📝RESUMO DA MATÉRIA
- Alguns dos colaterais provocados pela sarna são: coceira, erupção cutânea e infecções secundárias, podendo ser grave
- A sarna uma “crescente no mundo todo nos últimos anos”
- Um creme feito de permetrina, um inseticida piretroide, é um dos medicamentos mais recomendados para o tratamento de sarna, porém é comum algumas falhas, como a resistência de medicamentos
- As pessoas tratadas com 2 doses de ivermectina eliminaram cerca de 98% da sarna
- A ivermectina não está sendo utilizada como forma de tratamento principal para sarna da maneira que deveria, devido à sua difamação durante a pandemia de COVID-19
🩺Por Dr. Mercola
O surgimento da sarna é causado pelo ácaro da coceira humana (Sarcoptes scabiei var. hominis), que provoca uma coceira intensa e erupção cutânea. A infestação parasitária, que é muito contagiosa, o resultado de pequenos ácaros que se penetram na pele e colocam ovos. A sarna, que há um tempo era considerada uma enfermidade presente apenas nas populações em condições mais precárias, hoje em dia está aumentando cada vez mais, inclusive nos países desenvolvidos.
Embora estejamos cientes do aparecimento crescente da sarna, as razões por trás disso ainda não são de fato claras. Mas alguns problemas com o tratamento podem ser a causa, como a difamação da ivermectina durante a pandemia de COVID-19.
Casos de sarna estão aumentando no mundo todo
Uma revisão de literatura publicada no Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, observou que a sarna teve uma “crescente no mundo todo nos últimos anos.” A maioria dos 43 estudos revistos registrava dados de países com índice de desenvolvimento humano médio ou baixo. A maior prevalência de sarna foi cerca de 71%, observado entre crianças e adultos de Gana.
Um internato da Indonésia, registrou a prevalência mais elevada, de 76,9%, onde apenas as crianças tinham sido incluídas. Segundo os investigadores, “A sarna ainda é considerada uma enfermidade grave e com uma crescente contínua que ocorre no mundo inteiro e concentrada nos países em desenvolvimento.” Dados da alemanha, França, Noruega, Croácia, entre outros países, também divulgaram um crescente aumento nos casos de sarna nos últimos 10 a 20 anos.
Mais de 200 milhões de pessoas sofrem de sarna em determinado momento, mas esse número aumenta para mais de 400 milhões de pessoas todos os anos. Também estão surgindo casos em toda a Europa, sobretudo no Reino Unido. Segundo a Wired:
“Kamila Hawthorne, presidente do Royal College of GPs do Reino Unido, disse à WIRED que as incidências durante as semanas por 100.000 habitantes na Inglaterra se mantém bem acima da média nacional e de 5 anos. Segundo seus relatórios de vigilância mais recentes, foram detalhados 1.926 casos no país entre dezembro e janeiro.
O aumento de casos no Reino Unido é decorrente de uma maior e mais longa tendência. Os casos de sarna aumentado em todo o mundo durante alguns anos.”
Como a sarna se propaga e quais seus riscos?
A sarna se propaga devido ao contato de uma pessoa com outra. Essa propagação ocorre através de atividade sexual, além de áreas onde as pessoas mantêm contato, como lares de idosos, prisões e creches. Embora o contato seja um dos principais meios de propagação, isso também pode ocorrer de maneira indireta através de roupas, toalhas ou lençóis partilhados, embora isso não seja tão comum.
Na maioria dos casos, apenas 10 a 15 ácaros podem infectar uma pessoa, mas eles entram na pele no local onde as fêmeas põem os ovos. Os ovos se transformam em ácaros com cerca de 1 a 2 semanas, após 3 a 4 dias. Em geral, os sintomas não ocorrem por 4 a 6 semanas após a contaminação em pessoas que nunca tiveram antes, sendo resultado de uma reação alérgica às proteínas dos ácaros. Os sintomas podem incluir:
- Coceira intensa, podendo ser pior durante a noite
- Erupções cutâneas
- Linhas ou túneis finos na pele
- Pequenos inchaços na pele
Em pessoas com sistema imunológico debilitado, pode ocorrer aparecimento de sarna. Esse tipo de infestação pode envolver milhões de ácaros e manchas presentes na pele, porém, muitas vezes não apresentam coceira. A sarna crostosa ou sarna noruega se espalha de maneira muito rápida, através de roupas e móveis, podendo provocar infecções secundárias, que podem ser fatais.
