Uma gravidez muda muitas coisas no corpo de uma mulher. Agora, cientistas também comprovaram que ela faz a gestante envelhecer.
Pode parecer óbvio para alguém que já esteve grávida, mas ainda é um conceito pouco estudado na literatura científica.
O custo de cada gravidez pode ser de 2 a 3 meses da sua idade biológica. É isso que mostra um novo estudo, publicado no periódico científico Proceedings of National Academy of Sciences. Os pesquisadores analisaram amostras de DNA e históricos reprodutivos de 1735 pessoas, colhidas em uma pesquisa de saúde de longo prazo na Filipinas, para investigar como a gravidez afetava o corpo.
Envelhecimento biológico
A sua idade biológica não é a mesma que sua idade cronológica – não dá para medir ela pela quantidade de aniversários que você fez. A idade biológica é uma medida de o quão velhos os órgãos e células estão, baseados em uma análise bioquímica.
Certas coisas na vida podem fazer com que essa idade dê pulos maiores do que o esperado – doenças graves, traumas ou períodos de estresse intenso. Como seu corpo realoca grandes quantidades de energia e recursos para lidar com esses desafios, você acaba sentindo isso biologicamente.
Um dos processos mais fisicamente exigentes pelo qual um corpo humano pode passar é ter que gerar uma pessoinha inteira do zero, em nove meses. O estudo confirma a ideia de que a gestação é fisicamente desgastante (o que toda grávida sabe), e também a hipótese dos cientistas de que a gestação tem um custo para a idade biológica.
Para comprovar essa tese, os pesquisadores analisaram o DNA dos participantes. Nosso genoma – os genes que compõe nosso DNA – são como uma grande fileira de botões. Já o nosso epigenoma é uma folha de instruções que diz para as células quais botões precisam ser ativados e quando – todas as nossas células têm o mesmo DNA, mas a forma e função de cada uma é diferente, e esse processo de ativação e desativação de genes é controlado pela chamada epigenética.
Essa marcação geralmente acontece por meio de metilação, um mecanismo em que que pequenas marcas químicas chamadas grupos metil se ligam a uma seção do DNA.
Os botões de genes que precisam ser apertados mudam constantemente em resposta ao nosso ambiente e experiências. Então, esses grupos metil precisam ser movimentados e substituídos com frequência. Conforme envelhecemos, este processo para de ser tão preciso e começa a dar alguns erros –e os grupos metil se acumulam em alguns locais e somem em outros.
Ao recolher uma amostra de sangue e contabilizar marcadores de metil em locais-chave ao longo do código genético, os cientistas podem calcular a idade epigenética de uma pessoa através de um conjunto de algoritmos chamados “relógios”.
1735 filipinos, sendo 825 mulheres e 910 homens, todos com cerca de 20 anos, tiveram as amostras de DNA analisadas. Os pesquisadores encontraram grandes diferenças no número de alterações epigenéticas das mulheres que já foram gestantes. No geral, elas eram de 2 a 14 meses biologicamente mais velhas do que as que nunca engravidaram.
Por outro lado, nenhum dos homens teve uma diferença significativa quando foram pais – isso mostra que o responsável pelo envelhecimento não é um estresse com a situação da paternidade ou maternidade, e sim uma demanda biológica do corpo.
O perfil reprodutivo das gestantes era bem diferente – algumas tinham passados por várias gestações, outras estavam em suas primeiras. Os pesquisadores também levaram isso em conta e fizeram novas análises. Dessa vez, eles identificaram que mulheres com mais gestações tinham uma mudança maior na idade biológica, e que uma única gravidez envelhecia a mulher de 2 a 3 meses.
Mas as mães em potencial não precisam ficar desesperadas. Uma idade epigenética ligeiramente mais elevada durante a gravidez não quer dizer que você vá sofrer com mais problemas de saúde lá na frente. Outras pesquisas até mostram que esse envelhecimento pode ser revertido alguns meses depois do parto, após o período de maior estresse para o corpo.
Quem diria que gravidez daria trabalho, né?
Fonte: abril