A compra milionária feita por duas empresas no sudoeste do país, pode gerar um prejuízo imenso para os agricultores mato-grossenses. Em Jaciara, a dívida com apenas dois agricultores pode ultrapassar R$ 12 milhões.
O acordo foi firmado há três anos e, ainda hoje, os produtores esperam a justiça para tentar resolver a situação. A angústia dos credores nos casos de recuperação judicial no estado é destaque no Patrulheiro Agro desta semana.
O agricultor Rogério Berwanger, conta que em 2021 vendeu praticamente 50% da soja e cerca de 40% do milho. Na época, a produção era estimada em R$ 9 milhões e a empresa os procurou para fazer um acordo de parceria judicial.
“A empresa não paga e a justiça também não decreta falência. Nós passamos um sufoco, corremos ao banco para honrar alguns compromissos de adubo que tinha vencido, prorrogamos algumas coisas para o próximo ano, mas foi aquela tortura psicológica”, conta o produtor.
Ainda de acordo com Rogério, “foi igual puxar o tapete, você tinha um valor a receber e do dia para noite, você não tinha mais nada nas mãos. Essa é a parte ruim da recuperação judicial para quem é credor”.
Na época, Rogério negociou 50 mil sacas de soja e 50 mil sacas de milho que estavam dolarizados para FG Brasil e mais 10 mil sacas de soja para uma empresa do Rio de Janeiro. As duas entraram com pedido de recuperação judicial.
“Até hoje estamos aguardando a justiça deliberar sobre o assunto, porque o produtor quer receber a dívida dele”, frisa Rogério.
O agricultor Giovanni Fritsch também é credor da mesma empresa, que comprou aproximadamente 15 mil sacas de soja naquele período.
“Fizeram promessa de ir ressarcindo devagarinho o valor, entrar no mercado de novo para comprar e conforme ia comprando e pagando, um pouco a mais no produto, ia tirando o prejuízo do agricultor. Aí entrou com a RJ e não pagaram mais ninguém e todo mundo ficou no prejuízo”, afirma.
Mato Grosso integra a lista dos 17 estados produtores que tiveram aprovação do Conselho Monetário Nacional (CMN) para a renegociação de até 100%das parcelas que vencem este ano de operações de crédito rural relacionadas à produção de soja, milho, leite e carne. A medida vinha sendo solicitada pelo setor produtivo diante dos prejuízos causados pelo El Niño.
Em nota, o CMN afirmou que a negociação autorizada abrange operações de investimentos cujas parcelas com vencimento em 2024 podem alcançar o valor de R$ 20,8 bilhões em recursos equalizados; R$ 6,3 bilhões em recursos dos fundos constitucionais e R$ 1,1 bilhão em recursos obrigatórios.
O custo será de R$ 3,2 bilhões, distribuídos entre os anos de 2024 e 2030. Metade para a agricultura familiar e metade para a agricultura empresarial. O custo efetivo será descontado dos valores a serem destinados para equalização de taxas do plano safra 2024/2025.
“Eu mesmo sou vítima da primeira RJ que aconteceu no Brasil há 17 anos atrás e não recebi nada até hoje. Nós não concordamos com esse modelo de RJ que está colocado. Citam como se fosse o produtor rural que está fazendo RJ e sabem que não é verdade. O produtor rural é vítima, a grande maioria aquele que só faz atividade primária, é vítima. Acho cabuloso citar o nome de uma entidade, nós nunca defendemos caloteiros, nunca defendemos uma coisa errada, sempre defendemos o correto”, finaliza o presidente da Aprosoja Brasil, Antônio Galvan.
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Fonte: canalrural