Porém, mesmo as infestações mais comuns de sarna podem provocar infecções bacterianas, infecção na pele, impetigo e até septicemia. Na Austrália, um hospital registrou uma taxa de mortalidade em 30 dias de 2,5% para aqueles internados com sarna grave ou crostosa. Segundo um relatório da Faculdade Reviews:
“A infecção bacteriana secundária da pele por Streptococcus pyogenes pode ser responsável pelo aparecimento de septicemia e doenças imunomediadas, como glomerulonefrite pós-estreptocócica aguda (APSGN), além de febre reumática aguda. A septicemia relacionada à sarna pode de fato causar mortalidade.
Os ácaros da sarna liberam inibidores do complemento na epiderme, que alguns acreditam potencializar infecções estreptocócicas e estafilocócicas, variando desde entidades clínicas de impetigo até celulite, abscessos, fascite necrosante e, por fim, septicemia.”
Outras doenças que também foram associadas a infecções cutâneas por sarna foi a doença renal e cardíaca reumática. Michael Head, pesquisador sênior em saúde global da Universidade de Southampton, no Reino Unido, disse à Wired: “Há algumas ligações com os sistemas cardíaco e renal. Parece ser consequências secundárias de uma infecção inicial de sarna.”
Alguns fatores responsáveis pela propagação da sarna são falhas no tratamento e resistência aos medicamentos
Devido a falhas no tratamento, falta e atrasos de tratamentos, a sarna é muitas vezes uma enfermidade sem controle, que, em geral, apresenta uma grande propagação. O creme feito de permetrina, um inseticida piretroide, é um dos medicamentos mais recomendados para o tratamento de sarna.
Estudos realizados em animais sugerem, que os piretroides podem trazer danos neurológicos, imunológicos e reprodutivos, além disso, algumas pesquisas do Canadá sugerem, que os piretroides podem estar ligados com problemas de comportamento em crianças.
Um aumento nos níveis urinários em 10 vezes, causado por um produto específico de degradação de piretroides, duplicou o risco da criança de apresentar problemas comportamentais, como desatenção e hiperatividade, num estudo. Segundo pesquisa publicada na Life (Basel), além dos riscos para a saúde, a resistência aos medicamentos também é um problema.
“Existe uma tendência crescente de sarna por formigas resistentes a medicamentos, decorrente do uso prolongado ou de overdose de escabicidas, resultando em procedimentos de tratamento de maior duração, visitas repetidas a prestadores de cuidados de saúde, custos elevados de saúde e estigmatização social por um número cada vez maior de pacientes,” explicaram os pesquisadores.
O creme feito de permetrina, além de ser difícil de utilizar, muitas vezes não consegue eliminar a infestação. Jo Middleton, pesquisadora da Brighton and Sussex Medical School, disse à Wired:
“É muito difícil de utilizar. Tem que passar no corpo todo, deixar por 12 horas sem lavar, e repetir o processo após 7 dias. A realidade é que está sendo um grande fracasso, pois as pessoas utilizam esse medicamento e não observam a eliminação da sarna e acabam por infectar outras pessoas, por ter uma aplicação muito difícil.”
