrado decisivo na hora de optar por um seguro viagem é a possibilidade de contar com suporte online ou telefônico 24 horas por dia e em português, de onde quer que o viajante esteja. “Esses serviços podem incluir atendimento médico por telefone, assistência via telemedicina, orientação em caso de necessidade de hospitalização, coordenação de tratamentos e até mesmo repatriação médica em casos graves”, enumera Gabriel.
Preciso contratar mesmo para viagens nacionais?
A resposta é sim. Isso porque o seguro viagem pode auxiliar em situações de emergência, especialmente quando o plano de saúde do viajante não inclui cobertura nacional (vale checar se esse é o seu caso) ou em situações em que o SUS apresenta tempos de espera longos (impossíveis de prever).
Vale lembrar que o Brasil conta hoje com cerca de 50,9 milhões de beneficiários inseridos em planos de saúde médico-hospitalares, o que corresponde a uma taxa de cobertura de 25% da população. Para que um seguro viagem tenha validade, o viajante precisa estar a uma distância mínima da sua residência – no caso da Coris, essa distância é de 70 km, mas pode variar de empresa para empresa.
No que eu devo me atentar na hora de contratar um seguro viagem?
A Superintendência de Seguros Privados (Susep) define que seguros viagem apresentem, no mínimo, a cobertura de despesas médicas hospitalares e/ou odontológicas para rotas internacionais. Não existem, porém, exigências específicas para viagens nacionais.
Assim, cada consumidor deve verificar as apólices disponíveis e se elas atendem às suas necessidades. A Susep recomenda, principalmente, atenção aos valores cobertos (que devem atender às regulamentações locais e serem compatíveis com as prováveis despesas em cada destino), aos riscos excluídos (por exemplo, acidentes decorrentes da prática de esportes radicais, como o esqui) e às regras de utilização dos serviços de assistência (para evitar surpresas se a necessidade de acionar o seguro surgir).
Também vale confirmar possíveis restrições da apólice, como períodos de carência e o tipo de cobertura para condições pré-existentes, se a apólice oferece assistência 24 horas e a reputação da seguradora, que pode ser conferida no site Reclame Aqui.
Qual a política em caso de condições pré-existentes?
Suponhamos um viajante que tenha diabetes e, em uma viagem internacional, precisou de atendimento médico por conta de uma descompensação nos níveis da glicose. Se o quadro clínico for de urgência ou emergência, o seguro tem a obrigação de garantir o atendimento, dentro dos valores e condições contratadas, no mínimo até a estabilização da sua condição de saúde, de forma que a pessoa possa continuar a viagem ou voltar à sua residência. É isso o que determina a Susep. É importante estar atento para o fato de que algumas seguradoras definem um limite para a cobertura de doenças pré-existentes.
No caso de viagens no Brasil ou eventos menos graves, não existem regras específicas e a cobertura pode variar de acordo com a política de cada seguradora. Por isso, é importante “comunicar de forma completa e precisa todas as informações sobre condições médicas pré-existentes durante o processo de contratação do seguro para garantir uma cobertura adequada”, pontua Victor Bernardes, da SulAmérica.
Como é calculado o preço?
O valor varia de acordo com o destino, a duração da viagem e a cobertura – as mais abrangentes e com limites maiores podem elevar o preço do seguro, mas também garantir mais tranquilidade. A inclusão de atividades de risco, como a prática de esportes radicais, bem como características do viajante, como idade e se é gestante, também podem impactar nos valores.
E se eu quiser praticar esportes radicais?
Os riscos envolvidos em atividades como mergulho ou esqui são bem diferentes de uma viagem que envolve visitas a museus. Assim, quem pretende praticar esportes precisa procurar por uma apólice específica – não são todas as empresas que oferecem a cobertura, nem para todas as modalidades.
A SulAmérica, por exemplo, inclui a prática de esportes radicais, de aventura ou de inverno automaticamente em seus planos, desde que praticados em locais oficiais e regulamentados. O mesmo vale para a Coris, que cobre mais de 50 modalidades esportivas. Outras seguradoras que também trabalham com a cobertura esportiva são a Assist Card e a Affinity. A Allianz oferece a cobertura para esportes de inverno em pistas devidamente regulamentadas.
As apólices oferecidas pelo cartão de crédito funcionam?
Empresas como Mastercard, Visa e Elo oferecem seguro viagem gratuito quando as passagens são compradas com cartões elegíveis das bandeiras. Ainda assim, é preciso se atentar às regras de cada cartão e verificar a necessidade de contratar proteção adicional. Atenção para um erro bastante comum por parte dos viajantes: o fato da pessoa ter adquirido a passagem com o cartão de crédito não significa que ela esteja automaticamente segurada. O viajante deve entrar em contato com a operadora do cartão antes da viagem para solicitar o bilhete de seguro. Sem o bilhete do seguro, o viajante não está coberto.
Visa e Mastercard, por exemplo, oferecem uma cobertura para despesas médicas de US$ 25.000 para clientes dos cartões Platinum, valor que pode ser insuficiente para eventos mais graves em países como os Estados Unidos. Já os cartões Black costumam cobrir ocorrências de até US$ 150.000 por pessoa.
Importante notar, também, quais as coberturas das apólices. Mais limitados, os seguros dos cartões não costumam cobrir acidentes causados pela prática de esportes ou, em alguns casos, eventos como o extravio de bagagem e cancelamento de viagem, a depender do seu tipo de cartão.
Vale ficar de olho, ainda, se o seguro é válido para viagens nacionais (das três principais bandeiras, somente a Elo oferece o benefício) e como funcionará a cobertura dos custos (as três empresas oferecem a possibilidade de apoio tanto por rede referenciada, caso esteja disponível no local de destino, quanto por reembolso, mas o ideal é contatar a central de atendimento para entender a melhor maneira de prosseguir com o acionamento do seguro).
Quais são os direitos de quem contrata um seguro viagem?
Segundo a Susep, os direitos do viajante são aqueles que constam nas condições gerais do seguro contratado, por isso a importância de ler as regras e acordos com muita atenção.
Caso algum direito seja violado ou surjam problemas na relação viajante e seguradora, como negativas, atrasos no pagamento ou divergência de valores pagos, consumidores podem registrar reclamações na plataforma Consumidor.gov.br. A plataforma é gerida pela Secretaria Nacional do Consumidor e acompanhada pela Susep.
A Susep esclarece que não trata as reclamações de forma individualizada, mas utiliza os registros efetuados, inclusive sobre uma mesma empresa e/ou incidente, para planejar suas ações de supervisão, que visam identificar e corrigir eventuais problemas de conduta das seguradoras.
O que eu faço se os meus gastos ultrapassarem o valor contratado?
Nesse caso, o segurado será responsável por bancar a diferença. Por isso, é essencial escolher uma cobertura que case com o destino e o perfil do viajante. “Imagine viajar para os Estados Unidos com um plano de 15 mil dólares, como existe no mercado? O viajante poderá ter um seguro-viagem, mas não estará protegido”, aponta Taís Mahalem, da Coris.
E se eu pegar Covid-19, o seguro cobre?
Antes da Covid-19 aparecer e revirar o mundo, as pandemias, endemias e epidemias eram excluídas de todas as coberturas de seguros. Desde então, as seguradoras correram para oferecer coberturas específicas para eventos relacionados à Covid-19. Hoje, com o fim da emergência de saúde declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Covid-19 é considerada como qualquer outra doença e passou a ter cobertura por grande parte das seguradoras – mas existem, sim, empresas que ainda oferecem a cobertura em casos de Covid apenas como adicional.
Se eu ficar doente antes de uma viagem, seja Covid ou mesmo se eu sofrer um acidente, o seguro cobre?
Cada seguradora tem a sua particularidade. Algumas oferecem automaticamente a cobertura das despesas de cancelamento de viagem em casos médicos ou pessoais, outras a colocam como um adicional.
De maneira geral, apenas enfermidades mais graves ou que sejam caso para internação do segurado ou de familiares antes da viagem, bem como a necessidade de apresentação do segurado diante da Justiça, estão incluídas dentro do pacote do cancelamento.
O mais indicado no momento da compra de um seguro é solicitar uma cobertura adicional de cancelamento por diversas causas, que pode incluir acidente a caminho do aeroporto, cancelamento de férias pela empresa, divórcio, aborto espontâneo e até cancelamento de casamento.
Fonte: viagemeturismo