Em um estudo sobre o tratamento de sarna com permetrina e outros medicamentos, incluindo ivermectina, crotamiton, benzoato de benzilo, malatião, enxofre ou lindano, a prevalência de falha do tratamento foi de 15,2%, onde aumentou para 26,9% na região do Pacífico Ocidental. Além disso, a falha no tratamento com permetrina aumentou 0,58% por ano. Segundo o estudo, publicado no British Journal of Dermatology:
“O aumento na falha do tratamento sugere uma redução da suscetibilidade dos ácaros a diversos medicamentos, mas os motivos dessas falhas quase nunca são de fato avaliados. Os testes de suscetibilidade ao escabicida devem ser implementados em futuros estudos.”
Em 98% das vezes, a sarna pode ser eliminada com 2 doses de ivermectina
A ivermectina é um medicamento antiparasitário que é muito utilizado e está na lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS), também aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA.
A ivermectina é muito utilizada no tratamento de doenças parasitárias em países de baixa e média renda, incluindo: oncocercose, estrongiloidíase e outras doenças causadas por helmintíases transmitidas pelo solo ou alguns vermes. O medicamento também é utilizado para o tratamento de sarna e piolhos.
“Conforme a Sarcoptes scabiei se apresentou menos sensível à permetrina, os médicos começaram a prescrever ivermectina oral (OI) como forma de tratamento principal,” segundo os pesquisadores em Clinical and Experimental Dermatology. “As diretrizes sugerem OI 200 µg kg-1 em 2 doses, com intervalo de 1 semana.” Eles conduziram um estudo comparando 1 dose única de ivermectina com 2 doses e descobriram que o regime de 2 doses conseguiu eliminar a sarna em 98% das pessoas tratadas.
Porém, mesmo com uma eficácia próxima de 100%, a ivermectina não está sendo utilizada como forma de tratamento principal para sarna da maneira que deveria, devido à sua difamação durante a pandemia de COVID-19. Desde 1987, foram utilizadas 3,7 mil milhões de doses de ivermectina nas pessoas no mundo inteiro.
Além disso, o total de doses de ivermectina distribuídas é equivalente a 1/3 da população mundial, sendo “considerada segura para uso em humanos.” A ivermectina ainda tem propriedades antivirais e anti-inflamatórias, o que amplia ainda mais seu potencial de uso.
Mas o Dr. Pierre Kory, que faz parte do grupo que formou o Front Line COVID-19 Critical Care Working Group (FLCCC), não teve êxito quando implorou no início da pandemia ao governo dos EUA para que revisasse os dados abrangentes sobre a ivermectina para prevenir o COVID-19, evitar a progressão dos sintomas iniciais e ajudar no tratamento de pacientes em estado grave.
Desde então, a campanha contra a ivermectina só cresceu, com os profissionais de saúde a recomendaram sendo ridicularizados, ameaçados e negados a utilizar o medicamento no tratamento de COVID-19. Isso persistiu para manter a ivermectina fora do alcance das pessoas que a necessitavam para o tratamento de sarna. Segundo a Wired:
“No sul global, um medicamento oral controla de maneira eficaz a sarna, sendo esse um poderoso antiparasitário chamado ivermectina… No entanto, esse medicamento não é usado de forma habitual para o tratamento da sarna no Reino Unido, o que os investigadores atribuem às repetidas alegações falsas a respeito do seu potencial uso no tratamento de COVID -19.
A certa altura, endossada por Donald Trump, a suposta utilidade da ivermectina contra o vírus SARS-CoV-2 nunca foi apoiada por provas fiáveis, e Middleton acredita que isso está, para inibir a sua utilização em condições onde está de fato comprovado que funciona.
“Algumas pessoas afirmavam que tinha eficácia contra o COVID,” diz ele. ‘Para tentar controlar, outras pessoas o descreveram como uma pasta de cavalo, por também ser um medicamento utilizado pelos veterinários. Isso então trouxe uma reputação negativa. Porém, ainda esperamos que seja mais utilizado contra a sarna.”
Só para constar, a ivermectina além de funcionar contra o COVID, também se demonstrou eficaz na redução de 74% no excesso de mortes nos 10 estados onde foi utilizada de maneira mais intensa. É possível que também seja uma solução para o problema crescente da sarna no mundo.
Fonte: mercola